sábado, 12 de dezembro de 2009

Coisas

Seguindo meu padrão "fim de ano", a correria me deixou distante daqui.
Então listo rapidamente como estou.
As coisas vão indo bem. As coisas andam bagunçadas. As coisas andam se encaminhando. As coisas andam meio atrapalhadas. Tive um semestre muito bom. Um ano muito bom. E uma vida, até agora, muito boa. As coisas andam meio coisadas. As coisas andam como devem andar. Sampa, aqui vou eu!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Não escrevo

Estou escrevendo menos. E há um bom motivo para isso. Acho que tem haver com a minha vida estar melhor. Daí tenho menos tempo para me preocupar em escrever. Ou talvez seja a faculdade. Estudar Letras me faz conhecer os grandes, me faz ver o quanto sou pequeno. Sem contar, é claro, com a falta de critério claro pra dizer o que é bom. Pois ficar a mercê disso assusta. Mas também não estou fazendo muitos exercícios físicos ultimamente. Sedentarismo demais cansa. Também há o fato de não querer. Tentar demais enjôa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Do amor que tenho

Acho que estávamos deitados. Os corpos pareciam flutuar, mas é quase certo que estavam repousados lado a lado. Eram mentes interligadas e acho que estávamos sorrindo. Lembro que talvez pudéssemos estar pensando, inclusive a mesma coisa. Pensamentos sobre futuro, talvez. Ao olhar nos seus olhos lembro de ter visto algo que não sei. Traduzo aqui sem detalhes, pois seria impossível relembrar em palavras o que minha mente sonha em "flash's" surreais. Mas posso afirmar que tinha um pouco de serenidade, talvez esperança e muita fé. Acho que a fé pode ser mais fiel ao que tento expressar. Algo quase divinizado mesmo, sabe? Os olhos piscantes, lentos, fundos, aspecto calmo. Algo que acalma e traz um "sentir bem".
Acho que estávamos sentados. As imagens passavam velozes na janela ou o tempo parou? Tinha um pouco de chuva na minha cabeça. Acho que sentados não lembramos que tinham outras pessoas do lado. Acho que estava feliz. Acho que ela também. Tem algo de lábios que se tocam e pronunciam grudados palavras entendidas por movimento. Há algo de distante da realidade, de novo. Acho que alguém não estava tão feliz. Tinha algo de abraços, talvez um pouco de tensão, preocupação ou falta dela, tinha um pouco de lembranças, traumas, havia uma esperança meio morta, mas distante. Havia mais. Muito mais mesmo e eram as coisas mais belas. Havia promessas, isso era lindo, sem contar as resoluções, conversas maduras. "O corpo, minha querida, se perde. A essência tem que ser o eterno elixir do par".
Acho que poderíamos estar de pé. Daí o abraço escondido atrás do caminhão ou tinha algo de sorriso e algo de bebedeira. Tinha alegria no esconderijo, tinha risada. Lembro que também havia algo de dança, algo de belo, belos trajes, um olhar apaixonado distante. De perto. Muitas pessoas ao lado, mas lembro que só tinha uma. Lembro dos corpos se aproximarem e lembro das belezas internas que, se não onisciente, via nos sinais tamanha intensidade.
As coisas se misturam. Não há uma lógica. E nem era mesmo pra ter. Confesse! Você leitor, se não amou, então não entenderá. Não mesmo. A temporalidade presente nesses dias se perde. Não há mais tempo.
Afinal, do que eu me lembro mesmo, era da menina que disse que amava cada pedaço de mim. Acordar sozinho pode ser duro, mas logo não será assim. Um "Eu te amo" pode ter várias interpretações. As palavras valem muito. Mas pra que dizê-las? Amo essa menina como a mim mesmo. Amo tanto que sinto o frio na barriga das crianças. E porque seria diferente? Afinal, quando alguém resgata sua essência, respeitando as diferenças, há algo de felicidade escondido em algum lugar.
Lembro só do abraço. Da frase no ouvido. Do amor quebrando minhas maldições.

sábado, 7 de novembro de 2009

Cachoeira de tudo

Ele tremia. Era a primeira vez que veria uma cachoeira. O tremor não era causado por ansiedade ou medo, e sim por uma deficiência mental. O nome da doença não tem nenhum valor nesse instante, caro leitor. Pois se tem dúvida, busque informações em lugares quaisquer. O fato é que uma descida entre pedras e barro e árvores e irregularidades do terreno dificultavam sua descida. Via-se no rosto do garoto, que na verdade era quase um adulto, mas que aparentava um garoto, o rosto da luta de uma descida dura. O corpo tremia cada vez mais, como se em instantes poderia se debater por não aguentar tamanho esforço. As pessoas em sua volta o carregavam com cuidado, ora quase o carregando no colo. O cansaço intenso de uma descida simples, cada passo lento, cada novo desequilíbrio, cada nova retomada. Sua cabeça atrás tinha o desenho de costura que ia das costas até a parte superior de sua careca irregular, numa cara simples. Traços duros. Sorriso fácil.
Antes da descida, o homem que o acompanhava disse em tom de brincadeira: "Não repare, ele bebeu logo cedo." Após as risadas, com muita dificuldade ele disse: "Mas foi você quem me deu a bebida". Todos riram. A caminhada para a descida não era das mais longas, mas a cada novo passo não se notava nada diferente. Como se aquele passeio fosse comum.
A trilha continuava perigosa, com os obstáculos piorando. A verdade é que o instrutor, que já havia feito aquele caminho centenas de vezes, nunca havia notado o quão difícil poderia ser. Observava assustado, e muitas vezes até tinha medo de acontecer algo ao garoto. Em muitos momentos foi ele também ajudar na caminhada, carregando o ser que tremia, o corpo parecendo carro velho, tremendo feito quem morre de frio. O corpo tenso aumentava a tremedeira.
Durante todo o trajeto, o homem que acompanhava o garoto ia contando ao instrutor sobre quem tremia. Dizia que era um garoto que pouco saia de casa, não vivia. Por causa da doença nem escola frequentou. "Ele não conseguia seguir o ritmo dos outros alunos. Escrevia tudo torto e, sem escrever, não podia ir pra escola. Largou na oitava série.". Então, notava-se um tom a mais de importância para a descida. Naquele instante começava a chover.
A chuva iria dificultar ainda mais naquela empreitada, porém, ao notar um pouco de tristeza na cara do garoto, todos continuaram a descida. Alguns escorregões, algumas quase torções, já que ele não olhava para baixo, marcaram a descida. Aliás, não olhava para baixo por que era imensa a dificuldade de concentrar o movimento em mais partes do corpo. O som aumentava. Chegaram na tal cachoeira.
O menino caminhou no mesmo ritmo. Olhou a cachoeira com os olhos de quem após 21 anos conhece uma. Pisou cada pedra como se andasse em nuvens. Molhou seu pé como se sagrada fosse aquela água. Sentou numa pedra recebendo na cabeça a queda d'água. E lá permaneceu.
Não há descrição de tempo possível em toda a literatura que possa dar conta de quanto tempo foi. Com os olhos ora fechados, olhando por dentro, ora abertos, olhando onde estava. A mata tornou-se o mais divinizada possível. A única certeza é que as pessoas desapareceram naquele instante. Todas elas. A água tirou um pouco de suas costas o peso de ser deficiente mental. De ser diferente. Ali era igual. Um ser humano normal. Como desde que nasceu, nunca havia sido.
. Subiu todo o morro como se fosse plano. Como se alcançasse o céu. Até porque, naquela tarde, ele podia tudo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sobre arte

Pois hoje, ao ouvir a canção algumas vezes
Tive a sensação estranha de estar sendo levado
Espectador levado que se arrisca a ser ator
Um jovem fã que resolve ser coadjuvante
A um novo patamar de arte, arquitetada por outras mentes
Construída pela mente minha, inspecionada somente por mim
Ouvi a canção e resolvi participar da criação
Resolvi ser Chico, Drummond, Pessoa, ser humano diferente
Aquele que previamente sabido, vivido, emocionalmente (em textos) evoluído
Sabe juntar palavras e fazer da poesia a canção e da canção mito
Ao ouvir a música e ouvir as palavras que me tocavam
Peguei a caneta e escrevi uma obra perfeita

Ao começar ler a obra, que não é essa pois é perfeita
Já vi brotar uma lágrima nos olhos da leitora atenta e disse:
"Aguarde agora, não chore nesse instante
Distante estão os momentos do texto
Que realmente lhe serão emocionantes"
Comovente era desde o início, mas a leitora não tinha que chorar ali
Aguardasse o meu momento, meu clímax ora, era o materializador daquilo
Que nasceu, como já disse antes, de outras mentes unidas
Não sei se histórica, temporal ou hipoteticamente
Ela continuou lendo de forma interessada
Em alguns momentos com atitude extressada
Mas via que suas pernas denunciavam seu desejo de correr
E ver o ser que há em ter a glória de ler
Meio que sobrenatural, quase que supremo
Solidamente divino, estruturalmente espiritual
Subjetivo demais, um ser que nasce a cada nova palavra
Deus da ficcionalidade, da falsa verdade verossimilhante
E finalmente, chorou na hora certa. Bem quando chorei escrevendo.

A obra depois foi queimada, pois pensei ser plágio
Tinha uma frase de cada coisa que me havia emocionado
E de alguma forma, fui como antes dito levado
A fingir que era o que na verdade não seria
E sentir na pele o que era emocionar alguém com algo que se escreve

(Só não havia entendido porque diabos
Ela havia chorado no momento errado)

Ah! Mas que felicidade senti no dia que resolvi escrever um texto meu
E após terminar de ler e chorar em ora qualquer
Notei o real prazer que se tinha em fazer arte
Ouvi a mesma canção
Subi no mesmo palco
Gritei palavras soltas
Corri desnorteado
Cai em meio a aplausos
Em meio ao povo clamante
Pedindo a quem quer que fosse
Um pouco de arte de verdade
A minha era de verdade
E o povo podia sentir
A minha não tinha anseio
Mercadolologicamente correto
A não ser na obra copiada

A minha métrica é ser verdadeiro a mim
Que me estudem e me expliquem depois do jeito que lhes importar
Pois escrevo de fato meus fatos pela simples necessidade de precisar.
As pessoas aplaudiram
Sorriram atentamente
O jovem amante de arte
Que foi pra cima do palco e tocou... alguém.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Palhaçadas

A Lágrima do palhaço é a maior contradição humana
Não sei isso já foi dito, e se já não me processem
Só concordo plenamente com o raciocínio
De um lado a criança simbolizada na alegria
Do outro um adulto encarnando o personagem
O verdadeiro palhaço vive, todo dia, tal contradição
E não há formas para se negar a dificuldade
De sorrir colorido cobrindo o cinza do real
O cinza das coberturas cinzentas e das casas
Ou até mesmo a fumaça cinza, produzida pelo homem normal
O palhaço pinta a cara e se esconde
Da humanidade que o condena
A ser o eterno e bagunçado
Bagunceiro mal encarado,
(do nosso mundo)
o homem

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Trocadilho

Se a dor doer, ama que Sara!

rsrs...

O que merece um texto?

Quais são os acontecimentos que merecem um texto?
Como tenho postado com frequência, ora ou outra pessoas dizem que coisas merecem textos. Daí resolvi escrever sobre isso.
Outro dia escrevi sobre um risco no céu. Também já escrevi sobre dias ruins. Já falei sobre sofrimento, medos (isso sempre!), momentos importantes, coisas sem sentido. Em análise, pude concluir que quase tudo em nossa volta merece um texto. Porém, há sempre um porém. Tem coisa que escrevi para descarregar minha tensões. Coisas que precisava materializar em meu blog, em um caderno. Precisava, portanto, tirar de mim. Essas coisas talvez não merecessem um texto. Precisavam deixar de me atazanar.
Existiram outras que precisavam ser escritas para dizer algo a alguém. Uma carta que não chega ao destinatário, que o medo faz você guardar pra sempre. Esses textos as vezes eram postados, mas nem sempre eram lidos por quem deveria ler. Ou seja, faziam de forma perfeita seu papel. Mas há coisas que merecem ser eternizadas. Em conversa com uma amiga, disse a ela que deveria escrever coisas mais alegres. Ela me disse que não conseguia, por uma questão quase de estilo. E na verdade, quando se fala em escrever, quase sempre entramos em aspectos sentimentais e coisas do tipo. Logo, não conseguimos falar de coisas boas, até porque, como disse um outro amigo "não perco tempo escrevendo coisas boas, pois prefiro vivê-las". Faz muito sentido.
Mas eu prefiro escrever sim. Quando escrevo sobre alguma coisa boa, algo que realmente merece um texto, lá não fica marcado somente um ocorrido, um fato. Lembro do que senti, como senti. Lembro inclusive de como estava no dia que escrevi.
Alguns meses merecem textos. Algumas amizades merecem também. Amores, família, coisas diversas. Nesses momentos esqueço de escrever como um profissional, para descrever minha vida (e no meu blog posso, o que talvez em meu livro ou crônica não poderei), pra depois me lembrar de como foi bom.
Agora por exemplo, comecei a namorar uma mulher maravilhosa. Isso merece um texto. Mas preferi dizer assim, pra você notar o quanto isso realmente mereceria um texto. Tanto que está aqui. Minha vida merece um texto, assim como tudo que acontece comigo. Depois, vira história.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Setembro

Travesseiro. Edredon. Parede branca, meio suja. Relógio. 10:35. Calendário. Último dia do mês. Pé descalço. Chão Sujo. Passos e passo. A porta. Rabiscos. Piso desenhado. Mãos na parede. Marcas no chão. Meu pé preto. Meu corpo. Leve. Levado fui. Cozinha. "Bom dia", diz o rapaz. Sala. Televisão. Luz do Sol na janela. Sofá duro. Sento-me. Não penso. Ando. Ando mais. Casa. Longe. Rua. Carros. Sensações. Corro. Volto. Leio. Aprendo. Apreensivo, sento. Música. Ouço. Toco. Canto. Toco cada nota. Sinto cada canto. Emana-se cada sensação. As frases aumentam. Os pensamentos se tornam mais complexos. Os sons se tornam mais compostos. As luzes se tornam mais pomposas. A sala já não é mais a mesma. Tem gente nela e gente sorrindo. Tem gente na cozinha lavando louça. Tem gente no quarto rindo de piadas. Tem gente na edícula tocando pandeiro e batucando panela. Tem gente nos corredores com uma cerveja na mão cantando alto. Tem gente fazendo do papel higiênico serpentina. Tem gente acordando a gente com gritos de felicidade. Tem gente olhando no meu olho na garagem, ou na rua sentado no chão, ou com um monte de gente passando, ou dentro do carro parado, dizendo que gosta de mim. Tem gente tomando cerveja ao som do violão em roda. Tem gente fugindo da aula pra ficar dando risada. Tem gente diferente em todo canto fazendo coisa de gente. E eu me lembrando. Dos meus dias do mês. Do mês de setembro. Do mês inesquecível. O mês de festa. De alegria. Sensações. Um frio na barriga. Uma cadeira. Uma lágrima. Computador. Teclado. Ideias. Dedos. Só.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dias incríveis

O rumo incerto da vida é causado, muitas vezes
Por atitudes incertas da gente
As atitudes estranhas da gente são causadas, em alguns casos
Por acaso e pra nos ensinar alguma coisa
Há casos em que o destino se prova
E se prova um gosto meio amargo, gosto estranho
Tudo para elevar a vida ao status merecido
De confusa, tempetuosa, desesperadora e divertida
"Afinal o final é a soma de outras orações"
(Parafraseando a mim mesmo)
Subordinadas, religiosas, emocionadas
Frase a frase, ponto a ponto
Nos leva sem nem perceber a um outro ponto
Depois nos arremessa pra qualquer canto

E você que achou que de novo o destino
(Lembra o destino?)
Tinha te levado com erros pra acertos
Te faz perceber que seus acertos estão sendo erros
(E isso não é exatamente uma certeza)
Daí tudo isso te dá muito medo
Daí tudo isso te deixa maluco
Daí você acaba errando de novo
E quando vê já não sabe mas nem onde foi
Que começou o erro que te fez acertar
E onde você fez aquela merda que achou que era acertar
O que importa no final das contas
É acordar no dia seguinte e fazer coisas
E esperar outro dia e fazer outras coisas
E encontrar algumas coisas que te façam bem
Mas principalmente, a coisa mais importante
É fazer com que as coisas fiquem no mínimo boas...
(Felicidade é exagero)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sem ritmo, rima e fim

Havia tanta coisa que eu precisava lembrar...

Era o aniversário de dois anos da minha irmã, era o presente dela
Era a corda para amarrar a cadela, era a corda do balanço
Era aparar a grama, o ganso e era desenhar umas coisas
E de vez em quando, ainda me lembrar do horário do desenho animado

Era a redação da escola e jogar bola
Era fazer fogueira (pra ver se cola) e beijar na boca
Era comer bobagem e levar uma bronca ou outra
E de vez em quando, me preocupar em passar pra uma próxima fase de um jogo complicado

Era uma nova lição e era uma prova
Era uma ova e uma briga com a professora
Era meio rebeldia, era lutar contra a fonte repressora
E de vez em quando, uma letra de protesto a favor de um qualquer coitado

Era o conhecimento da sorte, era também a morte
Era ter que provar que era forte e era o trabalho
Era um chocalho velho e uma banda e era um sonho distante de entrar na faculdade
E de vez em quando fazer sexo pra aprender, sem estar preocupado

E era o trabalho, era um pouco de reconhecimento
E era o conhecimento, era estar na faculdade
Era largar um curso (tudo bem nessa idade), e era ir em festas e mais festas
E de vez em quando, uma briga com a namorada e ficar sofrendo sozinho, calado

E era morar sozinho e era ficar entre amigos
Era a falta de rima, era o cansaço
Era a correria, era um pedaço
E de vez em quando escrever um bocado

Há tanta coisa que eu preciso fazer...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Elite Intelectual

Mãe me escute, tenho boas novas. Sou agora a elite intelectual desse Brasil, viu? Sou menino sabido, estudioso. Tão dizendo até que não é que o povo que é burro não. Eu que sou a minoria inteligente desse povão. Sou agora mãe, acredite, classe média! Não importa se minha vida é mais dura do que ao outro inteligente do meu lado, coitado, já nasceu sendo a elite. Mas mãe, preste atenção. Sou agora responsável por esse país, pela linguagem padrão. O padrão tem que vir de cima, sabe? A gente até leva em conta o que pobre diz. Mas mãe. Lembra do meu sonho de tá aqui, lembra? Lembra de como eu queria ser inteligente, o quão contente fiquei, e veja agora, mãe, sou a elite inteligente no meio de tanta besta.
Mãe, não mal me entenda, interprete com carinho, as regras são feitas lá de cima. Se hoje me botaram pra ser a elite, não foi minha decisão. Falo errado, mas tá certo, faço disso expressão.
Mãe, sei que é inteligente, mas seu erro gramatical é chamado marca social. Tá mãe. Eu sei. Também já disse isso, mas duvidam. Dizem que é o dinheiro que diz se você não sabe falar. Mas veja minha mãe, agora que eu me escondo entre livros e pseudointeligentes, sou a elite pensante do país. Minha mãe, sei que fala direito, que estudou, mas você é pobre, me perdoe. Acho que sobre isso ainda vou estudar. Acontece que desde o dia que ultrapassei os portões daqui, eu sou igual, construo a verdade do povo, pesquiso como é bonitinho pobre falando. Mas tá tudo bem, tem um motivo: Pobre não estuda, e se sente a vontade de falar errado, de maneira não padrão. Não é só preguiça, sabe? É falta de oportunidade. Aqui não. Aqui eu tenho todas do mundo! Sou a elite cultural desse país.
Preconceito linguístico, não tenho não. Aprendi que não pode. O social tudo bem, é detecção. É empírico, mãe, acredite no que falo, sou a elite científica do país. Não diz que não.
Inclusive disse que a gente, povo nobre, irá encontrar por aí gente que não fala bem. De colégio ralé, gente que não faz balé, judo, karatê, tudo isso que num fiz, tudo isso. E disseram, adivinhe: que vou me surpreender. E acham até que nem vou entender! Ah mãe, viu? Eles não sabem de onde vim, mãe. Eles não sabem quem eu sou. Agora levanto a cabeça. Me olham com respeito. Sou a elite posuda, mãe, leitores profissionais, discutindo com os outros inteligentes do meu lado. Sou a elite, lembra? Que da as regras do jogo, do bom, do certo. Sou um número bom pro país. Ah mãe... como é bom ser chamado de intelectual. Agora sou eu, mãe, (e veja que coisa boa) que dita quem é ou não burro nesse país!

domingo, 6 de setembro de 2009

Sobre o giro da Terra

Se consegue modelar as palavras
Se as pega e as transforma em uma obra
Se cria com elas tantas formas
As utiliza inclusive (de forma brilhante) em uma retórica morna
Se consegue manipular tal processo
Escreva-as nunca em excesso
Pois escrever pode trazer o sucesso, o acesso
Ou o desespero aos que talvez precisacem, uso perverso
Concorde que há muita coisa, e espero que entenda o que digo
Que não é necessário falar, e tal raciocínio sigo
Pra poder tentar esconder o que, na verdade, minto

Pare de dizer tantas coisas, pois palavras são só isso
Morfeminhas medíocres, se escritos
Fonemas sonoros, gritados, escrotos, se ditos
Usa com calma a palavra, mas sem pena
Escreve no que acredita, convence seu "eu-lírico"
Não deixa ele fazer o que quiser e se vier
A ocorrer tal fato, não se esqueça
Não a dia que anoiteça sem motivo
Não a dia que sorria na neblina espessa.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Plano

Repassaram mentalmente.
Era simples.
Era rápido.
Não havia formas para errar.
Era entrar, roubar, torturar, foder, matar... e depois de 4 anos, vazar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Meta

Não escrevo para os críticos de literatura
E nem aos resenhistas frutrados de internet
Nem escrevo aos alunos universitários ultra críticos
E nem aos oficineiros que ensinam a literatura moderna
E nem aos que seguem a métrica
Aos que posam de inteligentes, cultos
Muito menos a elite pensante, proprietária dos meios
Nem escrevo para o não escolarizado tapado
Nem para o analfabeto funcional
Nem ao que se utiliza da liguagem padrão
E nem ao raso caipira carpintador
Não me preocupo aqui em escrever sendo político
Nem diplomático, com eufemismos
E principalmente, não escrevo para os meus familiares
Amigos que acham tudo lindo, namoradas
Não escrevo pra ficar rico, comprar mansões, carros
Nem escrevo para parecer mais inteligente
Muito menos para usar de artifício em conquistas
Não escrevo pra mim
Não escrevo pra ninguém
Eu sento na cadeira, pego meu caderno (ou teclado)
Escrevo o que me der na telha por motivo nenhum
O depois é depois...
Que cada um faça do texto o que lhe convém.

domingo, 30 de agosto de 2009

Da metodologia científica aplicada

Caro Leitor,

O fato de você estar lendo esse texto, prova que realmente não é possível uma bola amortecer o impacto de uma pessoa de 85 Kg que salta do décimo andar de um prédio. Agora meu próximo passo será dizer se depois da morte há ou não há vida. Se não voltar a escrever, isso quer dizer que não há. Dê um prazo longo, 7 dias pelo menos antes de apressas conclusões. Daí já saberei das normas e coisas do local onde "Pós-vivemos", se é que posso dizer assim.
O fato é que tal experiência na verdade é meio uma desculpa, assumo. O que quero mesmo é sentir o frio na barriga antes de chegar no chão. Das duas, uma: ou conto vivo, ou morto. "Das três, uma ou nada" seria a melhor expressão. Há a possibilidade de não mais existir e daí o prazer não poderá ser passado para as gerações futuras. Infelizmente terei que correr este risco. Diante dos meus anos de estudo sobre a possibilidade de existir vida no Acre, estudos que foram desbancados graças a minha falta de capital (alguns até diziam que já haviam ido para lá , ou nasceram lá... mas oras. Um outro homem disse-me outro dia que era Jesus. Sou adepto da ciência empírica) e pela falta de apoio à ciência no país, decidi que não seria mais útil provar coisas que ninguém julga importante. A bola ou a morte, todo mundo quer saber.
O outro fato é que também já estava mesmo cansado de tentar provar coisas pra todo mundo. Portanto para minha última experiência, por isso algo grandioso, que entrará, sem a menor dúvida, para os anais da ciência fisíco-teológica, escolhi tais temáticas. Aliás, pensando melhor, ainda quero provar mais algumas coisas, como quem é o verdadeiro Deus e essas coisas. Mas isso só se eu viver depois da morte. Se não deixei de existir mesmo (acho que já disse isso, né?). Termino dizendo que a bola tem uma circunferência 165,53 cm, eu acho.
Desejem-me sorte. (No céu ou no "não existir", já que já vou ter pulado.)

* Olá, me chamo Norberto e fui o homem que encontrou a carta. Ah... Também fui o homem que achou estranho a bola lá no térreo do prédio e tirou-a do caminho. Aliás, fui também o mesmo que subiu no apartamento daquele lunático e o salvou. Ele não pulou. Morreu de desgosto e ainda não voltou.
Ou seja, não existe céu.

sábado, 29 de agosto de 2009

Sobre outras coisas

Abre essa porta, por favor
Hoje eu quero mesmo é que o vento entre
Não tenho do que me esconder
E que seja assim sempre

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O vôo da vida

O que eu fiz foi pra te orgulhar
É eu sei é tão bom assim
Pai eu to com tanto medo, por favor...
Não precisa dizer pra mim
Vive assim que ao fim você
Terá o que escolheu pra ti
Eu sei mas tenho um medo imenso
De ser menos que mereço

Poxa filho eu já te falei
O amanhã é longe daqui
É eu sempre te escutei, mas onde está
O amanhã bom que não quer chegar?
Está onde ele deve estar
E não é certo se apressar
Mas pai, cê sabe, eu luto tanto
Pra ter o meu lugar

Pois é filho, eu sei
Mas não adianta só se ajoelhar
O caminho é longo e cruel
E a quase certeza é o Céu
Pai, eu não tenho medo de errar
Mas se eu erro ao me aventurar
Quem me espera e confia em mim
Quem acredita na glória no fim

Vai se frustrar por eu não chegar
Mas me diz, melhor vai ser
Pra quem, além de ti, você vai
prestar contas até morrer?

O que eu fiz foi te convencer
Que pra viver era bom ser bom
E eu sempre acreditei, mas ouça bem
Quando fui bom eu me machuquei
As feridas fecharão
E a mente vai tranquila do que plantou no chão
Mas se planto a tal bondade, faço com verdade
E me pisam na cabeça sem piedade

E você acha mesmo assim
Que a vida teve pena de mim?
Pena não, algumas eu presenciei
Em muitas delas sofri também
Pois escute o que vou dizer
Nesse ponto sou piegas
O bom tende a vencer
Ser muito bom faz do dom um defeito
Contraria a própria lógica que o destino tem feito

Filho você não me entendeu
Dor sentiu e assim cresceu
Pai, você tá certo mesmo, o que é ruim
Mas me diz, por Deus, não vai ser sempre assim?

Não tenha medo da dor que restou
Sofrer é vitória pra quem de fato amou
Pois se arriscou a ser mais ou
Abriu ao desejo o ardor

Do amor você nasceu
O amor amorteceu
O amor deixou a morte morna
O amor que é subjetivo e forma
O amor quebrou a maldição
O amor que amarga a solidão
O amor de mãe que te gerou
O amor que te concretizou

E o que é viver senão
Achar que tudo é a beleza maior
Acreditar que amanhã vai ser melhor
Mesmo que seja só esperança em pó
E vai e não vai, você vai ver
Vai sofrer todo dia até morrer
Mas terá mil amores, aprenderá
Pode ser até que algum dia possa melhorar

Não há glamour nessa vida
E mesmo assim ela é incrivelmente linda

Pai no mundo vou encontrar
Vários mestres pra me ensinar
Mas esteja sempre onde estiver, confie em mim
Vôa que eu te acompanho.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Km 169

Seria diferente se ele não tivesse ouvido a explosão. O barulho ensurdecedor de aço retorcendo. Os gritos desesperados.
Se a noite estava fria ou quente, se o vento estava aprazível, se micro-gotas tocariam seu rosto, não saberia dizer. A temperatura ambiente era de mais ou menos 19 graus, o que obrigava um casaco servindo de cobertor. O trajeto já conhecido enjova de se repetir na mesmice cíclica que são as rodovias, principalmente na claridade momentânea resultante da luz do farol. A poltrona 35, a penúltima ao lado direito, encostada à janela, era o seu lugar. Ao lado a outra cedia espaço a uma pequena mochila, que sempre carregava com ele.
Olhava ao lado de fora para saber onde estava. Kilômetro 169. Um balanço da luz do farol ao lado. Um ônibus desgovernado. O corpo não mais lhe pertence. Os pensamentos, também não. Não sabe se segura, se solta, se deita. Um caminhão parece surgir do meio da escuridão. E ele ouve o estrondo.
Seu corpo fora arremessado violentamente para a poltrona da frente, depois por cima dela, apertado entre o aço do teto e o assoalho. Ele não sabia ao certo onde começava seu corpo, o corpo do homem da poltrona da frente, aquele que incomodava a viagem inteira com a poltrona reclinada demais. Ou com o da senhora que não parara de falar no telefone na poltrona do lado. Também não sabia se a dor que sentia era suportável, se existia algum tipo de dor, se aquela perna perfurada era mesmo a sua, se conseguiria se mover. Ao contrário do restante do corpo, sua mente movia-se mais rápido do que o normal. Olhou para sua frente. Ninguém se mexia. Sabia que estava vivo. Só ele? Não sabia. Se moveu.
Aquele ônibus poderia explodir a qualquer momento. Sua mente focava na janela aberta pela pancada. Notara agora que o ônibus havia capotado, estando as rodas para o alto. Se rastejou, sentindo a dor que se assemelhava com a que acreditava que sentiria ao morrer. Aos passar pelo ferro contorcido, corpos misturados a bancos, sangue misturado ao plástico. Passava lentamente, mas não pensava nos possíveis corpos que poderiam estar abaixo dele. Segurava a algo, puxava seu corpo para a frente. A cada novo puxão, seu corpo chegava mais perto do buraco onde estava o vidro. Apoiou a mão no vão. Cortou a mão nos restos de vidro que estavam presos nas laterais da janela. Seu corpo desabou em cima dos cacos no chão. Alguns curiosos o olhavam assustados. Andou para lugar algum, sentou no chão. Pessoas vinham correndo para socorrê-lo. Tudo parecia estar mais lento. Em choque, não falava. Não lembrava de ninguém. E nem agradecia por estar vivo. Se sentou e mais nada.
E esperou...

domingo, 23 de agosto de 2009

Do autor

O meu primeiro acorde saiu meio bagunçado. Depois os dedos doídos tentavam incessantes alcançar a perfeição de cada nota. Mas isso ainda era um sonho. Daí surgiram os novos desafios. De corda a corda um novo som, de som a som uma nova canção, a voz querendo atravessar a garganta, e os dedos duros travando o desejo de se tornar melodia, que vem lá do diafragma, ecoando na garganta, decepcionado com a falta de destreza dos dedos. E vieram as palhetadas, os dedilhados, os aquecimentos, exercícios, cifras, tablaturas, músicas. Lembro sempre daquele anseio, do frio na barriga a cada acorde certo, da harmonia se tornando cada vez mais encorpada, com mais personalidade.
Haviam os ensaios com a banda, reunião diária de outros sonhadores que "malemá" conheciam de nome o instrumento em mãos. Havia um sonho maluco de conseguir executar uma única canção, nada além disso. Tinha meu pai que era o professor daqueles garotos que não sabiam ainda o poder dessa coisa inútil.
Daí pra primeira canção própria: um violão, um caderno e uns amigos. As letras de protesto, sem nem saber pelo que se podia protestar. Os festivais, as derrotas, as glórias, os shows quando, ainda crianças, cantavamos Rock'n Roll em festas com bêbados; as microfonadas na boca, gente que caía no equipamento. Daí para a vida, que vai tirando aos poucos seu instrumento.
Mas foi em uma madrugada a qual, lembro-me perfeitamente, abri minha case, que a arte voltou mesmo a fazer parte da minha vida. E lá estava ela: minha guitarra. E lá estavam eles: meus medos. E lá estava ele: meu caderno.
Meus amigos? Ocupados com as cobranças da vida. Nosso professor? No céu, ressoando outras melodias. Eu? Desesperado e só, em meio as dúvidas de um amante de arte, um sofredor tolo e exagerado (como antes dito), chorando. Uma nova canção nasce. Um sorriso vem ao rosto.
Daí, não lhe parece que agora vem o sucesso? Não é esse o final feliz que espera? Não seria, diga do fundo da alma, uma lógica correta para o fim dessa comovente história? Sinto lhe trazer à luz a decepção, mas não existe sucesso não.
Pois então, dirá sobre dificuldades, mercado da música... mas que porra! Estou feliz!
Outro dia, o menino de 14 anos de idade que tinha o sonho de tocar guitarra, agora com 23, pegou seu violão e cantou a tal música, da tal madrugada, dos tais medos. Um outro garoto, um grande músico aos 14 anos de idade, com o qual aquele havia tido contato uma única vez na vida, cantou e tocou a música inteira junto. Aprendeu em um vídeo na internet. Isso aconteceu outras vezes, com outras pessoas, de outras maneiras. Gente que sabia o refrão. Gente que até se emocionava com a música. Consegue perceber isso, amigo leitor?
E irão acontecer outras. E é com um arrepio enorme que lhe digo, seguindo a linha de raciocínio "auto-ajuda" (a qual não sou seguidor fanático, mais hora ou outra não consigo fugir, mesmo que não tente) dos últimos posts, o que escreveu no comentário do meu texto anterior a esse uma pessoa iluminadíssima: "Quanto mais a gente avisa a nossa alma que não precisamos ser Grandes, mais parece que as coisas ficam em paz dentro da gente e do tamanho certo que cada uma é." Percebe a beleza disso?
Continuarei sendo um grande artista de poucos, fazendo aquilo que, independente das críticas e daqueles que a isso odeiam, amo. Salvando a minha alma das desgraças de somente "comercializar" minhas construções sentimentalísticas-mentais.
Fazendo música, fazendo textos, fazendo graça, ainda que de graça.
Isso é um desabafo do autor do texto. Meu "eu-lírico" está doente hoje e não veio.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um dia desses

Daí de repente o tempo parou.
Foram poucos segundos, depois o mundo girou de novo. Entre tempo e espaço, espasmos me travando descontruindo-me, perdi meu medo. Desobstruindo meus traumas, meus medos, minhas barreiras, exagerando, pois sou mesmo assim.
Daí mais outros... Calar-se é virtude de poucos. Entre tanto.
Perpasando minha mente, surge um sorriso.
Sabe, caro leitor (e atualmente aviso para que não receba críticas sobre o layout "blog diarinho" de certos textos), desglamourizei realmente minha vida.
Faz o mesmo. Bebe um liquído que te faz bem, corre uma maratona, fica em casa sem fazer nada. Você vai morrer, assim como eu. Vamos, de alguma forma, deixar de existir.
E a gente aqui se importando com ego e essas coisas.
Com carros e essas coisas.
Com essas coisas.
Com coisas.
Faço o que quero, não consigo o que preciso, dou um sorriso de felicidade e conto para alguém como minha vida é boa.
Depois escrevo para me fazer bem.
E se isso não é o bastante, meu caro leitor, reveja seus conceitos limítrofes.
E me peça uma cerveja, por favor... meu copo está vazio.
E me traga um incenso, tenha a bondade... minha alma está em paz.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Obra

As asas batiam no ritmo certo
O vento soprava no ponto certo
A manobra, portanto, foi bem feita
Parou em cima de um prédio alto, digo
Um prédio bem feito, decorado
Cores espelhadas nas vidraças
Um gigante prédio, vitória humana
Um prédio comercial, decorado agora com o pássaro
Animal pomposo, com o peito aberto, cabeça erguida
Parado como uma estátua gótica
Decorando o prédio, repito, uma obra moderna
Revela a força do homem urbano
O homem que atravessa na rua apressado
Sem nem ao menos olhar pra cima
O homem que corre para chegar no trabalho
Possivelmente situado na grande obra
O homem que tem o terno mais caro
Enfeitado com uma gravata impecável
Com seu melhor sapato, a sola pouco gasta
O homem que antes de adentrar ao prédio
Recebe uma bela cagada do pássaro estátua
Que levanta vôo meio tonto, desgovernado
Mas aliviado e leve, sem dúvidas
O homem se revolta, mas não dá pra entender
Aquilo tudo sempre foi uma merda e sempre irá ser.

sábado, 15 de agosto de 2009

Provocações Artísticas

Estou chocado. Há coisas que desesperam ao se ver. Descreveria se isso me fizesse algum bem. Destacaria aqui muitas de minhas possíveis soluções.
Há coisas carregadas, experiências as quais devemos passar. No meu caso, um filme. A tensão a qual fui levado me pegou desprevenido. A arte tem mesmo dessas coisas e explêndidos os que me chocam. É capaz que um dia consiga chocar alguém com um texto meu. Mas prefiro a lágrima ao nojo, um sorriso à repulsa, uma hipocrisia à realidade nua e crua. Talvez por isso me esconda atrás da arte. A vida é a imitação do que a ela imita. Pois prefiro imitar em minhas composições aquilo que realmente queria que fosse.
Mas ser chocado por algo, além de me mostrar outros ângulos do que pretendo ser, me dá medo. Acho que é essa a sensação almejada.
Desobstruir minha mente das possibilidades ao invéz da eterna fuga. Faz sentido. Eles tem razão. Mas a minha não. Vai sempre tentar dizer o ruim da melhor forma. Já não são o bastante as diversas dificuldades que a vida nos dá, oras? Já não é demais a vida impondo à sua maneira as mais horrendas coisas? A minha arte não terá disso. Não vou esconder as sujeiras, porém tentarão sempre serem compostas por poesias. Terem um pouco de beleza. Enquanto isso vou aqui treinando e questionando até que um dia nasça minha própria forma de ser, sem nunca ter nem se quer resquícios de outras formas de vislumbrar o mundo se não a minha. Sem estar carregado de verdades impostas, palavras confortáveis, parafraseando um caro amigo e escritor, "a literatura não é lugar para conforto". O fato é que sim, fugirei do conforto. Mas sem nunca se perder de mim.
A minha arte talvez irá chocar. Mas de leve. Sem dor. Sem medo.
Até que eu descubra, afinal de contas, o que esse que vos escreve é. Um dramaturgo Hollywoodiano, um novelista da Globo, um roteirista russo ou um cordelista sarcástico. Ou simplesmente mais um ser humano invisível fazendo o que ama.
Não sei. Talvez algo infantil.
Talvez alguém infantil.
Talvez, simplesmente, eu.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Conversa a três

Do que eu me lembro havia uma sala, uma cadeira estofada e uma mesa. Do outro lado, mesa e um homem de branco. A notícia foi dada.
Do que eu me lembro me esqueci. Lágrima, confusão, medo e uma missão: Viver.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Para não parar

Pedalar para não parar
Caminhar para não parar
Sonhar para não parar
Pular para não parar
Agir para não parar
Voltar para, ainda assim, não parar

Se mover é o objetivo
Compromisso dos que se movimentam
Mas e aos que não tem tamanha sorte
a morte?
Nunca, pois mover-se pode ser algo imóvel
Sentado num móvel "móvel"
As pernas dos imóveis
Passam sem lembrar o quanto tem cérebros velozes.

Escrever para não parar
Pensar para o mesmo fim
E sim, isso não tem fim
E fim, o sim é o melhor para mim
E para
Mas nunca deixe de se mover
O tempo tá aí, de novo feito para ti
Para decisões... para a explicação

Cansa ver o mundo rodar
Cansa ver as coisas não saírem do lugar
Mas se mexa, repito
Dance, cante, se exploda
Toda a canção pode ser ruim
Toda benção pode ser ruim
Mas não parar, seguir para qualquer lado
É o pecado desejado e ponto.

A outros pontos menos importantes na vida
A outros tantos fatores pedantes
Tantas tensões tântricas
Tantas que...
pois bem,
...foda-se.

Mexa e pronto!
Como vitaminas de saquinho
Como enlatados de conserva
Como caixas de suco...
Como a maioria das pessoas em festas
Encontre seu lugar

Avançar para não parar
Retroceder para não parar
Parar para não morrer
Morrer para não parar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O dom da palavra (ou ao avesso do dom)

Se seguisse os conselhos que dou para as pessoas, seria um ser humano melhor. Acho que seria casado há pelo menos 5 anos, teria um filho e seria dono de uma multinacional. Teria conseguido viajar o mundo e estaria fazendo meu mestrado, com minha tese concorrendo a prêmios. Poderia ir a Lua, encontrar pedrinhas e trazê-las para mostrar em alguma exposição. Seria um artista famoso, teria um corpo bonito, me vestiria melhor, teria um rosto mais jovial. Seria mais feliz. Nunca iria me decepcionar com os outros e muito menos tomaria anti-depressivos. Seria um administrador explêndido, teria potencial para comandar uma nação, salvar o mundo das crises. Acho que encontraria dentro de um chapéu a cura para as complicações sentimentais, quem sabe até salvaria pessoas de abismos. Seria um aventureiro, um conhecido escritor, e não um jovem desesperado que alimenta seu blog enquanto espera.
Se eu fosse como as pessoas me enxergam então, o que seria!? Haveria filas para ter a oportunidade de uma palavra comigo, um afago meu. A televisão seria minha casa, e a rua minha passarela. Os palcos da vida iam se esbaldar do meu talento, ora cômico, ora dramático, ora poético.

Ou o contrário.
Eu queria ter o dom de dar conselhos inteligentes, e não ser uma continuação barata das coleções de Auto-ajuda.
Queria ter possibilidade de entrar em contato com forças divinas e salvar vidas.

Mas quem é esse ser, ora, que hora se esconde em baixo do céu e não ora?
Chora.
No silêncio de minhas divagações, me calei. Me selei. Me celaram.
Fui usado para me levar aonde não queria ir.
Queria mesmo ter outro dom:
o de me calar.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Últimos minutos

Meu corpo dói, sinto uma moleza na perna e tenho uma sensação febril.
O Sol misturou-se o tempo todo com o vento frio, que escondia a ardência na pele.
O nariz ficou úmido, meus olhos estão vermelhos.
O mês foi de árduo trabalho, faltam poucos dias para que ele termine.
As férias foram prolongadas por Influenza.
O corpo cansado respira os últimos minutos desse mês.
Obrigado julho.
Até o ano que vem, trazendo no frio a certeza já citada outrora.
Próximo ato.

Sem Título

Abro a janela e quero escrever. Pessoas me irritam com perguntas que não quero responder. Tento começar algo tantas vezes quanto posso. Um tema não vem. As coisas parecem pairar sobre mim a uma altura inalcançável. Assunto não tenho. É como se precisasse dizer algo que não preciso, declarar algo sem sentido. Acho que é assim que nascem meus piores textos. Escrevo agora pelo fato de isso me fazer bem. Mas será que será sempre assim? Até quando vou fazer coisas porque gosto? Me parece, e não sei se compartilha da mesma opinião meu caro leitor, que chega uma idade que não se pode fazer isso. Hedonismo tem dia e hora certa de acabar. Após um tempo, vira preguiça. A vida te cobra outras coisas. Até quando vou abrir essa página e escrever coisas que não me dão lucro? Até quando vou ter que fazer coisas sem quantificar valores? Pouco a pouco vou percebendo que não há muito sentido em continuar assim. Porém, não penso em abandonar isso tão cedo. Será que sou egoísta? Isso talvez não decepcione os que esperam muito de mim? Talvez isso não afaste futuros amores? Eu tenho feito tanto, e todo dia acordo e acho pouco. O que minha mãe pensa de mim? O que minhas irmãs esperam de mim? E meus amigos, o que anseiam? Toda essa confusão não me leva a lugar algum. E digo que a invisibilidade me ajudaria. Não quero mais que me notem, anotem isso. Não quero mais que me vejam, veja bem. Quero ter mesmo a mesma mesmice de sempre. Sem peso, com calma. Botando cada coisa no seu devido lugar.
E eu no paraíso que é o inferno que vivo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Rabisco dos Deuses

Hoje vi o céu rabiscado
E chorei.
Procurei incessante de onde vinha
O risco riscado da ponta do dia
A linha branca que tinha movimento
De um avião veloz como o vento, não sei
Algo ou qualquer coisa que com seu mover
Traçasse aquela linha

Me entristeceu lembrar do céu
E da velocidade das coisas
Me fez menos feliz lembrar que nossa vida
Sofrida, corrida, desmedida
As vezes faz riscos velozes
Sem deixar o rastro de quem foi que fez

Lembrei das pessoas que riscaram meu céu
Lembrei dos acontecimentos que desenharam minhas nuvens
Mas a primeira frase me veio certeira
me comoveu,
E não saiu da minha cabeça
Mereça o céu, meu caro
Mereça a flor que te oferecem
Mereça inclusive poder ver o céu riscado
Rabiscado por algo invisível.

Não sei quem riscou, não sei quem aquilo fez
Mas que fez, fez...
E isso é o que importa dessa vez
Pois se a partir de agora
Meu tempo é mais curto que antes
Quero a infância ainda riscando meu céu
Para ser veloz em crescimento
Lentamente feliz
Riscando a cada dia um novo e lindo
Desenho da ponta do nariz
De um palhaço que ri todo dia, chora por dentro
Diz adeus ao antigo dia, desenha mais um coelho
Que vira um pônei, espada, Deus...

Eu vi na nuvem que riscava mais que um risco
Vi o rabisco de uma criança pura
Segura
Vi a minha ingenuidade ao pensar
Que se ainda noto no céu pequenos riscos
Posso ser ainda a criança
Que tantas vezes tento ser.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

(In) Completo

É moça, pois acho que me lembro sim...
Eu era jovem, tinha os pés descalços e um objetivo na cabeça: encontrar o melhor esconderijo e ser rápido o bastante para encostar primeiro no local onde meus amigos batiam cara. Nesse tempo me sentia completo.
Existiram outros momentos mais curtos. Rodeado de pessoas rindo, abraçado naquele amor novo, dançando uma música cantada ao pé do ouvido só ouvida pelos dançarinos, pegar meu violão e dele sairem novas canções.
Também quando estou entre crianças me sinto completo. Quando canto sozinho no banheiro, quando estou na segurança de não pensar em ter problemas.
É moça. Acho que não me sinto completo por inteiro pois sou metade. E acho mesmo que ainda não encontrei em mim nem metade do que sou. Acredito que quando criança só era inteiro por não saber que podia não ser. Daí quando me deliciei com a verdade inventada por mim e por todo mundo, me achei incompleto de novo.
Mas sabe que tem vezes que acho que me sinto completo sempre que me esqueço que tenho problemas? Agora por exemplo. Me sinto completo pelo simples fato de ter um novo status quo: o de amigo. Aqui não sou mais tio, irmão, devedor, trabalhador, vagabundo, estudante... sou eu, alguém que faz bem a alguém! As pessoas são para as outras o que elas podem ser e não o que realmente são.
É moça... acho que me sinto mais completo do que achei que já tinha sido. Como a gente pensa bobagens, né? Fui completo tantas vezes na minha vida que me esqueci que nunca deixei de sê-lo. O que às vezes me confundia (e isso particularmente) era que o destino não acontecia como eu queria. Era porque as pessoas exigiam demais de mim. Era porque todos diziam que eu era demais pra tanta coisa. Que eu não era o bastante...
Com isso decidi. E sim, isso se decide. Vou tentar ser mais completo para tentar me achar de novo. Quem sabe assim, as pessoas possam me conhecer por inteiro?

Guerra infinita (ou o ponto final)

Eu sei que perder
Faz parte do jogo
Mas o difícil é entender
Que é bem mais fácil continuar assim
Só que queria crescer
E se erguer da derrota
Nos faz entender
Que pra vencer é preciso mais do que chegar ao fim

E ninguém faz voltar
Aquilo que foi dito
Uma verdade elementar
Vou dizer o que é bonito
Repetir meu grito
Sem me moralizar

E sei que vou conseguir
Pois ser o bastante é evoluir
Distante daquilo que pode fluir
Meu sonho é ficar sempre perto e aplaudir

As coisas que quero e já não quero mais
As coisas que foram deixadas pra trás
São formas diferentes de então se ver
Que o mundo é confuso demais pra você
No entanto a vida corre devagar
Com passos bem largos que não vão chegar
Parece confuso, mas é natural
Viver é esperar nosso ponto final

A gente não quer realidade
A gente prefere uma verdade
O que a gente quer é ser covarde
Não ter que explicar a nossa arte
A gente não quer falar direito
A gente prefere ser direito
O que a gente quer é o tal respeito
Não cravar bandeiras no planeta Marte

Tudo não passa de intervenção legal
Ser comandado por força divina é tão normal

Contando com terras de outras dimensões
Contato imediato com outras canções
São tantos planetas de idéias malucas
Divididas sempre com tantos milhões
E a nossa cabeça se perde ao ruir
Tentar entender a falta de refrão
O som das palavras vão me confundir
Mas nesse planeta não me perco não

Sentado em frente a minha decisão
Olhando no fundo do que posso achar
A guerra infinita não tem vencedor
É só uma besteira pro tempo passar
Mas duelo a paz entre as coisas e eu
Quem causa a guerra onde é que está?
Estarei sentado assistindo TV
Esperando a dor de ser vivo passar...

sábado, 11 de julho de 2009

Meu trabalho

A criança olhou para o alto e me viu. Descomplicada abriu os braços e sorriu. Gastaram-se uns poucos segundos num longo abraço e a criança desceu. Sorrindo saiu correndo pelo gramado até chegar no local de onde viera correndo para abraçar-me. Sempre que posso guardo momentos assim. A cada nova chegada de hóspedes aqui no Hotel, recebo uma nova família de presente. Não que alguma possa substituir a minha, nunca. Porém, enquanto a falta que sinto dos que me criaram e a quem amo me esburaca, conheço outras tantas pessoas pelas minhas viagens, e aos poucos vou sendo um pouco de cada nova pessoa. Acredito realmente que as pessoas que passam pela vida do Tio Paçoca, não sabem o quanto ele não se sente nunca um profissional. Nunca mesmo! Porém é bom dizer o quão profissional se precisa ser para ter seriedade nesse ramo. E tenho muita, mas sempre sorrindo (DE VERDADE).
A cada pessoa que me marca, a cada nova brincadeira, a cada novo sorriso, me sinto completo. E acreditem, já me aconselharam a abandonar isso... Mas, por Deus! Não entendem que não faço isso só pela grana? Faz tempo que entendi que essa coisa de dinheiro é secundária. Me deixa brincar mais enquanto não preciso tanto ser adulto! Não fugirei da minha responsabilidade, mas quero mais famílias, mais reencontros, mais abraços sem sentido, mais disso que tanto bem me faz. Não é poesia, não é crônica. Chame do que quiser!

Obrigado!

domingo, 5 de julho de 2009

Julho















O mês onde as cores decoram o mundo
O calor da trégua, fica ao fundo
Os pés de manga não dão frutos deliciosos
E as mangas curtas ficam aos com corpos vistosos
Em súplica, corpos congelados nas ruas
Suas mãos encostadas nas da companheira, quase nua
Que dividem não um chuveiro quente
Mas um papelão e aguardente
Pra aquecer a dor desobediente
Que insiste em aparecer em dias assim
O que ao contrário de ruim pode existir
Em uma cidade com mais glamour, o elixir
Divino catado no topo das montanhas
Manhas em manhãs e ao longo do dia
Sentado dentro de uma bela casa com lareira, fria
Lá fora a noite bela parece decorar as coisas
Deixar os cansados que repousem após meio ano
Ou aos que não param, ou aos que tem vida fácil
Ou aos que foram convidados, familiares chatos
Há também os que trabalham para divertir
O mês inteiro a sorrir, contando piadas alegres
Cantigas, sonhos, até "3" ao começar um jogo
E há os que servem, os que limpam, os que viajam
Um mês inteiro em um navio...
Ah! o frio, mês das belezas e das desalegrias
Mês escuro, puro, meio apagado,
Sem muitos feriados famosos
Gostosos líquidos quentes descendo em nossas gargantas
Violões em volta da fogueira, o mês de férias
Onde não disputa com outros meses, mês faceiro
Das árvores secas, das plantas se preparando para uma nova vida
O mês do meio, o que te diz que o ano tá acabando
Indo embora mais um deles, caindo o pano
Lentamente, se percebe que nem se viu como aqui chegou
Passa o tempo, as coisas mudam, tudo fica igual
Esse mês frio tem beleza, e não carnaval
Fica frio, pois após agosto o gosto muda
Rumo ao término de mais um ano ruim, é assim
Portanto se me acharem preso no quarto entre lágrimas
Não se preocupe nem de lá me leve para tomar um chá
Pois assim como na natureza as pessoas se preparam
Para jogar fora as folhas murchas para brilhar no verão
Nesse mês ficamos cinzas para poder enfrentar o ano
Sem planos, na raça, até esperar para que dezembro venha
E tenha com ele esperança, e nos leve feliz pra janeiro
Pulando, festeiro, de um alegre rasteiro...
E que venha julho, e que vá embora levando com ele
A demora de se fazer logo agora, quando eu queria mesmo
Ficar lá fora esperando o Sol,
A tristeza que ele me traz e a alegria que ele me causa.

domingo, 28 de junho de 2009

O post "100"

Finalmente o blog "Mitologia Moderna - Cantos e Contos" chega ao post "100"!
Muito obrigado a todos que passaram por aqui... E rumo aos "1000" post's!!!

"Vamô fazer arte, porra!"

Sobre as coisas

A praça dividia a rua em duas mãos. O homem gesticulava ambas para conversar com a moça. O ônibus abriu suas portas para os dois. A moto freou bem em cima dele. O cachorro uivou ao ouvi-lá, e a velha em sua casa se assustou co isso. Seu filho mais novo se preocupou ao vê-la e a vela assoprou para velar com amor o sono daquela. Apagada soltou fumaça que empestiou um pequeno lugar, e o mosquito tossiu com a tal.
Ele vôou, o vôo cessou, não foi por cansar, mas por não perceber, que era vendo pra ser, um bicho vencedor, que voltou pra sua terra natal.
O mosquito está bem mais alto, na palma da mão direita, aberta, bem feita, dobraço que se estende gigante, escancarado, abraçando o Brasil. Mas sem nem perceber, tonto, caiu. Todo o resto não fez diferença, toda gente nem mesmo percebeu. Que o mosquitinho poderia ser você, ou até mesmo eu. Tudo depende de quem se compara, com que se compara. Somos ridículos em comparação ao universo, e gigantes em relação às moscas. Viemos parar nesse mundo do nada. E de tontos, caímos em si todo dia, que somos gigantes em ser nós mesmos, engrenagem do mundo, da moça do ônibus ao mosquito tonto. Criados genialmente para colorir o mundo cinza, de cristo gigante de braços abertos... Gostando do que vê.

sábado, 27 de junho de 2009

A flor e a náusea - Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade

* Esse é o primeiro texto que posto nesse blog que é de um autor conhecido. Na verdade um mito. O nosso grande poeta. Mas postei-o pelo simples fato que esse texto é a "musa" para mim. Não que vá fazer algo comparável. Mas me inspirar nele, sempre. Uma obra prima!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A nossa trilha sonora

Realmente a vida pode ser comparada a um filme. Na verdade, "o filme pode ser comparado à vida" seria a melhor frase. Mas aqui não penso em trazer todas as semelhanças, em nenhum momento esse será meu intuito. Falo apenas sobre trilha sonora. Momentos onde músicas são tão ou mais importantes do que a cena em si. Ou quando elas dão cor ao ocorrido. Ao ler isso você, meu caro leitor, não fará ideia do frio na barriga que sinto agora, ao lembrar de só algumas delas. Músicas que marcam momentos familiares, que marcam beijos, promessas de amor, festas divertidas, momentos especiais da minha vida, amigos. Da infância até os dias de hoje. Sem a menor dúvida, a música é a maior ligação do homem com o divino, a melhor forma de encontrar a melhor parte da essência do ser humano. Quem não se emocionou ao menos uma vez ouvindo uma música qualquer? E não ficarei aqui no lugar comum das músicas "belas". Digo chorar ouvindo qualquer música, que nos fazem lembrar em que contexto tocava aquela trilha sonora. Esse é o poder da arte. É a soma de todas elas juntas. Um som traduz um sentimento ou uma bobagem qualquer. Eu quando muleque ouvia meu pai tocando durante horas e horas. Um pouco mais velho, comecei a tocar. Depois de um tempo meu pai se foi, e a música ainda nos ligava e nos liagará pela eternidade. E pensem em algo que pode fazer isso? Somente o amor... Ou seja. Tão forte quanto o amor, está a música. Pois em ambos o sentimento humano é exposto sem máscaras, sem vergonha, sem limites, sem medo. Nos faz gritar, pular, dormir... nos cura. Pois então, desligue a TV e vá ouvir uma música. Ou talvez compor uma. Pois até para se ficar na eternidade, melhor caminho não há. Obrigado à todos que ouviram as muitas canções do mundo comigo e obrigado aos que construíram minha trilha sonora. Sou grato por cada nota, acorde, melodia, sensação. Por cada novo dia, nova cena, onde os sons se misturam aos desejos de se chegar mais perto do divino. Que vivam, assim, a música.

(...)

Dia 25 de junho de 2009. Morreu Michael Jackson... Um dos únicos grandes artistas vivos... Perdemos mais um...

sábado, 20 de junho de 2009

No palco

A cortina se abre e os atores atuam
A cortina se fecha e a máscara atua
A cortina se abre e a Luz invade
A cortina se fecha para o sono inavadir
A cortina se abre para o banho
A cortina se fecha para o piso não molhar
A cortina se abre para ver a kilometragem
A cortina se fecha por se cansar da paisagem
A cortina se abre para colocar uma nova roupa
A cortina se fecha depois de mostrá-la
A cortina se abre e entram os espectadores
A cortina se fecha e os cobre de escuridão
A cortina se abre e o show recomeça

E no palco, um homem de cara pintada
Cabelo colorido, sapato bico largo
Roupa estranha, complicada
Cai no chão e o povo ri
Até que mais uma cortina se feche
Para outra se abrir

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Rua

Dá-me o devido devaneio
Distante desejo de dormir
Deitado diante das docas
Doente de deixar deduzir

Das doidices dementes, desminto
Descubro as delícias da dor
Despeço-me dos desejos distantes
Descrente, decente desamor

Dos dois desatinos dádivos
Deixei-o descanssado, e doeu
{o coração}
Decorrente do desprezo diferente
Decide deixar de deprimir-me, eu.

domingo, 14 de junho de 2009

Eu mesmo

- Quem?
- Não vi. Só sei que sofri.
- Por que?
- Não sei. Só sei que doeu.
- Muito?
- O bastante para ainda doer.
- Mas está melhor?
- Não sei. Mas chega de falar de mim.
- Mas sou você!
- Poxa.

domingo, 7 de junho de 2009

No quinto

Se você não se lembra, vou te contar. Eram os quatro dias do homem. E ele faleceu antes do quinto. Foi parar no quinto dos infernos. A única coisa que fazia era vomitar e ter azia. Era chorar e se debater. Gritava onomatopéias. Brigava com o cano que o fazia respirar.

O que eram aquelas pessoas? Sabe? As que estão em volta dele? De onde ele veio? Quem era aquele ser?

Conhecer a si é atingir a memória? Interpretar o sensível é entender o mundo? Calma... No resumo que crio, vai entender:

- No primeiro dia, nasce e vai brincar;
- No segundo dia, corre até se formar;
- No terceiro dia, trabalha feito uma mula sem descansar;
- No quarto dia, treme e se cansa, mas volta pra trabalhar;

Antes de chegar ao quinto, dorme.

Mas e o cano? O que te prende? O que segura sua vida? Meu Deus, e o cano? O respirador? Criador de sonhos, quem sabe, ó cano!? Gerador de ar? O que ele fazia ali? Era um simples "faz-me viver", uma ereção da vida.

Os quatro foram mais que o suficiente.

Na verdade, nunca iria se conhecer, e nem o porteiro, a garçonete, o presidente, o carpinteiro, a flor...

O quinto seria mesmo uma bosta.

Game over...

Continue?

10,9,8,7,6,5,4,3,2...

Start!

O jogo da vida recomeça...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Bica de sons

Despreparados tocaram ao céu um acorde de choro. A nota não pertencia ao estilo, nem às nuvens. Lagrimas cairíam se não fosse de choro. Contagiavam o povo com seus instrumentos e sons. Emocionaram a platéia com tamanha simplicidade, que já até estão dizendo pela cidade que melhor música não há.
Desassossegados tocaram ao léu belo som num banjo. Esbanjo celeste de tom e som. Causavam discórdias, cantorias, bebeção de cerveja gelada, com limão, que acompanhava a linguiça com pão e tinha até a salada no tão sonhado mês de verão. Nas mediações do boteco já dizem aos petelecos que melhor não há.
Desintoxicados tocaram o véu da moça. Cantada no choro de um homem sem fé, pé, ré ou fá-dós maiores. Não há bicas de som puro como água, nem mesmo em outro tom. Não há mais veneno, só a música que cura. Cantando desamores o homem perde seus temores, e até já estão dizendo por aí que remédio melhor não há.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Engenhoca

Ao se mover para trás, o martelo comprime uma mola tensionada. No mesmo instante, algo faz com que o cilindro gire, o que posiciona a catraca para a próxima câmara. Em poucos milésimos a mola comprimida impulsiona o martelo. O martelo gera faíscas que liberam um gás. O gás liberado queima o propulsor. Finalmente, a pressão do gás impele a bala para fora do cano, e o dono do dedo que apertou o gatilho tem as mãos suadas, pequenas, dedos feios com as unhas roídas. Um simples desnorte trouxe a morte para si. Foi naquele dia quando sua tia gritou “Seu Inútil”. Ou foi também quando, de dentro da escola, sua mais linda professora balbuciou “Seu burro”? Ou pode ter sido no dia que o pai falou “Imprestável”? Coisas de adulto. Mas quando se é velho demais para aceitar, quando se é novo demais para sentir, os nervos a “flor da pele” recriam a “flor da idade”, e se fecham num botão. Botaram aos bocados em sua mente as verdades deprimentes de se ser adulto. Fecharam as possibilidades, abriram seu cérebro e despejaram o que quiseram. As cenas iam passando velozes, o ciclo havia se fechado. Não aceitou em nenhum momento ser assim. A bala já ultrapassara dois terços de cano. Mais do que havia vivido o menino. Dois terços para duas tristes senhoras, sentadas num canto da igreja, concentradas no canto do padre, para poderem quem sabe dar um cantinho no céu para aquele jovem menino. Dois terços de jovens que passam alguns poucos anos ouvindo bobagens dos mais velhos, para se sentirem adultos demais, para serem responsáveis demais, para crescerem rápido demais, fazendo coisas demais. E tudo é demais nessa idade. Legal demais, difícil também. Há mais, muito mais de dois terços de crianças sentadas em salas de psicólogas falando como adultos, dos problemas dos adultos. A bala não pertence mais ao cano, nem a arma, nem ao dedo, nem ao dono da arma, o pai do menino. Pertence ao ar. O mesmo ar que conseguimos todo dia tornar mais pesado, mais denso, mais completo. Que descobrimos suas partículas mais mínimas, mais complexas. E vai se tornar pensamento. Mais um naquela cabeça jovem e tão experiente, infantil e tão madura. Da escola pra natação, da natação pro inglês, do inglês pro judô, do judô pro Kumon, do Kumon para as aulas de reforço, do reforço pro piano, do piano ao seu quarto. No seu quarto sua mãe apaga a luz e vai embora. No seu quarto seu pai mais um dia não entra. Do seu quarto ao quarto de seus pais, no quarto de seus pais o armário, do armário sai a arma. A mesma parada a centímetros da cabeça daquele menino. O beijo da bala foi dado. Foi até bom. Aos 13 anos, a vida realmente era dura demais.

sábado, 23 de maio de 2009

"A"

Estou fora do mundo durante alguns dias. Caso queira me encontrar, procure onde tenha sombra, onde alguém se esconde, onde brincam com a falta de luz. Cansado demais pra tentar melhorar. Estou tonto, bruto, seco, curto, sem vida, vaidades. Sem rumo, rota, restigios de auto-estima. Recrio todo dia minha nova vida. O que estou fazendo aqui? Melhor impossível para estar afundando. Logo agora, sozinho. Ora, queria mesmo que andassem as horas, para ver quanto tempo preciso a partir de agora para poder novamente viver sem essa maldita indefinição.

Derrama de Ti

Da vontade de ser amado, surge a dor. E a dor daquele rapaz não era diferente das demais, já que sonhava sempre em poder ter ao seu lado aquela moça. Naquela noite, veio o resultado. Escoando ser a fora, as derradeiras sobras saíam sem cessar. Derramados, deixavam pálido o rapaz que realmente precisava daquilo. A catarata constante que despejava as decepções, o milho cozido, o extresse que era submetido quando no trabalho a porta se abria, e dela saia um rosto que cantava problemas, a confusão de achar que o que sente é realmente o que acha que sente. A dor da perda, aquela não gritada aos quatro ventos, e me mantendo nesse lugar comum, todos os quatro ouviam de longe seus ruídos. Todos ao seu redor o olhavam se divertindo, talvez fosse normal. Mas para o rapaz o momento era meio divino, era de uma substancialidade impar, ou par, ou cômica, ou divina, pois perdia aos poucos a sujeira que tanto contaminava seu ser. Ia se perdendo em pensamentos, sem controle algum de si, agarrado ao que podia, recebendo os cumprimentos de amigos. Mas lentamente, o corpo vai voltando. Os olhos vermelhos e molhados demonstram a vida difícil, o momento da separação entre indivíduo e essência. Essência negativa, que a fraqueza do corpo e as excessivas doses de uma noite que não pode ser lembrada. Um último sinal ainda aparece e marca aquele marcante momento. Aliás, feliz? Seria mesmo tal fuga feliz? A verdade é que você, meu caro leitor, não poderá julgar tais atos, já que tem sim seus meios de encontrar a melhor forma de curar-se. Eu culpo a sociedade, mas não considero a autoflagelação algo tão cruel, e posso garantir que tem seus métodos para fazê-lo também. Sofre agora o tanto que precisa. Deixa que do corpo suma o que em outros dias é a doença que leva embora. Mas faça bem feito, porque o limiar entre doença e tristeza, está em quantas doses a mais você consome.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Desde antes do fim - Parte 2

Finalmente chegamos ao tal planeta Terrus. E imaginem a surpresa que foi a hora que descobrimos que não tem oxigênio aqui!

Brasil...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Do amor (ou da dúvida)

Dizes que ama?
Não creio, que pode ser assim
Bobagens são mesmo o fim
Dessa linda estante com cupim
Que tornaste nosso amor

Dizes que ama?
Diga a vós o que acredita
Mesmo quando, de si dúvida
Sua bela e esmera vida
Não é mais que vulgar dor

Dizes que ama?
Então prova ao coração
Busca cuidar de sua benção
Visa calar as vossas críticas, não?
Ama a si mesmo, ou o que for

Mas não dizes que ama
Aquilo que pesdeste tendo
E que sempre duvidou

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Arte de ser "Trouxa"

Acho que agora vai. Acho que de uma vez por todas vou deixar de achar. Acho que daqui pra frente a certeza se tornará minha norteadora de novo. Me sinto útil , assim como se sentem os verdadeiramente úteis. Aqui, faço uma parêntesis: O que escrevo nesse texto, é visto por muitos como um simples desabafo em um mero diário. Como os não críticos literários, ou alienados da comunicação podem perceber, tento sempre universalizar meus conflitos internos. Portanto, a partir do próximo parágrafo, retomarei meu raciocínio: "Próximo parágrafo, por favor!".
Útil por me fazer participante do mundo das sensações, e não simples e inato ao que se pode esperar dessa pessoa que está ao seu lado. Os casamentos, em geral, devem ter tal problemática. Tudo que se consegue, que se tem, perde a graça. E para tudo que possuímos, não damos o mesmo cuidado do que aquilo que não temos. E continuando nesse lugar comum, por que desprezar aquilo que se tem na mão? Pois então, acho que estou conseguindo entender esses tais argumentos! A resposta é simples. Por não sentir amor por aquilo. Sei que não soa nada genial, mas aguente, logo vem algo melhor.
Em uma sociedade que tem como meta o consumo, nossa vida gira em torno disso. Consumimos produtos, serviços, e inclusive amores. É verdade! O amante é um empregado, um produto, um serviço. O empregado é dispensável, o produto sai da moda. As vezes o serviço trás a pessoa para perto, por mais tempo. Daí surge o velho discurso sobre não conseguir se separar de alguém que não quer mais...
Tudo bem, talvez não tenha me explicado tão bem. Vamos mais devagar. As características personificantes do produto, em minha analogia, se limitam a utilidade estética. E não digo beleza e feiúra. As vezes aquilo enjoa. É como trocar um celular: o velho era lindo e prático. Mas existem outros tão melhores!
Se quando a comparação se faz com o empregado, tento atingir o aspecto serviu dentro do relacionamento. São as tarefas mais materiais. "Eu lavo a louça", "Te ajudo com isso", "Te faço carinho", "Te passo o creme", essas coisas... O fato de, por exemplo, deixar de ver gente, amigos, sair, se divertir, impostos pelo parceiro, como um patrão impõem ao seu empregado.
E há o Serviço. Uma diarista, um produtor de evento. O Serviço, nessa louca teoria, seria tudo no que se auxilia psicologicamente. Daí sim, há uma ligação. Coisas do tipo a pessoa que te coloca no colo quando você chora, que te dá carinho mesmo após surtos violentos, que não sai do seu lado, que supri suas carências. Sem citar, é claro, o quando a carência pode ser suprida por qualquer um, carência de qualquer tipo de afeto, mas como você é o único que está lá, vai isso mesmo! E dentro do Serviço, também se insere o sexo, o beijo, o corpo. Ou seja, a maioria dos relacionamentos se baseiam na visão capitalista de Serviço (assim como há pessoas que não vivem sem uma diarista, há quem não viva sem banco e ninguém vive sem médico).
A diferença é que amor não é um sentimento capitalista. E nem socialista, comunista, nada disso. Amor é uma forma de sentir suprema, que já foi metaforizada nas formas mais incríveis possíveis. A diferença é que enquanto não deixarmos de olhar o amor pela visão lucrativa, continuaremos nos afundando, banalizando todo e qualquer sentimento bom, enquanto cantamos bêbados músicas que incentivam a banalização do sentimento, do olho no olho, do amor tranquilo, de entrega, de paz.
O ser humano, cada dia que passa me dá mais nojo. E pensar que sou um deles, me faz questionar o porque de estar vivo. Mas esqueço tudo. E faço da vida, a arte de ser trouxa.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Último Suspiro

Se somos tão jovens como somos
Se a tua força ainda me faz forte
Se aquele dia sobre as águas ainda existe
Se a tua pele se faz presente em meu nome
Se o teu cabelo tem o meu corte preferido
Se a borboleta em suas costas se faz presente em mim
Se sinto o cheiro do seu quarto no meu
Se te abraçar ainda não precisa ter fim
Se a tua boca combina tanto com a minha
Se quando fala é tão articulada, inteligente
Se tanto elogia minhas idéias
Se admiro seu ser consciente
Se entre pernas e braços me perco
Se o teu corpo é minha religião
Se a minha lágrima é tão salgada quanto a sua
Se por você eu iria pra Lua, rua de trás
Se nunca mais fosse feliz de viver
Voltaria feliz pra ser infeliz com você
Se a minha mente se lembra do beijo
Se aqueles três se tornaram um milhão
Se realmente acredita que não te mereço
Se ninguém, afinal, me diz o que mereço então
Se ainda me olha como sempre olhou
Se muitas vezes você implorou
Se tantas vezes, por ti eu mudei
Se outras tantas também implorei
Se o meu começo e meu fim tem você
Se com você aprendi ser melhor
Se você comigo também é tão melhor
Se ainda assume não consegue ser só
Se ainda diz que me ama com força
Se ainda sabe do meu grande amor
Se bem conhece o carinho que existe
Se tem lembranças doces e de dor
Se já doeu tanto, vamos lá!
Se já que essa tal dor não teve fim
Se eu nunca mesmo cansei de tentar
Se o teu corpo foi feito pra mim
Volta pra casa e pense melhor
Eu vou sentar e esperar se lembrar
Do abraço na praia, do beijo no Hotel
Das briguinhas por sono
Do céu... nosso céu!
De hoje em diante posso sim ser só
Mas se somos tão jovens como somos
Vou esperar uma vida, só uma
Pra não mais ser pior
E fazer da essência do amor, novamente pura.

A nova vida

As paisagens me levam de volta
Nessa estrada bem feita, pra onde
Talvez possa viver minha vida
Esquecer-me da dor de ir pra longe
E a ferida nunca existiu
Talvez seja feliz como sempre
Talvez cresça vivendo sozinho
E não erre tanto como antes
O bastante é o que me arremessa
Ter bem mais, minha motivação
Mas agora a paisagem que passa
É o contrário dessa condição
Pois o chão que hoje piso não é
Simplesmente banhado de fé
tem também uma força de pé
E raízes fortes da canção
Mas o simples fato de o Sol
Invadir a janela e a flor
Alimenta o espírito e a planta
Anseia bem menos do que ele alcança
Na viagem hoje me distancio
Minha mente de outro lugar
Quero as vezes sorrir sem ter medo
Como o Sol, invadir e brilhar
Faça aos poucos o que falta pra mim
Reacendo a esperança de crer
Reaprendo o perigo de andar
Sinto nas costas a dor de crescer.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Medo

Não tenho medo
O medo quase sempre é ilusão
Tenho um segredo
Que causa muito mais que comoção
Tenho um brinquedo
Que me dá muito mais que diversão
Mas é tão cedo
Pro medo continuar a dizer não

Não, não posso lutar
Me sinto bem nessa situação
Pois se eu me machucar
A minha fé se torna falsa em vão

Tão bonito,
Um Deus derrotado que vence ao final
Sem ter medo
Mas nem dessa forma parece vital

Eu troco rumos, eu troco as palavras
Mas o mundo continua igual
Tranco os fundos, ligo a luz da sala
Mas meu medo parece normal

Num palco negro
Vivemos nossa invenção
Pra não ter medo
Sou personagem, criação
Sou pensamento
Forte em sua interpretação
E a noite o medo
Me faz sorrir de solidão

Ah... Pra que lamentar
Se é tão sozinho quanto escolheu
Um ser melhor existe em todo lugar
Parto sozinho pra ganhar o que é meu

Somos ilhas
Em lugares sujos, vazios, sem mar
Retrucando sedentos
Encontrando algo pra querer lutar

Eu troco rumos, eu troco as palavras
Mas o mundo continua igual
Tranco os fundos, ligo a luz da sala
Mas meu medo parece normal

domingo, 12 de abril de 2009

Pensamento

Ah... se somos tão burros como somos
Se nossas mentes não sabem viver
Se meu espírito esquece de entender
Que nos respeitarmos é a fonte do ser
Se um pensamento é mesmo ruim
Se eu prefiro sofrer mesmo assim
Se não existe mais nada ruim
Se minha vida é teu resto em mim

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A = π.r²


Meu círculo torto tem traços rabiscados tentando contornar sobre a linha anterior o mesmo trajeto. Mas minhas mãos tremem ao tentar concretizar tão simples missão. Com o mesmo punho que escrevo agora, que toco meu violão com firmeza, não consigo nunca dois círculos iguais. Quase nunca as duas pontas se encontram. É como se fugissem de mim. Domino a arte de fingir que sou artista. Mas não consigo juntar as duas pontas de um mesmo círculo!

Mas o mais interessante é que mesmo sem se unirem de frente, as linhas acabam se cruzando. Imagino como se fossem para lugares diferentes, quebrando a mesmice cíclica sem fim do círculo. São infinitas tais linhas, que parecem surgir de um ponto comum, cada uma para um lado diferente.

Assim como minha vida, cada ponta se distancia da outra, fugindo de ser si. Despedem-se e vão até onde a caneta quiser. Rabisquei violentamente círculos no papel. Vi milhares deles, e todos surgiram de um mesmo ponto, nasceram juntos. Giram procurando encontrar a outra parte, que fecha o círculo.

Buscamos todos os dias nossa outra ponta. Somos desenhistas frustrados, sem compasso, pressionados pelo mestre "tempo". Tentamos às vezes a vida inteira completar o círculo.

Mas nosso punho treme, despreparado. Ansioso pela perfeição do círculo, tenta sem sucesso. Quando encontram-se as pontas, temos um cículo torto.

Mas e quando conseguimos? E quando o belo e perfeito círculo se encontra feito? Giramos novamente? Repetiremos novamente o feito?


Não. Nada disso.


Somos a área interna e externa do círculo. Somos tudo, pois encontrar-se em outra metade de si é despertar a essência sem máscara. É poder ser tudo. Daí conseguimos a beleza da arte.

Da arte de viver, de se gostar, de ser sempre a soma de todas as coisas.