terça-feira, 9 de novembro de 2010

Abri essa página umas 7 vezes nos últimos meses, sem sucesso.
Hoje é a oitava.
A inspiração não vem.
Não veio.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os títulos andavam muito tristes... pois... Chocolate!

Não tenho postado tanto, mas não abandonei. Entro sempre, vejo quem me segue, quem comenta. Só que estou escrevendo o esboço do que será meu primeiro livro. Além disso tem o estudo, o trabalho, o namoro. Ando correndo de novo. A vida anda boa. To só avisando, não suma. Passe sempre. Leia textos antigos. Mande um recado me xingando. Perca seu tempo aqui. Que volto com um conto novo, voando.

domingo, 15 de agosto de 2010

Insônia

Insônia insolente. Rolando de um lado pra outro garganta apertada. Insensível desalmada. O cansaço existe e persiste e desiste. Invisível cretina. Me pega e sacode e balança meu dedo veloz no controle remoto. Desrespeitosa salafrária. Sonoleima-me e me engana e sacaneia-me e me frusta e saboteia minha trama de deitar em minha cama confortável e adormecer. Perpétuo infortúnio. Não tem livro arcaico e nem filme chato e nem música lenta e nem programa de rádio e nem cigarro e nem remédio e nem porra nenhuma. Penitência arraigada. Daí caminha e bate papo se sozinho mais se fode não tem vírgula nos pensamentos não tem pausa ou intervalo ou qualquer coisa que te faça respirar tranquilamente. Compulsiva periperte. Pescadora de gente ansiosa e ociosa ou simplesmente odiosa em algum momento de descontrole no pensamento e pode ser ensandecente não dormir se lá ficar sem desistir. Despresível atordoante. Liga-se a luz e a televisão continua ligada e o livro continua aberto e a internet continua conectada e a sua mente continua veloz e seu corpo se mantêm calmo se teu corpo não se horizontaliza e isso são vestígios de infância que é coisa de criança não querer dormir mesmo sem se aguentar. Silogismo ilógico. Do nada param os pensamentos e voltam a ficar mais curtos e você nem percebe. Alguma ideia cobre outra que acaba fazendo você não pensar na primeira. Do nada o corpo se acalma e os bocejos voltam. Cada parte tensa se alonga. O corpo repuxa. E você acorda na manhã seguinte, televisão ligada em um canal que você odeia, sentindo um que de noite mal dormida, se achando um demente. Insônia insolente.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dor

Já se sentiu desesperado? Já deixou as lágrimas caírem na boca para sentir o gosto salgado e o nojo de se deixar entregar a dor? Já se sentiu em meio a uma situação em que ela parece tão incomoda que é cômoda? Já teve vontade de ver a pessoa amada com a nova pessoa? Pois o homem que escovava os dentes por minutos intermináveis e olhos vidrados no espelho, não sabia mais ao certo o que estava fazendo ali. Algumas vezes sentia a garganta apertada, se lembrava dela. Sua imagem. Imaginava-a tendo orgasmos com um desconhecido qualquer. Imagens surgiam do nada, sentia prazer com sua dor. Saiu do banheiro, chinelo molhado grudando no piso que deixava molhado no corredor que tantas vezes ficara molhado pelos pés dela também quando, ao sair do banho iam juntos. Incontroláveis. Eram as paredes que encostavam em suas costas e o piso úmido o mesmo que ouvia seus urros meio abafados, aquelas que já tiveram outro corpo. Tantas e tantas outras coisas. Do jantar que sentado na mesa sozinho, restavam apenas os ovos mexidos cheio de bobagem da geladeira, iguais aos feitos naqueles dias. Será que ela comia ovos com ele também? Seus olhos lacrimejavam e saíam de sua boca as mesmas promessas para esse qualquer? Ele sonhava enquanto pensava nisso em poder ver mais e mascar a dor. Já que não podia mais respirar tranquilo, queria que a dor fosse cada vez maior. Queria mesmo se fechar. Ouvia a canção mais triste que podia. Sabia que ia passar. Não sabia quando e nem porque. Desenhou linhas em uma folha de papel. Rabiscou palavras soltas. Queria arrancar todos aqueles pensamentos de sua mente. Assistia a filmes pornográficos na televisão por distração. Via programas alheios. Evitava coisas sobre morte. Queria algo sobre amor. Aqueles bonitos. Daí chorava. Chorava mesmo tudo o que podia. Ela não era daquele tipo que sempre se entregava? Como era doce pensar nela se entregando como sempre fazia! O quanto prazer não sentiria. E a dor tinha um gosto cada vez mais doce. Ou amargo. Aquele do café com cigarro. Aquele de folhas fortes. Aquele de chá sem açúcar. Aquele de amor perdido. Passional. Nada pacífico. Que destrói por dentro. Pegou da mesa aquele caderno em que ela rabiscara seu nome jurando amor eterno. Pendurou na parede. E dormiu sentindo o prazer da dor. Acordaria no dia seguinte e o que faria? Ele não sabia, mas como onipresente, conto-lhe. Sofrerá mais um mês. Pensará mais um ano. Uma noite acordará e não lembrará mais dela. Irá rir um dia inteiro contando como era. Sofrerá cada dia menos, cada dia mais. Mas no final de tudo (prefiro sempre assim) será feliz. Mesmo morrendo sozinho. Mesmo digerindo dores.Ou paixões doloridas. Ou amores. 

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um segundo

Enquanto as sombras cobriam aqueles dois olhos castanhos e ofuscavam sua vermelhidão, aquele nariz com ponta circular, traços finos, com a boca pequena, lábios duros, pele branca meio corada de Sol, a luz mostrava um corpo magro, muito magro, de uma fineza que parecia fazer quebrar ao toque. Não sou lá muito bom em detalhamentos, nem perito em descrever pessoas. Tanto que essa descrição não faria nem a Cia encontrar a tal pessoa baseado nisso que digo. Mas o que tento explicar é que era algo entre o masculino e o feminino, entre a leveza feminina e a incurvilinidade masculina. Essa cena coberta entre as sombras, ao se afastar mais para a direita mostrava, pela mesma luz que iluminava parte daquele corpo, uma cadeira de madeira marrom com jeito de casa de vó. Completando a cena, uma mesa de canto e um telefone, um sofá vermelho com um controle remoto e uma almofada preta pequena, além de um lápis e uma folha. Esses eram os objetos da esquerda. Nas sombras estava a televisão desligada, um aparelho de DVD e um toca-disco. Em cima, um livro de Goethe, outro de Drummond e umas tiras do Calvin, em livro. Mas isso tudo encoberto pela escuridão. Continuando o momento escolhido por mim, notem o espelho. Barroquices a parte, o espelho mostra uma segunda pessoa. Mostraria se luz tivesse, portanto, segue a como seria. Mais visível que a primeira, mais sem mais descrições por minha parte no momento. Ainda se notava o outro sofá, maior que o primeiro, mas não se observava o que havia de objetos. Mas, haviam mais livros e um Ipod com fone de ouvido. A luz vinha de um abajour que enfeitava a parede que a primeira forma observava, próximo à janela. A luz ficava por trás da segunda pessoa de pé, que seria apenas um espectro pelo espelho. Era um apartamento. Do lado de fora da janela via-se uma noite meio vazia de luz. Nem Lua, nem estrela, meio nuvem, meio jeito de céu mal pintado por criança preguiçosa. Desço a cena alguns andares. Aliás, vou passando andar por andar. Nada de interessante noto. Só TV ligada e a sagrada reunião em torno. Chego no chão. Lá se percebe um carro parado, cor preta e uma luz que pisca vermelha no para-brisa. Deve ser do alarme. Mas a cena parada não mostra a continuidade da luz. Há uma outra que vem de um caminhão de lixo que passa pela rua que apertou o freio naquele instante, e a intensa luz vermelha veio bater no vidro do carro. Se misturam com um sinal vermelho na esquina onde passam carros. Agora não mais. Há um branco e um prata parados nesse farol, mas suas visões são bloqueadas pelo caminhão. Isso se observando de dentro do carro preto. A cena anda. Poucos segundos. Agora o rosto também se mostra tenho que mudar o foco e mostrar o rosto que vimos apenas no espelho. Rosto de senhora em começo de feira, normal. Corpo de casada, mãe bem mãe, que cozinha e que passa, que não corre nem anda, que não é gorda, nem anoréxica. Corpo médio. De mãe, oras. Os passos que ela dá são em direção a um objeto ainda não citado na cena. Estava no chão. Era um batom. Cor vermelho, flutua na mão da senhora. Vai em direção das fina forma. Nota-se agora naquela figura algo de menina. O corpo era grande e fino. Mas é mesmo uma menina, não passa de 13 anos. O batom é entregue a filha. As lágrimas que estavam a meio dedo dos lábios da menina em minha primeira descrição, agora já pingavam da face, enquanto cessavam dos olhos. As duas se olhavam de olhos atentos. Os carros lá de baixo voltavam ao barulho normal, o vermelho já se tornara verde e a tal luz no vidro piscava. O lixo já havia sido recolhido. Depois que pegou o batom e foi beijada, foi em direção a uma escrivaninha situada perto do abajour, que não antes descrevi por questão estilística. De dentro da gaveta saiu um notebook. Do outro lado da sala, a mãe pegou o livro que estava em cima do toca-disco. Pegou o papel e o lápis no sofá e escreveu: "Hoje minha filha ganhou seu primeiro batom. Se assustou com a ideia de crescer. Arremessou-o ao chão e disse que não queria ser mulher. Seu corpo era diferente aos das outras meninas. Era sem graça. Sem açúcar. Sem curvas. Daí disse o que ela precisava ouvir. Tivemos daquelas eternidades que duram segundos. Voltarei ao meu Drummond. Estou feliz demais pra ler aquelas cartas tristes daquele rapaz. Espero que esteja bem, meu amor. Com carinho... sua esposa". Se levantou e abriu uma gaveta embaixo da televisão, colocou o papel onde via-se pelo menos mais 20 iguais a esses, é claro, com diferentes conteúdos. O que ela disse para menina? Algo dessas coisas que diz mãe que dão aqueles baques tão baquentos. Aliás, a cena que acompanhou foi essa pequena eternidade. Sabe aquele segundo que gostaríamos de levar para a vida inteira? Sabe aquele momento que nunca se esquece e que a gente nem lembra como foi? A vida é a soma de um monte deles. As cartas eram pro pai, que trabalhava e vinha uma vez por mês. Ela as escrevia para lembrar de tudo que passara durante seus dias ausentes. A menina, no outro canto nem sonhava com isso. Abriu sua página pessoal na internet. A luz já tomara conta de toda a sala, e do espelho a mãe conseguiu ler: "Uma mulher". O vermelho nos lábios da menina foi mais um detalhe entre as vermelhices daquela noite. Criança preguiçosa gosta de cor. E sabe de cor como dar o toque final. Daí a cena corre... e acaba.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O que há de menor

Aumentam-se as vitórias e na mesma proporção, as doenças do ser. Durante um período longo da vida não tinha nada. Ao ganhar, me senti menor. Antes era o que não tinha assim como muitos. Agora era o que tinha menos entre os que tinham. Busquei ter mais. Trabalhava todo dia, ganhava pouco, estudava pouco. Cresci nos negócios, ganhei meu dinheiro. Mas ainda vivia uma vida de classe baixa. Era a elite de quem não tinha nada. Quis mudar. Estudei mais. Me tornei um universitário. Era bolsista. A empresa era minha. As coisas iam bem. Era grande, a empresa ainda pequena. Estava entre os melhores no meio dos menores. Quis ser grande. Me engoliram. Quis mudar de cidade. Mudei de ares. Mudei de curso. Fui para uma grande universidade. Morava bem. Era um pequeno chegando entre grandes. Era Classe C ou B. Era o pior entre os melhores. E assim a vida caminha. É assim que as coisas andam. Me contaram que parado não sinto que estou preso. Mas se sempre estou preso, não era aqui que eu deveria ficar? Como dói lutar. Como incomoda crescer. Acho que como comentaram, sou parte de uma geração que não sabe crescer. Que tem tudo na mão. E mesmo pra quem não tem nada, tem muito. E não me venham dizer que são imposições capitalistas, não. Estou tão dentro quanto todos. Discutir conceitos sócio-econômicos-psico-somáticos as 4 da manhã em uma madrugada onde a morfologia deveria ser sua companheira de trabalho demonstra o quanto é difícil conviver com as coisas. Todas elas. 
Acho que esse desabafo me bota de novo na ativa. Tenho passado meus dias lutando. Esqueci um pouco dos meus sonhos mais impossíveis. Aprender a escrever é um deles. Portanto, sem comentários nesse texto dizendo que não gostam dessa estilística. São pouco Guimaranianos.
Faço meu back-up mental pois não ando muito vazio. HD cheio. Ideias embaralhadas. Corpo doído. Tenso. Confusões mentais. Ociosidade morta. Leio pouco, escrevo nada. Dou algumas aulas, meus projetos me empolgam. Não tenho tempo pra comer direito. Não tenho saco pra dormir. Não tenho paciência nem mesmo pro trabalho. Senti as amarras e não gostei. Me de o conforto da minha fria prisão, escondido sozinho. Com "belas manhãs", "sorrisos de criança", "belos sonhos", porque pensar a vida toda pra pensar numa obra (que aliás é a própria vida) e ser motivo de riso, ser alvo de comentários ácidos, ser considerado egocêntrico, egoísta, intrometido, folgado, ganancioso, e um encaralhado de adjetivos desse peso não está nos meus planos. Aliás, está nos meus planos esquecê-los. Todos eles. Dar mais uma pausa gigante. Acho que é por isso que não termino nada do que começo. Porque deve ser muito chato subir mais um degrau. Depois do meu primeiro livros, terei eu que escrever outros melhores? Depois do meu primeiro milhão, não haverá torcida pra que eu o perca? E como ganharei o segundo? Não serei o menos rico entre os ricos? Cansei da disputa. Cansei de tudo. Olhou pra mim atravesse a rua. Atravessou, corra. Ando feliz. Com o que, não importa. Já basta de olho grande. Pois de resto, dava pra ser grande, se não estivesse entre o que há de menor. 

domingo, 20 de junho de 2010

A nauseante flor contemporânea

Por entre os olhos jovens da minha geração
Vejo um olhar meio cínico que tenta contornar
Tudo que de chato as lutas velhas almejavam
Que sem sorte, tentaram e ferraram esse lugar

Nasci em meio ao fim do sonho

Meio fio histórico, vitória da lenta luta
Lida hoje por olhos sedentos do sangue de qualquer luta
Buscando algo que eu acredite, entende? Algo de luta
Olho de quem nunca enxergará (destino filho da puta)

Nasci em meio ao marasmo histórico

Hoje as ruas estão cobertas de flores
Que nem sei mais se são realmente feias
E nem ao certo se são realmente flores
Mas não se diferem nem das flores, nem das feias

Nasci em meio à nova onda desacreditada

A ditadura era quase uma antiga realidade
A democracia era uma quase nova realidade
Que de real e de verdade, não houve, ora, hora certa
Nem mesmo algo que realmente tenha dado certo

Nasci em meio à revoltados pós-revolucionários

Hoje se criam revolucionisses pra ver se cola
Criam-se novos estilo musicais e literários pra ver se cola
Repetem-se os mesmos erros dentro e fora da escola
Colam-se as provas, as citações, crimes aprendidos na escola
(e merece uma breve quebra revoluciosa [pra ver se cola]
que em brasília [em minúsculas] o crime tem feito escola) 
                                                                                           [Amém]

Nasci em meio à era democratizante, descentralizante, neoliberalizante

Cortaram uma flor cinza que nasceu no coração de um jardim florido
Aprendemos a fazer certo, (errado) mas sempre florido
Cortaram a tal flor, que era mortal, em meio ao florido meio nacional (florido)
E entre vitórias, revoltas e paralisações, continuo sempre fudido

Nasci em meio à mesmice cíclica do não ter o que dizer...

Por isso, sem fôlego, escrevo por escrever
Discuto por discutir
Me faço eufêmico pra não ferir
Conto pequenas inverdades pra não mentir

Nasci em meio ao tédio teórico. 

Ou me entrego ao nostalgismo dos clássicos literários
Ou me entrego ao clássico ostracismo literário

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rolimã

Viu na ladeira o menino farroupilho sentado em madeira velha. Rodas girando. Alta velocidade. Corpo e complemento eram menino e pedaço de pau. Se para a direita o cérebro movia os ossos, para lá iam os emadeirados. Viu e gostou, sorriu e pensou que talvez mais velocidade faria bem para ele também. Imaginou o tanto de coisa que faria, o tanto de lugares que poderia estar em pouco tempo, as coisas que veria. Ir ao Japão ou a China, hein? Mudar de ares a todo tempo, viajar, ver o pai que mora longe, ir na padaria comprar pão. Era ou não uma tremenda solução? E os dias que chegava aquela tia chata, poder fugir sem ser visto, correr o máximo que podia. Ia ser uma delícia ter o vento batendo forte na cara. Ia compor seu espírito de coisas boas, de energia, velocidade. A adrenalina ia lhe fazer bem.
Claro, caro leitor atencioso e detalhista, que ele não tinha consciência desses acontecimentos, que narro como narrador "heterodiegético colegiado" que lê na essência humana o que um corpo sente ao sentir tamanhas sensações benéficas ao bem estar. Claro que percebeu meu tom retórico rebuscado rente ao rito da criação literária. E também óbvio é o fato de ter compreendido no fundo de sua alma que falo de alguém que ainda não disse, mas sabe quem é, mas não minto em tal afirmação e era exatamente aquilo que sentia, como já antes afirmei, sem saber. Aliás, ainda não te contei, como vistes, de quem falo e ora, não padece levar o dia todo pensando e repensando, retomando e tramando as ideias, para notar que se trata de uma criança. Quem a não ser ela desabrocharia em sonhos tão velozes de maneira tão ímpar? Quem seria tão ingênua a ter de desejo uma tábua e rodas de rolimã? Não falei de carro importado, de avião. Sabe disso. Falei de pau velho, madeira podre.
Passada a intromissão lírica do meu eu, retomo e conto que andando pela rua, o menino e o irmão estavam. Quando de súbito encontrou. Olhou ao irmão que sem entender retribuiu com um olhar confuso. Abaixou e encostou no objeto. Nos seus muitos 4 anos de vida, nunca havia pensado em realizar tamanho sonho. Era perfeito. Não sabia ele que o dito cujo outrora fôra uma caixa de fruta, daquelas que se vende uva e que agora estava aos pedaços. Mas era o seu passaporte para o mundo. A possibilidade de conhecer todas as coisas. Pegou a velha caixa. O irmão soltou um "Solta isso", que efeito nenhum surtiu. Desistiu e sorriu. Foram pulando felizes. Na esquina a mãe olhava com olhar vívido. Os olhos do garoto brilhavam. A mãe parecia confusa. Na cabeça do menino a mãe já gritava de felicidade. Era o seu momento. Sua conquista. Corria pulando, como em conto de fadas. Chegando na esquina, um sorriso na face. A mãe o olhou. E daquela distância gritou a todo o pulmão, para quem quisesse ouvir: " Larga esse lixo agora, seu capeta!"

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vida curta?

Outro dia ouvi dizer que a vida é curta, e que "portanto curta a vida" e trocadilhos assim. De pensar melhor, sorri. Quanta baboseira dizem, não é? Querem mesmo me fazer acreditar que viver 60 anos, sei lá, é pouco? Que não devemos parar de fazer as coisas porque logo vamos morrer? E ainda com essa pressão infinita não me querem depressivo, ansioso, com crises de pânico e existencialismo? E se ainda, somado a isso, podermos posterior a vida viver mais, o que me diz? Daí me fazem correr para girar mais rápido a máquina econômica? Ratinhos rodando a roda que nunca soube pra que serve? E eu nesse esforço de ir bem rápido pois já vou morrer? Afinal, nessa vida, não a nada mesmo que eu seja obrigado a fazer!
Daí todo mundo atrasado, sem se olhar, se notar, perceber as coisas em volta, sem sentir, não dá tempo de sorrir, só quando para, mas pra descansar, que amanhã vai voltar, pra acordar, só sonhar quando em sono, no lugar, na manhã despertar, estudar, trabalhar, depois quando não faz nenhum nem outro, ir dançar, se esbaldar, se divertir, descansar, distrair, poder beber, ou fumar, mais cuidado pra não exagerar, a vida é frágil,  vá com calma, se errar, vai acabar, se medicar, não parar, não parar...*

* uma pausa pra respirar...

... não parar, pra seguir, conseguir, vencer, lutar, jogar, ganhar, viver, torcer, esperar.

Advogarei contrário a isso. Permanecerei inapto. Uns dias. Parado. Estática evolutiva. Estátua de homem. De carne e osso. Pensando sim, vez em quando. Respirando sim, sempre, pois a isso tenho obrigação. Sem discursos anticapitalismo, sem discussões teóricas sobre imposições sociais. Sem implicações maiores, nem menores na minha opinião. Parado. Só pra olharem, me encherem o saco e dizerem que não faço nada. Que a vida é curta. Ao que me bastarei em dizer: Cada minuto perdido na minha vida sentado sozinho em um banco de praça sem fazer nada vale o mesmo que um minuto fazendo o que chamam de útil. 
Quanto eu, escritor de futilidades, ou teórico da linguagem ou apreciador da literatura, faço crescer o PIB do país? Nada. 
Só tento fazer com que as pessoas parem um instante. Quem sabe nossos devaneios não possam servir de afago para que as pessoas responsáveis por aumentarem o que quer que seja possam se achar mais normais? 

domingo, 18 de abril de 2010

A lista

Abriu a lista de coisas a fazer. Abril, o mês já passará e ele nem viu. Talvez em maio ele possa acertar. Escolher outros dias pra comemorar. Olhou-a de novo e anotou o que já havia feito. Eram uns bons 20 tópicos, desde ligar para o banco até estudar sintaxe. Desde visitar sua mãe até voltar a correr. Arrumar sua casa, arrumar seu quarto e um otimista arrumar a vida. E assim ía. Reorganizou o cronograma. Pegou cada tarefa. Pegou cada obrigação, cada problema à resolver. E mandou pra putaqueupariu.

terça-feira, 30 de março de 2010

Sem som

Incerto ao seus ouvidos o que de nada há para ele. Insonoro sopro divino, musical. Sonso, sem ser santo. O som. Tentara tantas e tantas vezes explicar sem sucesso. Desde que nasceu, quando ainda em primeira infância ou já quando na escola via meninos e meninas se balançando motivados por algo que os unia. De lado, olhando para um amigo, gesticulou para saber o que era aquilo. Chegando em casa, se lia nos gestos daquela mãe mais uma vez:
" Filho.Tantas vezes já lhe disse. A música é um som. Não há como explicar."
Lágrimas, nem tantas, mas doídas. Como que algo assim não se explica? Sentindo nojo de si, correu e sentou ao lado do irmão. Esse também entendia os textos gesticulados, cada pontuação facial, cada elevação de tom das vozes corporais.
" Posso tentar explicar. Mas acho que não vai sentir o que é."
Pegou uma folha e um lápis. Ligou o som e rabiscava de acordo com o que, dizia ele, sentia ser a música. Ao terminar, a folha rabiscada foi destacada do caderno e observada por coisa de dias. E assim continuou.
Todo dia da vida, vidrado de tatear tácito vento trazente da música. Tentava triste, buscava e rebuscava cada novo conceito. Quando velho, já entendente das coisas, com teses acadêmicas sobre música e surdez, e coisas da vez, conheceu um menino sem som. Visível.
Se balançava como meninos e meninas que se lembrava. Algo o motivava. Era levado de alguma forma, mas não tinha poder para aquilo. Em gestos, os textos foram esses:
" Meu menino, o que está fazendo? "
" Estou dançando."
" Qual música? "
" A que está tocando agora. Não sente? "
" A música? Sentir?  E como você ouve? "
" Sabe que não ouço. Sinto. "
" Então me diga, o que sente? "
" Isso."
Manteve-se balançando. Olhos vidrados no céu. Não bem som, mas naquela tarde sentiu o que para ele, seriam algumas notas musicais. A água que desceu do rosto do homem que aprendeu com o menino sobre música, molhou nem meio palmo de chão. Mas a música que ouviu naquele dia fez com que o chão se abrisse, o céu se abrisse. Som com sentido, sentido.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Últimos passos

- E há quanto tempo buscava isso?
- Nunca busquei. Isso não se encontra assim.
- Calma. Você não me entendeu.
- Não, não. Quem não me entendeu foi você!
- Por quê?
- Isso não se acha, se ganha.
- Merecimento você diz?
- Muito mais que isso.
- Mais do que merecer?
- Não sei bem. Me parece mais. Há que ganhar mesmo, entende?
- Mas afinal, ganha quem merece oras!
- Tudo bem. Acho que merecimento pode estar certo.
- Como sempre, contradiz-me sem pensar.
- Faço isso por merecer, não sei se nota!
- Não merece nem meu riso, seu idiota!
- Mereço pois o tenho.
- Mas merecimento nem é tudo mesmo, né?
- Provaste a mim do contrário.
- Provei nada. Se cansou de argumentar.
- Nunca me canso.
- Por que não?
- Porque você não merece.
- Pois, não?
- Talvez um pouco.
- Você é ridículo.
- Sei disso.
- Mas se não buscava, o que fazia?
- Esperava para poder merecer.
- (Ninguém merece...)
- Ouvi isso... e mereço!
- Merece mesmo, mostre!
- Tenho feito isso há tempos.
- Digo que desde de sempre és arrogante.
- Ei de ser o que dizes, pois conhece-me.
- Pare de asneiras. Ironias não me atingem.
- Tanto atingem que perdeste a linha.
- És perito na arte de me irritar.

Uma voz pronuncia palavras decoradas em ensaios:
- Aceito.
A mesma voz diz palavras semelhantes, às quais ela responde:
- Aceito.

Um beijo longo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Vida qualquer em uma grande cidade

Sumiu e ao silêncio se entregou. Andou por ruas atoladas de prédios vertiginosos e vestiu de cinza seu espírito. Em cada nova pisada, asfalto sujo, ruas ladrilhadas e calçadas com pisos desenhados, ele se recordava da última palavra.

"Acabou".

Os cenários lentamente iam mudando e trazendo novas arquiteturas, construções antigas e talhadas de glammour daquele tempo. E sem cessar a palavra que lhe afligia martelava constante e persistente.

"Acabou".

Mas se acabou, as coisas não acontecem mais? Isso significa que não há mais no que acreditar? Ou seja, que daqui pra frente nada mais vai existir como antes? Nada? Nem sombra? Nem ao menos, diabo, um pouquinho que fosse? As ruas se abriam em avenidas. Os viadutos eram vistos de baixo. Os aviões circulavam nos céus. A fumaça saía de todos os carros. De todas as fábricas. Os mendigos enfileirados sorriam. Os camelôs gritavam à todo pulmão seu produto. As pessoas comiam Hot-dogs e tomavam um açaí com sucrilhos.

"Acabou".

Mas como existe fim? Isso não é coisa de ser humano? De gente burra? Que acaba com as coisas? Não é melhor que continuem? Que cresçam? Mas por que acaba? Floresçam? (Acaba por que?) Andem, evoluam? Sentou em uma praça ao lado de garotos. As pombas comendo qualquer lixo que fosse. O lixo espalhado. Em São Paulo, tem muita praça assim.

"Acabou".

Notou suas mãos trêmulas, a decepção com o fim. Poxa, mas como que acaba? Há tanto a fazer, tanto! Havia necessidade em seus movimentos. Uma pessoa decepcionada fica mesmo assim. Havia um resquício de lágrima. O chão sujo, ele se misturando à paisagem, fazia parte dela. Elevou às mãos para o céu. Os outros garotos cheiravam cola. E ele nem se importava.

"Acabou".

E ele ali, sem entender conceitos abstratos sobre fim, sobre acabar. Questionando profundamente se isso era justo. Por que? Ele tinha dinheiro, caralho. Decidiu-se: baforou no saco mesmo, já que a porra da pedra havia acabado.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Na mesa


Botaram à mesa

Incerteza - me sirvo ou não?
Educação vinda de realeza
Gentileza nessa decisão
Pois sirvo-me primeiro
Pioneiro d'um banquete
De verbetes galhofeiros

Justiceiros, encrenqueiros
Estrangeiros, costumeiros
Curandeiros, verdadeiros
Lisonjeiros, do cacete
Em contato com palavras
Não há mais a solitude
Amiúdes questionamentos
Empilhamentos de papéis
Cordéis trancafiados isentos

Talentos corpulentos
Quinhentos, novecentos
Sedentos, turbulentos
Tratamentos tão fiéis
E dos encontros memoráveis
Das frases censuráveis
Das lições incomparáveis
Discussões incontestáveis
Responsáveis, adoráveis

Nasce nosso novo canto
Onde serviremos a nós
O banquete das palavras
Selecionadas a dedo
Onde não haverá segredo
Nem mesmo o mais feroz
Todos juntos com a forte voz...


"Vamô fazer arte, porra!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta de cinzas (de novo o real)

Ele adentrou o bloco como quem entra em uma zona de minas. Minas terrestres. Terras desconhecidas. Ao sentir a energia do bloco pensou como aquilo era perfeito. Estava onde nunca pensara estar naquele momento. Pessoas pulando suadas encostando seus corpos a ele e havia ele, rabugento como sempre, pulando enojado. Em seus planos não constava aquilo. Não existia na metodológica vida que tinha aquele ato. Pegou o ato e jogou no lixo, pegou a atitude desregrada e recriou-a. E viu o bloco se afastando. Havia o trio. E não eram os três motivos que confirmavam que ele deveria estar longe dali. Era um barulhento, tosco, falando merda. "Vão se fuder todos, por favor!". Era um pensamento recorrente, descontente e puto. Era a merda do som, eram as fantasias. E o bloco se afastando. E ele sentado. O Pierrot chorando pelo amor da Colombina? O amor de quem? Eu quero mais é beijar na boca!?
Sentou-se sozinho na calçada daquela cidade do interior. Lembrou-se de outros carnavais. Da cena da Tv, das alegorias, dos enredos ridículos. Tomou outro gole de cerveja, acendeu outro cigarro. Um trago forte, uma dor e uma porra de um vazio. E um barulho insuportável. Sentado em meio a multidão, olhares tortos e recriminantes. E a música.
Quem chegou perto dele nunca soube. Quem viu aquele homem nunca supôs. Que o bloco que ele seguia estranhamente parou de tocar. Que as pessoas pararam de pular. Que ele sozinho cantou uma única canção. Uma marcha. Às lágrimas.
Isso ocorreu sim, na atemporalidade de sua mente. Onde não havia carro. Não haviam outras pessoas. Só ele e sua canção. Longe de lá. Perto de si. Correu, parou perto do bloco, sorriu e decidiu: nunca mais iria sofrer.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnivale


Mas é carnaval. As noites pulando e as pessoas sorrindo e a música que faz até o carrancudo mover ao menos os dedos. As pessoas caminhando fantasiadas, as ruas repletas de serpentina, confete. Os corpos a mostra e o suor. Uma máscara ou outra, uma pintura na face, um abadá. Lembro dos meus carnavais e um sabor delicioso surge em minha boca, meu corpo. Mas esse não. Queria poder ter de volta meus carnavais, tempos tão puros que nunca mais tive. Que esse carnaval não apague de mim a felicidade que sempre costumo sentir nessa época do ano.

PS:

"E pena que peno, pois assim se mastiga a dor"


Adorei essa frase... Fazia tempo que não gostava de algo que escrevo. 


PS2:

" Mas é carnaval, não me diga mais quem é você. Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar. Que hoje eu sou da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou
Seja você quem for, seja o que Deus quiser!"

Tá Chico... Vamo aí!

Ponto final

Estávamos eu e meus cadernos
Eu e minhas frustrações, meus deleites distintos
Eu e meus poucos pães, meus solitários soluços e eu
Solstícios sem som ou mesmo Sol
Nas suas poucas aparições sem tempo certo, sacrificando minha ansiedade
Sou santo entre meus lençóis
Sós, eu e meus caminhos
Andarilho indo, eu e meus pedaços
Aço, ferro, isopor e acho que mais outros pedaços
Compondo sólida e leve estrutura (me tire daqui!)
Eu e as paisagens passageiras e a passageira ao meu lado
Ligeiras, mente alma e mente (você já amou alguém?)
A mim já, a ti talvez
De longe eu e meus devaneios (não, nunca amei)
Sentado e sentindo mais que dó
Dor
Enquanto o Sol não quer mais abrir a noite trava
E ficamos eu e eu mesmo, como sempre foi
Põe de lado esse sorriso tristonho (te amou mais que qualquer uma)
E pena que peno, pois assim se mastiga a dor
E o gosto é o de fato de quem nunca vai amar ou se quer tentou
E por mais que não lhe aparente, mente a mim
Pois no fim não importa com quem estou
Serei sempre eu e minhas coisas (meu falso amor)
E mais nada além disso, de sorriso e de falsa dor.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vida moderna de uma cidade qualquer

Como é o seu nome? Muito prazer. Viu a chuva que deu em São Paulo? Tá tudo cheio já. Você é de lá, né? Tá de passeio ou tem conhecido aqui? Conheço sim. Mas veio a trabalho ou a passeio? A trabalho? Conheço uma mulher que trabalha lá. Ela é minha namorada. Na verdade ela é divorciada, eu também. Ela gosta mesmo de mim. Às vezes a gente sai pra dançar um forró. Conheci ela num forró ali no Clube. Sempre tinha, mas faz tempo que num vou. Ela é uma morena gorda, bem gorda. Agora menos, porque parece que fez operação. Mas olha, ela gosta mesmo de mim. Vem de vez em quando tomar sorvete aqui, nessa sorveteria. Ela gosta de tomar sorvete aqui, e gosta de mim. Mas essas coisas de relacionamento tão difícil, né garoto? Você tem namorada? Que bom. Cuida bem dela. Eu tive uma esposa. Mas a gente brigava demais. Demais mesmo. Daí terminamos. Eu trabalhava num almoxarifado lá em Itirapina. Eu era o chefe, eu que cuidava de mandar as coisas todas. O povo daqui não acredita, diz que é coisa desses pingaiada atôa, sabe? Mas num tô nem aí. Mas daí, quando saí de lá acabei deixando tudo pra ela. Ela é que tá bem. Com uma casa grande, bem grande mesmo. Mas agora nem ligo. Daí como antes já trabalhava de açougueiro com meu pai, voltei e já tava meio arranjado. Daí tudo os homi daqui da região só chamavam eu pra matar os boi. Eu matava e deixava tudo separadinho, bonitinho, pra eles chegar e só colocar no carro e levar embora pra São Paulo. Daí tinham carne pra coisa de mês!
Eu trabalhei com meu pai muito tempo, como te disse. Não tinha pra ninguém naquela época. Era só a gente que vendia, que matava. Foi assim que meu pai comprou quatro fazenda aqui. Uma delas ficou comigo, as outras com meus irmãos. Eu cuido mesmo daquele lugar, sabe? Outro dia veio o Daniel, sabe aquele cantor? O assessor dele disse que ele tava querendo comprar a fazenda. Ofereceu 200 mil. Eu fiz é ri na cara dele. Mas aquela fazendinha vale mais de 1 milhão!
Eu planto tudo as coisa, faço um café que pelo amor de Deus. O senhor Daniel depois foi me visitar e até conheceu a fazenda. Rapaz bom ele. Mas num vendi não. Cê pensa que é fácil negociar comigo? Num vivo só pra tomar cachaça não rapaz! Mas já tá ficando tarde mesmo. Precisa ir? Entendi. É bom esse sorvete, né? Que bom. Olha gostei muito de você. É bom conversar com jovens assim. Quando passar por aqui, pode passar lá na fazenda. Toma um café comigo, depois te faço um maço bem grande de verdura, pra você levar pra tua mãe. E mande um beijo pra mulher que trabalha com cê lá no hotel. Não esquece não. Vai com Deus. Que Ele te acompanhe e te ilumine. Toda a sorte pra você rapaz, toda mesmo.
Amém.

Vida noturna de um sábado moderno

- Alô.
- Alô. Boa noite. Aqui quem fala é Alberto. Nós estamos com uma promoção cultural hoje completamente imperdível!
- Uma promoção cultural imperdível é de fuder...
- Mas tenha calma meu caro amigo. Nós sorteamos o número do senhor...
- Sorteou meu número da onde, corno?
- É que consta em nossos sistemas...
- Consta no sistema é o caralho!
- Mas meu senhor, eu posso dizer ao menos a que vim?
- Diz.
- Vim trazer ao senhor informação e entretenimento em um preço que o senhor nunca irá encontrar em lugar nenhum!
- Só se for uma puta fofoqueira pra me chamar atenção, filho de uma puta!
- Meu senhor, é muito melhor que isso!
- Você não tá me entendendo mesmo. São oito da noite de um sábado. É a única coisa que me interessaria!
- Mas meu senhor, é uma revista incrível!
- Que revista o que rapaz...
- Meu senhor, você pode ler e conhecer o mundo!
- Isso eu faço pela TV.
- TV emburrece, meu senhor.
- Emburrece a senhora sua mãe, seu imbecil.
- Mas essa revista está por um preço ótimo!
- Pagar pra ler?Vai tomas no meio do seu cú!
- O senhor já está me xingando há um tempinho. Não sei se notou, mas estou tentando salvar o seu cérebro!
- Amigo, você é que tá querendo fuder minha noite.
- Meu senhor, por Deus. Essa porra dessa revista é meu ganha pão, seu Filho da Puta. Se o senhor não comprar essa merda eu tô fudido! Só de grana pra puta da minha esposa, eu tô devendo até o rabo! Agora me diz, seu merda: Você vai ou não querer essa porra!?
- ...
- Fala seu puto!
- Tem muita informação mesmo?
- Tem.
- É realmente boa?
- É.
- Vai me deixar mais inteligente?
- Sim.
- Enfia no cú.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O grito

Do auto de um galho um menino olhava a cena apavorado. Subiu ao notar os gritos que vinham em sua direção. Sem nem notar estava lá no alto. O grito era ouvido de dois animais pequenos, e ele não conseguia identificá-los. Pareciam com formigas. Mas eram tão altos os gritos e era tão alto onde estava, que de lá todo mundo parecia mesmo formiga, mas os gritos não. Subiu no topo de uma ávore cheia de troncos, com raízes pra fora da terra, raízes enromes. Subiu quase em um pulo e não parava de subir. Os gritos a cada minuto aumentavam. Ele se lembrou de que gritos menos audíveis significavam maior distância da emissão do som e não o contrário. Olhou de esgueira para baixo e viu que as formigas (ou ao menos as que pareciam com umas bem pretinhas e antenudas) e notou que elas o seguiam. Os gritos aumentando eram quase entendidos pelo menino, que acelerava o passo, a escalada. A árvore parecia não ter fim. Cansou. Bem no momento em que a árvore acabou. As formigas continuaram vindo. Eram mesmo formigas. Balançou o galho onde estavam as formigas. Eram pequenas e indefesas, agora voando sem controle, caindo para cada vez mais perto do chão. O menino estava lá no alto satisfeito em ter derrubado as formigas. Estava com medo. Ele era maior. Podia muito bem fazer o que quisesse com aqueles serezinhos. Ah! mas como era bom ser grande. Foi um herói dele mesmo. Como era bom se defender agilmente escalando tão velozmente aquela grande árvore. Olhava as coisas lá do alto. Era ser humano. Controlava a natureza inteira.
Lá do alto só não eram audíveis os gritos de socorro emitidos pelas pequenas criaturas.