O meu primeiro acorde saiu meio bagunçado. Depois os dedos doídos tentavam incessantes alcançar a perfeição de cada nota. Mas isso ainda era um sonho. Daí surgiram os novos desafios. De corda a corda um novo som, de som a som uma nova canção, a voz querendo atravessar a garganta, e os dedos duros travando o desejo de se tornar melodia, que vem lá do diafragma, ecoando na garganta, decepcionado com a falta de destreza dos dedos. E vieram as palhetadas, os dedilhados, os aquecimentos, exercícios, cifras, tablaturas, músicas. Lembro sempre daquele anseio, do frio na barriga a cada acorde certo, da harmonia se tornando cada vez mais encorpada, com mais personalidade.
Haviam os ensaios com a banda, reunião diária de outros sonhadores que "malemá" conheciam de nome o instrumento em mãos. Havia um sonho maluco de conseguir executar uma única canção, nada além disso. Tinha meu pai que era o professor daqueles garotos que não sabiam ainda o poder dessa coisa inútil.
Daí pra primeira canção própria: um violão, um caderno e uns amigos. As letras de protesto, sem nem saber pelo que se podia protestar. Os festivais, as derrotas, as glórias, os shows quando, ainda crianças, cantavamos Rock'n Roll em festas com bêbados; as microfonadas na boca, gente que caía no equipamento. Daí para a vida, que vai tirando aos poucos seu instrumento.
Mas foi em uma madrugada a qual, lembro-me perfeitamente, abri minha case, que a arte voltou mesmo a fazer parte da minha vida. E lá estava ela: minha guitarra. E lá estavam eles: meus medos. E lá estava ele: meu caderno.
Meus amigos? Ocupados com as cobranças da vida. Nosso professor? No céu, ressoando outras melodias. Eu? Desesperado e só, em meio as dúvidas de um amante de arte, um sofredor tolo e exagerado (como antes dito), chorando. Uma nova canção nasce. Um sorriso vem ao rosto.
Daí, não lhe parece que agora vem o sucesso? Não é esse o final feliz que espera? Não seria, diga do fundo da alma, uma lógica correta para o fim dessa comovente história? Sinto lhe trazer à luz a decepção, mas não existe sucesso não.
Pois então, dirá sobre dificuldades, mercado da música... mas que porra! Estou feliz!
Outro dia, o menino de 14 anos de idade que tinha o sonho de tocar guitarra, agora com 23, pegou seu violão e cantou a tal música, da tal madrugada, dos tais medos. Um outro garoto, um grande músico aos 14 anos de idade, com o qual aquele havia tido contato uma única vez na vida, cantou e tocou a música inteira junto. Aprendeu em um vídeo na internet. Isso aconteceu outras vezes, com outras pessoas, de outras maneiras. Gente que sabia o refrão. Gente que até se emocionava com a música. Consegue perceber isso, amigo leitor?
E irão acontecer outras. E é com um arrepio enorme que lhe digo, seguindo a linha de raciocínio "auto-ajuda" (a qual não sou seguidor fanático, mais hora ou outra não consigo fugir, mesmo que não tente) dos últimos posts, o que escreveu no comentário do meu texto anterior a esse uma pessoa iluminadíssima: "Quanto mais a gente avisa a nossa alma que não precisamos ser Grandes, mais parece que as coisas ficam em paz dentro da gente e do tamanho certo que cada uma é." Percebe a beleza disso?
Continuarei sendo um grande artista de poucos, fazendo aquilo que, independente das críticas e daqueles que a isso odeiam, amo. Salvando a minha alma das desgraças de somente "comercializar" minhas construções sentimentalísticas-mentais.
Fazendo música, fazendo textos, fazendo graça, ainda que de graça.
Isso é um desabafo do autor do texto. Meu "eu-lírico" está doente hoje e não veio.
Haviam os ensaios com a banda, reunião diária de outros sonhadores que "malemá" conheciam de nome o instrumento em mãos. Havia um sonho maluco de conseguir executar uma única canção, nada além disso. Tinha meu pai que era o professor daqueles garotos que não sabiam ainda o poder dessa coisa inútil.
Daí pra primeira canção própria: um violão, um caderno e uns amigos. As letras de protesto, sem nem saber pelo que se podia protestar. Os festivais, as derrotas, as glórias, os shows quando, ainda crianças, cantavamos Rock'n Roll em festas com bêbados; as microfonadas na boca, gente que caía no equipamento. Daí para a vida, que vai tirando aos poucos seu instrumento.
Mas foi em uma madrugada a qual, lembro-me perfeitamente, abri minha case, que a arte voltou mesmo a fazer parte da minha vida. E lá estava ela: minha guitarra. E lá estavam eles: meus medos. E lá estava ele: meu caderno.
Meus amigos? Ocupados com as cobranças da vida. Nosso professor? No céu, ressoando outras melodias. Eu? Desesperado e só, em meio as dúvidas de um amante de arte, um sofredor tolo e exagerado (como antes dito), chorando. Uma nova canção nasce. Um sorriso vem ao rosto.
Daí, não lhe parece que agora vem o sucesso? Não é esse o final feliz que espera? Não seria, diga do fundo da alma, uma lógica correta para o fim dessa comovente história? Sinto lhe trazer à luz a decepção, mas não existe sucesso não.
Pois então, dirá sobre dificuldades, mercado da música... mas que porra! Estou feliz!
Outro dia, o menino de 14 anos de idade que tinha o sonho de tocar guitarra, agora com 23, pegou seu violão e cantou a tal música, da tal madrugada, dos tais medos. Um outro garoto, um grande músico aos 14 anos de idade, com o qual aquele havia tido contato uma única vez na vida, cantou e tocou a música inteira junto. Aprendeu em um vídeo na internet. Isso aconteceu outras vezes, com outras pessoas, de outras maneiras. Gente que sabia o refrão. Gente que até se emocionava com a música. Consegue perceber isso, amigo leitor?
E irão acontecer outras. E é com um arrepio enorme que lhe digo, seguindo a linha de raciocínio "auto-ajuda" (a qual não sou seguidor fanático, mais hora ou outra não consigo fugir, mesmo que não tente) dos últimos posts, o que escreveu no comentário do meu texto anterior a esse uma pessoa iluminadíssima: "Quanto mais a gente avisa a nossa alma que não precisamos ser Grandes, mais parece que as coisas ficam em paz dentro da gente e do tamanho certo que cada uma é." Percebe a beleza disso?
Continuarei sendo um grande artista de poucos, fazendo aquilo que, independente das críticas e daqueles que a isso odeiam, amo. Salvando a minha alma das desgraças de somente "comercializar" minhas construções sentimentalísticas-mentais.
Fazendo música, fazendo textos, fazendo graça, ainda que de graça.
Isso é um desabafo do autor do texto. Meu "eu-lírico" está doente hoje e não veio.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmarrar a narrativa do texto um pano de fundo paralelo possibilitando duas cenas que se compartilham e se orientam, é tarefa que só alguém muito bom pode fazer de um jeito encantador e que prende a atenção de uma forma inexplicavel.
ResponderExcluirSinto como se o implicito tentasse se jogar o tempo todo diante dos meus olhos mas o explicito teimasse em ofusca-lo.
Gostei muito!Muito!
Se a nostalgia fosse um grande oceano eu me veria no meio de tudo isso sem saber nadar e sem colete salva-vidas, meu velho!
ResponderExcluirMe identifico com esse texto ainda mais do que você imagina.
Queria eu que a vida nos desse a opção de agarrar com toda força cada um dos milhares de sonhos sonhados. Sem ter que sofrer a tristeza ou talvez a desilusão de ter que escolher tão pouco dentre tantos que a vida nos oferece e ainda sim deixar espacar tantos outros.
Amei o texto | fica com Deus!