terça-feira, 5 de setembro de 2017

Calvário Pagão

Enquanto o mundo assiste

O passado renascendo

Vou criando paraísos imaginários

Dos quais insisto e acredito, me reacendo

Me atrevo a continuar entre vários

Aprendendo a reconhecer no rival um irmão

Como num calvário pagão

Do qual caminho ajoelhado

Em meu íntimo e particular coração

Por fora não: entrego-me de bandeja

Aos que acredito e aos que me enganam

Me engano com essências, mas não me encolho

Escolho sempre ideologias amplas

Não sou de ignorâncias confortáveis 

Não sou de mentiras afáveis

Sou de confusões construtivas 

E de o amor destruindo e reconstruindo 

Mas faço tudo de um jeito tão doído

Entre clonazepans e risotrils

Pensam ser spam meu modo hostil

E de tanto que escrevo e compartilho e repasso

Me enlouqueço num sutil recomeço

vou entre Marias, Joanas, palheiros

Entre esperanças, dores, dinheiros

Me perco entre peças e peço outro preço

E outra pausa, outra pessoa... é assim! 


Se eu preciso mesmo de algo

Esse algo podia gostar mais de mim





quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Rio de Sangue

Poema em áudio.

A PERIFERIA RESISTE!

Ego

O Ego te grita, irritante e irresponsável

Te diz que você disse o que não deveria

Te coloca em cada apuro

E tudo é puro "não saber": teu sexto sentido

Já se coloca como uma mentira sintomática

Sensível, te torna solitário em mais um solilóquio

Onde se acusa de não saber o que merece

O que não lhe pertence e o que não alcançará

Sensato, te apresenta centenas de sentenças

Todas as provas, sem ter o que contradizer

Aceita a certeza de que devia se calar

Ou que pudera ter dito

São tantos equívocos que, do nada, você se enfraquece

Se esquece de esquisitices que deram certo

De que talvez possa merecer sim

E que talvez possa alcançar sim

E que talvez, apenas talvez, deva tentar

Daí, tudo é negativa.

Até o mais sonoro sim, vira não

E o mais sonoro sino vira latido de cão

E todo e qualquer sensação de prazer

Se esvai...

Esvazia-se a alegria

O pote fica de lado

A música mais triste te enternece

E eterniza essa dor

Mastigue esse amargor

É da prepotência de achar que poderia

Não, menino. 

Se mete nas suas coisas

Se vira de costas pro que é e deixa de ser

Assim, do nada

Por medo ou desinteresse

Tem gente que precisa e confia

E você deve se encolher não

Se entristecer, talvez: cairá de novo no mesmo truque

E não a quem cutuque tanto ferida

Como você.

A lágrima do palhaço sempre combinou mais com você

Como vê, cômodo é ser o que sempre fora

E fora isso, vai à aforra: se diverte e inverte

Essa lógica: no fim da mágica noite

De algum dia ruim

Algo de bom há de vir. 

Confia em mim.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Pobre rico

Enterrem tudo de uma vez
O pouco que sobrou de quem não quis viver
Não serei eu a luz no fim da cova
Enterre de uma vez sem deixar prova

Enterrem todos de uma vez
Que a sua sujeira me envergonha
Imagine se a dona Tonha fosse um Fasano ornado
Não é pecado ver a dona tristonha

Não te faz bem
Você realmente não precisa
Ser alguém pra alguém que quer ser ninguém,
E mais nada

Enterrem logo de uma vez
Viver os dias lindos de um centro de glória
Tão perto da Ipiranga com a Avenida São João
Esses lixos urbanos, como ratos, proliferarão

Voltem pros seus castelos e fumem mais
Mas deixem esse pobre amigo rico em paz
Ele usa cocaína todo dia, mas trabalha
Indicado por licitações, batalha

Sol e chuva acorda cedo
Pra ganhar o seu sustento em notas emochiladas
é cada cilada, que ele entra pra nada
Pois pobre injusto reclama de ajuda privada

O lixo não entende
Que meu filho doente e seus exames
Farão dele um valioso chefão
Então quem tem mais valia nesse império de vexames? 

Vou dizer...

Senta, cidadão comum
A bunda na escada e tome um trocado
Não esqueça de economizar cada centavo
E faz a economia girar, entendeu?
Senta, cidadão medíocre
A bunda nesse chão gelado e acenda outra pedra
Mas faz longe daqui, num beco de favela
Onde meu filho compra o pino seu de cada dia

Que agonia ter que explicar
A falência estatal, todo santo dia



segunda-feira, 22 de maio de 2017

Egoísmo e utopia: ou me ajuda amar?

De cada 10 coisas que penso, 9 são sobre coisas minhas. Sou egoísta em minhas atitudes e tenho pensamentos (ora ou outra) altruístas. Ando na corda bamba da realização dos meus sonhos e da possibilidade ao menos remota de que todas as  pessoas do mundo possam sonhar.
Eu queria morar num castelo. Só meu e de quem amo. Mas queria que todo mundo pudesse sonhar nisso também. Não realizamos? Tudo bem. Miramos a Lua. Para se errarmos, já estarmos entre as estrelas. 
Meu pai me ensinou essa frase antes de virar estrela. Minha mãe me ensinou a respeitar todo mundo e ter os pés no chão. Esse alicerce me da uma força. É ar puro. É libertador! 
No mundo dividido, eu é que não vou dizer que não tenho lado. Não me calo. Sou de utopia sim, de sonhos impossíveis e de planos impraticáveis. Sou desses que realiza e que posterga. Que pretende e procrastina.
No fim, eu só queria que minha vida se ajeitasse pra eu poder fazer mais pelos outros. Sonho tolo: ninguém nunca alcança a cenoura. Ela fica lá balançando. A gente a segue salivando há séculos.
Menos tensões. Mais amor. Nam-myoho-rengue-kyo, saravá, amém e zaz. 
Religião e política e futebol e o que for. Discute comigo? Mas deixa eu te amar e me ame? Seja você quem for? Ou o que pensar? Vamos tentar que menos gente mate e morra? Luta comigo pra não ter mais que sangrar? 
Sonha alto, vai!? Que tal? Não num maior quintal, mais num mundo onde o mundo é o quintal mais bonito e é de todos? Vamos ter o que comer? Todos nós termos direito a ter saúde? Vamos ajudar as pessoas a lerem o mundo que as descrevem em letras que elas entendem, escrevendo conteúdos pra que elas entendam? 
Vamos viver esse sonho? É um passo.
Depois o outro.
Vamos reaprender a dançar do primeiro compasso. 
De mãos dadas, passo a passo. 
Num abraço coração com coração.
Vamos ensinar e aprender sobre dar sem receber e sobre ter (e sentir) gratidão?
Não quero pensar no meu irmão que passa fome. Quero que ele coma. Limpe o prato lambendo. 
É utopia!? Que seja! Mas é que na minha mesa tem rango e tem prato na minha pia. 
Eu ainda posso sonhar no sonho dos outros... 
Com fome a gente só precisa comer. 
Com sede, beber.
Pra sonhar é preciso não estar preocupado demais.

Que o livro e o prato alimentem muita gente.