sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vida curta?

Outro dia ouvi dizer que a vida é curta, e que "portanto curta a vida" e trocadilhos assim. De pensar melhor, sorri. Quanta baboseira dizem, não é? Querem mesmo me fazer acreditar que viver 60 anos, sei lá, é pouco? Que não devemos parar de fazer as coisas porque logo vamos morrer? E ainda com essa pressão infinita não me querem depressivo, ansioso, com crises de pânico e existencialismo? E se ainda, somado a isso, podermos posterior a vida viver mais, o que me diz? Daí me fazem correr para girar mais rápido a máquina econômica? Ratinhos rodando a roda que nunca soube pra que serve? E eu nesse esforço de ir bem rápido pois já vou morrer? Afinal, nessa vida, não a nada mesmo que eu seja obrigado a fazer!
Daí todo mundo atrasado, sem se olhar, se notar, perceber as coisas em volta, sem sentir, não dá tempo de sorrir, só quando para, mas pra descansar, que amanhã vai voltar, pra acordar, só sonhar quando em sono, no lugar, na manhã despertar, estudar, trabalhar, depois quando não faz nenhum nem outro, ir dançar, se esbaldar, se divertir, descansar, distrair, poder beber, ou fumar, mais cuidado pra não exagerar, a vida é frágil,  vá com calma, se errar, vai acabar, se medicar, não parar, não parar...*

* uma pausa pra respirar...

... não parar, pra seguir, conseguir, vencer, lutar, jogar, ganhar, viver, torcer, esperar.

Advogarei contrário a isso. Permanecerei inapto. Uns dias. Parado. Estática evolutiva. Estátua de homem. De carne e osso. Pensando sim, vez em quando. Respirando sim, sempre, pois a isso tenho obrigação. Sem discursos anticapitalismo, sem discussões teóricas sobre imposições sociais. Sem implicações maiores, nem menores na minha opinião. Parado. Só pra olharem, me encherem o saco e dizerem que não faço nada. Que a vida é curta. Ao que me bastarei em dizer: Cada minuto perdido na minha vida sentado sozinho em um banco de praça sem fazer nada vale o mesmo que um minuto fazendo o que chamam de útil. 
Quanto eu, escritor de futilidades, ou teórico da linguagem ou apreciador da literatura, faço crescer o PIB do país? Nada. 
Só tento fazer com que as pessoas parem um instante. Quem sabe nossos devaneios não possam servir de afago para que as pessoas responsáveis por aumentarem o que quer que seja possam se achar mais normais? 

domingo, 18 de abril de 2010

A lista

Abriu a lista de coisas a fazer. Abril, o mês já passará e ele nem viu. Talvez em maio ele possa acertar. Escolher outros dias pra comemorar. Olhou-a de novo e anotou o que já havia feito. Eram uns bons 20 tópicos, desde ligar para o banco até estudar sintaxe. Desde visitar sua mãe até voltar a correr. Arrumar sua casa, arrumar seu quarto e um otimista arrumar a vida. E assim ía. Reorganizou o cronograma. Pegou cada tarefa. Pegou cada obrigação, cada problema à resolver. E mandou pra putaqueupariu.