quinta-feira, 28 de março de 2013

Estrada

Veja bem. Você cansa seu cérebro. Seu corpo. A festa é vazia. A festa esvazia. Daí que corro, longe. Me vou como que tropicando em cada sílaba pensada. Cada ideia é dolorida como um enforcamento. Por que nesse momento? Atordoado e zonzo só enxergo um relógio que, em luzes vermelhas, me mostra que já é tarde. Enquanto silhuetas se movimentam pela janela, todo mundo dorme. Por que eu não durmo? Quero dormir também. E emagrecer. E ser feliz. De tão feliz, quero que a vida se torne ridícula. Aquele marasmo e que dure, pelo menos, 1 mês. Não quero uma comemoração. A Lua que festeje. Eu quero fazer isso ao som de uma boa música, sem boas companhias: pouco me importará o Senado, Deputados enrustidos, as Igrejas, a Moral, minhas Dívidas, minhas Dúvidas. Queria mesmo que o relógio parasse de piscar. Gostaria de enxergar mais que silhuetas, exagerar menos. Luzes. Mesmo que longe, elas sempre estão em algum lugar. E pra onde eu vou mesmo? Pro Lar? É por ali? Aí, temos uma contradição. Vejo mais que silhuetas. Já abro a boca de sono, enquanto me esqueço que o rádio queimou, que a nota desceu, que todo mundo atrasou, que eu estava correndo até minutos atrás. O corpo vai calmamente amolecendo. Bocejo. Me acompanha nesse bocejo? E as pessoas em volta nem imaginam que estou ouvindo música em hebraico, que não estou entendendo uma palavra, quem sou. Elas não pensam se tenho boas ideias. Umas até são curiosas em perguntar, mas morrem de vergonha. É a vida, ela é divertida. Encaro a vida com paixão. Ela merece respeito. Eu dou esse devido respeito. Mas preciso emagrecer, consertar o rádio e aprender inglês. Ah, meu nome. Tem meu nome. Algumas dívidas. Queria que elas caducassem. Será que as dúvidas caducam? O piano está afinado, mas eu não ligo, pois sei que você dificilmente chegará até aqui. Mas acho que ainda te amo. Daí que a gente ficou tão bravo com a notícia daquele rapaz daquela comissão, que chegamos a pensar em... Lembra? Diz que lembra... Essas pequenices são tão importantes pra mim. Como cheguei nisso? No assunto. O ponto é que o sono passou do bocejo. O olho já está embassando. Espero que, quando eu acordar, as pessoas continuem me olhado. Que não haja ninguém ao seu lado. Mas que muita gente esteja por perto. Não sei como cheguei nisso. Nesse nosso nisso. Veja bem. Não deixe de ser. Não deixo se estar aqui. E o resto? É o que a gente escolher. E a viagem, essa que é também a vida e que dela faz parte, continua hoje e sempre. Te espero na estrada, no meio caminho. Entre lá e aqui, seu mundo e o meu.