domingo, 21 de fevereiro de 2010

Na mesa


Botaram à mesa

Incerteza - me sirvo ou não?
Educação vinda de realeza
Gentileza nessa decisão
Pois sirvo-me primeiro
Pioneiro d'um banquete
De verbetes galhofeiros

Justiceiros, encrenqueiros
Estrangeiros, costumeiros
Curandeiros, verdadeiros
Lisonjeiros, do cacete
Em contato com palavras
Não há mais a solitude
Amiúdes questionamentos
Empilhamentos de papéis
Cordéis trancafiados isentos

Talentos corpulentos
Quinhentos, novecentos
Sedentos, turbulentos
Tratamentos tão fiéis
E dos encontros memoráveis
Das frases censuráveis
Das lições incomparáveis
Discussões incontestáveis
Responsáveis, adoráveis

Nasce nosso novo canto
Onde serviremos a nós
O banquete das palavras
Selecionadas a dedo
Onde não haverá segredo
Nem mesmo o mais feroz
Todos juntos com a forte voz...


"Vamô fazer arte, porra!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta de cinzas (de novo o real)

Ele adentrou o bloco como quem entra em uma zona de minas. Minas terrestres. Terras desconhecidas. Ao sentir a energia do bloco pensou como aquilo era perfeito. Estava onde nunca pensara estar naquele momento. Pessoas pulando suadas encostando seus corpos a ele e havia ele, rabugento como sempre, pulando enojado. Em seus planos não constava aquilo. Não existia na metodológica vida que tinha aquele ato. Pegou o ato e jogou no lixo, pegou a atitude desregrada e recriou-a. E viu o bloco se afastando. Havia o trio. E não eram os três motivos que confirmavam que ele deveria estar longe dali. Era um barulhento, tosco, falando merda. "Vão se fuder todos, por favor!". Era um pensamento recorrente, descontente e puto. Era a merda do som, eram as fantasias. E o bloco se afastando. E ele sentado. O Pierrot chorando pelo amor da Colombina? O amor de quem? Eu quero mais é beijar na boca!?
Sentou-se sozinho na calçada daquela cidade do interior. Lembrou-se de outros carnavais. Da cena da Tv, das alegorias, dos enredos ridículos. Tomou outro gole de cerveja, acendeu outro cigarro. Um trago forte, uma dor e uma porra de um vazio. E um barulho insuportável. Sentado em meio a multidão, olhares tortos e recriminantes. E a música.
Quem chegou perto dele nunca soube. Quem viu aquele homem nunca supôs. Que o bloco que ele seguia estranhamente parou de tocar. Que as pessoas pararam de pular. Que ele sozinho cantou uma única canção. Uma marcha. Às lágrimas.
Isso ocorreu sim, na atemporalidade de sua mente. Onde não havia carro. Não haviam outras pessoas. Só ele e sua canção. Longe de lá. Perto de si. Correu, parou perto do bloco, sorriu e decidiu: nunca mais iria sofrer.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnivale


Mas é carnaval. As noites pulando e as pessoas sorrindo e a música que faz até o carrancudo mover ao menos os dedos. As pessoas caminhando fantasiadas, as ruas repletas de serpentina, confete. Os corpos a mostra e o suor. Uma máscara ou outra, uma pintura na face, um abadá. Lembro dos meus carnavais e um sabor delicioso surge em minha boca, meu corpo. Mas esse não. Queria poder ter de volta meus carnavais, tempos tão puros que nunca mais tive. Que esse carnaval não apague de mim a felicidade que sempre costumo sentir nessa época do ano.

PS:

"E pena que peno, pois assim se mastiga a dor"


Adorei essa frase... Fazia tempo que não gostava de algo que escrevo. 


PS2:

" Mas é carnaval, não me diga mais quem é você. Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar. Que hoje eu sou da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou
Seja você quem for, seja o que Deus quiser!"

Tá Chico... Vamo aí!

Ponto final

Estávamos eu e meus cadernos
Eu e minhas frustrações, meus deleites distintos
Eu e meus poucos pães, meus solitários soluços e eu
Solstícios sem som ou mesmo Sol
Nas suas poucas aparições sem tempo certo, sacrificando minha ansiedade
Sou santo entre meus lençóis
Sós, eu e meus caminhos
Andarilho indo, eu e meus pedaços
Aço, ferro, isopor e acho que mais outros pedaços
Compondo sólida e leve estrutura (me tire daqui!)
Eu e as paisagens passageiras e a passageira ao meu lado
Ligeiras, mente alma e mente (você já amou alguém?)
A mim já, a ti talvez
De longe eu e meus devaneios (não, nunca amei)
Sentado e sentindo mais que dó
Dor
Enquanto o Sol não quer mais abrir a noite trava
E ficamos eu e eu mesmo, como sempre foi
Põe de lado esse sorriso tristonho (te amou mais que qualquer uma)
E pena que peno, pois assim se mastiga a dor
E o gosto é o de fato de quem nunca vai amar ou se quer tentou
E por mais que não lhe aparente, mente a mim
Pois no fim não importa com quem estou
Serei sempre eu e minhas coisas (meu falso amor)
E mais nada além disso, de sorriso e de falsa dor.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vida moderna de uma cidade qualquer

Como é o seu nome? Muito prazer. Viu a chuva que deu em São Paulo? Tá tudo cheio já. Você é de lá, né? Tá de passeio ou tem conhecido aqui? Conheço sim. Mas veio a trabalho ou a passeio? A trabalho? Conheço uma mulher que trabalha lá. Ela é minha namorada. Na verdade ela é divorciada, eu também. Ela gosta mesmo de mim. Às vezes a gente sai pra dançar um forró. Conheci ela num forró ali no Clube. Sempre tinha, mas faz tempo que num vou. Ela é uma morena gorda, bem gorda. Agora menos, porque parece que fez operação. Mas olha, ela gosta mesmo de mim. Vem de vez em quando tomar sorvete aqui, nessa sorveteria. Ela gosta de tomar sorvete aqui, e gosta de mim. Mas essas coisas de relacionamento tão difícil, né garoto? Você tem namorada? Que bom. Cuida bem dela. Eu tive uma esposa. Mas a gente brigava demais. Demais mesmo. Daí terminamos. Eu trabalhava num almoxarifado lá em Itirapina. Eu era o chefe, eu que cuidava de mandar as coisas todas. O povo daqui não acredita, diz que é coisa desses pingaiada atôa, sabe? Mas num tô nem aí. Mas daí, quando saí de lá acabei deixando tudo pra ela. Ela é que tá bem. Com uma casa grande, bem grande mesmo. Mas agora nem ligo. Daí como antes já trabalhava de açougueiro com meu pai, voltei e já tava meio arranjado. Daí tudo os homi daqui da região só chamavam eu pra matar os boi. Eu matava e deixava tudo separadinho, bonitinho, pra eles chegar e só colocar no carro e levar embora pra São Paulo. Daí tinham carne pra coisa de mês!
Eu trabalhei com meu pai muito tempo, como te disse. Não tinha pra ninguém naquela época. Era só a gente que vendia, que matava. Foi assim que meu pai comprou quatro fazenda aqui. Uma delas ficou comigo, as outras com meus irmãos. Eu cuido mesmo daquele lugar, sabe? Outro dia veio o Daniel, sabe aquele cantor? O assessor dele disse que ele tava querendo comprar a fazenda. Ofereceu 200 mil. Eu fiz é ri na cara dele. Mas aquela fazendinha vale mais de 1 milhão!
Eu planto tudo as coisa, faço um café que pelo amor de Deus. O senhor Daniel depois foi me visitar e até conheceu a fazenda. Rapaz bom ele. Mas num vendi não. Cê pensa que é fácil negociar comigo? Num vivo só pra tomar cachaça não rapaz! Mas já tá ficando tarde mesmo. Precisa ir? Entendi. É bom esse sorvete, né? Que bom. Olha gostei muito de você. É bom conversar com jovens assim. Quando passar por aqui, pode passar lá na fazenda. Toma um café comigo, depois te faço um maço bem grande de verdura, pra você levar pra tua mãe. E mande um beijo pra mulher que trabalha com cê lá no hotel. Não esquece não. Vai com Deus. Que Ele te acompanhe e te ilumine. Toda a sorte pra você rapaz, toda mesmo.
Amém.

Vida noturna de um sábado moderno

- Alô.
- Alô. Boa noite. Aqui quem fala é Alberto. Nós estamos com uma promoção cultural hoje completamente imperdível!
- Uma promoção cultural imperdível é de fuder...
- Mas tenha calma meu caro amigo. Nós sorteamos o número do senhor...
- Sorteou meu número da onde, corno?
- É que consta em nossos sistemas...
- Consta no sistema é o caralho!
- Mas meu senhor, eu posso dizer ao menos a que vim?
- Diz.
- Vim trazer ao senhor informação e entretenimento em um preço que o senhor nunca irá encontrar em lugar nenhum!
- Só se for uma puta fofoqueira pra me chamar atenção, filho de uma puta!
- Meu senhor, é muito melhor que isso!
- Você não tá me entendendo mesmo. São oito da noite de um sábado. É a única coisa que me interessaria!
- Mas meu senhor, é uma revista incrível!
- Que revista o que rapaz...
- Meu senhor, você pode ler e conhecer o mundo!
- Isso eu faço pela TV.
- TV emburrece, meu senhor.
- Emburrece a senhora sua mãe, seu imbecil.
- Mas essa revista está por um preço ótimo!
- Pagar pra ler?Vai tomas no meio do seu cú!
- O senhor já está me xingando há um tempinho. Não sei se notou, mas estou tentando salvar o seu cérebro!
- Amigo, você é que tá querendo fuder minha noite.
- Meu senhor, por Deus. Essa porra dessa revista é meu ganha pão, seu Filho da Puta. Se o senhor não comprar essa merda eu tô fudido! Só de grana pra puta da minha esposa, eu tô devendo até o rabo! Agora me diz, seu merda: Você vai ou não querer essa porra!?
- ...
- Fala seu puto!
- Tem muita informação mesmo?
- Tem.
- É realmente boa?
- É.
- Vai me deixar mais inteligente?
- Sim.
- Enfia no cú.