sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Céu e terra

Aquele homem bateu a carteira daquela moça, que bateu o carro naquele poste, que caiu em cima daquele muro, que cercava a vida daquela gente, que corria atrás de ser tão valente, que não era tão simples de ser alcançada, que a moça insegura se sente cansada, que, porém, toda vida não soube que pode, que bastante poder é maior que a ode, que em prosaica bobagem se faz poesia, que de passo em compasso se faz uma vida, que de história em história se faz outro livro, que de livro em livro se faz uma pátria. 

Aquela pátria que bateu a carteira daquele povo, que de dor em dor se oriundou outra, que com remédio ruim é que o corpo melhora, que melhoras devera é só via polícia, que pela segurança espanca a violência, que violento mesmo é quem bate a carteira, que tudo aquilo era o povo brasileiro, que era salvo pelos homens vindos de Brasília, que Brasília era nome de carro que não presta e que político bom era aquele que morre.

Aquele político que bateu a carteira daquele povo, bateu com a cara na porta, foi mal recebido no céu dos credores, foi decapitado pela mão revoltada, num sonho bonito de vã liberdade, lucrando com ingressos das cenas Hollywoodianas (Fifanianas), bateu com o dedo na quina e investiu trocados, passou ileso e a Fifa faz festa, o povo faz festa bebendo o que pode. A bola roda, o mundo gira. E o homem que bateu a carteira do povo é aclamado em carro aberto, procissão moderna. Velas e mais velas e bandeiras. Gloriosos, vitoriosos. Tudo é esquecido. O Brasil é campeão. 

Aquele homem que bateu a carteira daquela moça era novato. Nem com todo o prejuízo do mundo, causou problema algum. Vilão bom não passa nas portas do inferno, o capeta não quer nem ver perto. Palmas ao governo, vivas à população! O povo aplaude, a moça chora. E com a carteira vazia, a flor que não nasce, esmaga a esperança. Não era nem perto do mármore de esperança. Que dela saia um pouco de bile inorgânica da subjetividade da flor. Pessoas espertas tentam roubar o que não lhes pertence. Ladrões de bem, profissionais.

Rezem. Peçam um pouco mais. Ser bom é mesmo um conceito torto criado por tolos, entre o céu e a terra.