quarta-feira, 3 de março de 2010

Vida qualquer em uma grande cidade

Sumiu e ao silêncio se entregou. Andou por ruas atoladas de prédios vertiginosos e vestiu de cinza seu espírito. Em cada nova pisada, asfalto sujo, ruas ladrilhadas e calçadas com pisos desenhados, ele se recordava da última palavra.

"Acabou".

Os cenários lentamente iam mudando e trazendo novas arquiteturas, construções antigas e talhadas de glammour daquele tempo. E sem cessar a palavra que lhe afligia martelava constante e persistente.

"Acabou".

Mas se acabou, as coisas não acontecem mais? Isso significa que não há mais no que acreditar? Ou seja, que daqui pra frente nada mais vai existir como antes? Nada? Nem sombra? Nem ao menos, diabo, um pouquinho que fosse? As ruas se abriam em avenidas. Os viadutos eram vistos de baixo. Os aviões circulavam nos céus. A fumaça saía de todos os carros. De todas as fábricas. Os mendigos enfileirados sorriam. Os camelôs gritavam à todo pulmão seu produto. As pessoas comiam Hot-dogs e tomavam um açaí com sucrilhos.

"Acabou".

Mas como existe fim? Isso não é coisa de ser humano? De gente burra? Que acaba com as coisas? Não é melhor que continuem? Que cresçam? Mas por que acaba? Floresçam? (Acaba por que?) Andem, evoluam? Sentou em uma praça ao lado de garotos. As pombas comendo qualquer lixo que fosse. O lixo espalhado. Em São Paulo, tem muita praça assim.

"Acabou".

Notou suas mãos trêmulas, a decepção com o fim. Poxa, mas como que acaba? Há tanto a fazer, tanto! Havia necessidade em seus movimentos. Uma pessoa decepcionada fica mesmo assim. Havia um resquício de lágrima. O chão sujo, ele se misturando à paisagem, fazia parte dela. Elevou às mãos para o céu. Os outros garotos cheiravam cola. E ele nem se importava.

"Acabou".

E ele ali, sem entender conceitos abstratos sobre fim, sobre acabar. Questionando profundamente se isso era justo. Por que? Ele tinha dinheiro, caralho. Decidiu-se: baforou no saco mesmo, já que a porra da pedra havia acabado.

5 comentários:

  1. Ao ler seu texto, estava crente que falava de alguém indignado com o fim de um relacionamento.
    Que olhar sensível para as coisas que passam despercebidas pela sociedade...
    eu faço muito essa reflexão também, mas não costumo escrever assim...como você...se deu ao luxo de brincar com as plavras, e eu gostei da brincadeira...apesar da dura realidade descrita nelas...

    És um artista.
    Parabéns.

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  2. Hi,

    Nice blog.

    Here is a blog that serves for your spiritual needs...
    It has messages from the Holy Scriptures that teach us how to have GOD in all the aspects of our lives, and allow GOD's rule in every matter.

    http://www.holyoneofisrael-reconciliation.blogspot.com

    Have a blessed reading.

    God bless you.

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  3. Meu querido veterano! :-))
    Olha eu aqui ^_^
    Dê uma passadinha no meu blog, será muito bem vindo!

    Beijinhos :-*

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  4. Descobrindo um novo 'Tio Paçoca'.. interessantíssimo! :)

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  5. assuntos tão proximos das conversas...

    muito bom!!
    muito bom!!

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