O seu sagrado segundo era a força de séculos. A voz que ouvia não parecia real. Lembrava os devaneios maníacos dos antigos, lembrava a modernidade do novo mundo. A voz permanecia aos gritos informando verdades, novas vertentes. A voz que ecoava nos céus buscava todos os corações, todos os sentidos. E no sentido puro de sentir, a voz parecia não ter som. Era emitida em vibrações que ecoavam de forma agressiva no peito de quem sentiu. Pessoas se debatiam com o poder da mensagem vibrante. Em momentos singulares, lembrava os famosos ditadores. Em outros, ao que conhecemos como "Voz de Deus". Em outros ainda, parecia bronca de mãe, mas houve outros instantes que se parecia com um sussurro. Um choro de bebê, uma palavra ao pé do ouvido, um urro desesperado.
Entre tantas dissonâncias, a voz pareceu clara. Uma palavra assemelhou-se com algo audível, no mesmo instante em que o céu se abriu. As nuvens pareciam bailar ao som inaudível da vibrante voz. Passo-a-passo, o descompassado ritmo da dança das nuvens pareceu parar. Ao centro se via o Sol e a Lua, uma ao lado da outra. Cada uma parecia ter um guardião: uma estrela, como as que as crianças desenham em suas recriações artísticas dos céus.
E tudo pareceu um desenho. Um desenho sem sentido. A voz aumentou, as palavras já não eram mais compreendidas, o som do céu vinha das duas estrelas. De cada ponta saiu um risco, que virou rabisco, como se alguém riscasse o céu. De tempo em tempo, se via uma nova forma. Num momento depois, o depois parou. O mundo não se mexeu. As casas foram ficando iguais. Tudo parecia uma colagem do que tudo foi. O silêncio, as novas formas, os novos "layouts". O novo...
Nada era igual ao que antes existiu. E existiam ainda todas as coisas, todos os sentidos. O tudo...
A lua e o Sol se uniram. Surgiu a explosão e as estrelas foram se aproximando do chão. Ao tocarem o solo, os corpos humanos foram desabando. Todos caiam, menos um. Um único menino no meio do fogo, parado no centro da Terra viu sozinho os corpos começando a compor a paisagem. Cada corpo ia redesenhando os detalhes da natureza. Cada árvore cortada pelo homem renascia do corpo de um ser humano. Os prédios virando montanhas. A sujeira virou o que foi e nada mais era sujo. Os rios tinham água pura. Até a camada de ozônio foi tapada com as moléculas de corpos de um "povinho" ali do alto. As duas estrelas, outrora gigantes, agora tinham forma de duas crianças. Os três agora brincavam no quintal do Universo.
O quintal estava mais bonito e fora revisto em detrimento do velho. O novo projeto tinha mais a cara de "Sapeca e Infantil". Era um mundo mais doce, e os seres dominantes eram os macaquinhos, que aliás eram muito mais divertidos que os antigos e egoístas "Homo Sapiens". Um mundo de conto de fadas no lugar do antigo e velho mundo. Sentado no topo da montanha mais alta, a brincadeira recomeça.
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