quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A paisagem "não" concreta

Sentem-se ao fundo do trem e embarquem mais uma vez nesse vagão desgovernado que transborda inconsequência e compatibilidade com a falta de esperança. Descontentes, os maquinistas sonham com o vento que bate na face. Entediados, os passageiros querem a emoção de pilotar. Eu queria fazer parte da paisagem da janela. Intacta, imóvel, serena e só faz o bem. Nunca uma paisagem fez mal a alguém. Elas são simples, criadas pelo mundo para enfeitar nossas vidas. Não gosto da missão suja que tem o ser humano de criar novas paisagens, robotizando o natural e "concretizando", do substantivo "concreto", o nosso mundo verde. Ou azul, ou qualquer cor que queiram chamar esse mundo cinza. Pois nada além de cinzas fazem parte do verde que tanto coloriu nossa vida. Mas só o verde, não. O amarelo, o azul, o rosa, o vermelho. As primárias e secundárias se tornam terceiras, de segunda mão, sem primeiras intenções de serem nada. O fato é que de "concreto", essa selva de concreto não tem nada. E nós seres humanos acinzentamos as vidas alheias de formas que variam as variações das tão infinitas variáveis de equações que medem o impacto do homem sobre o mundo. "Cuidado com o que escreve, Alexandre". Não!
Outro dia tentei ser melhor, e me senti completamente burro. Outro dia me lembrei da minha infância e me lembrei de meus medos, e me senti um covarde. Mas foi quando lembrei da minha vida como uma paisagem, sem as folhas mínimas podres que minúsculas nem pensam em tirar a beleza de toda a natureza, que vi o quanto era feliz. Vi uma criança que se tornou um homem, e um homem que se tornou um moleque. O Erê. "Já que pra ser homem tem que ter a grandeza de um menino", vou rever as paisagens enquanto o mundo varia entre ação, calmaria, emoção, complicação. Estático e belo. Intocado e singelo. Como a vida deve ser!

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