domingo, 30 de agosto de 2009

Da metodologia científica aplicada

Caro Leitor,

O fato de você estar lendo esse texto, prova que realmente não é possível uma bola amortecer o impacto de uma pessoa de 85 Kg que salta do décimo andar de um prédio. Agora meu próximo passo será dizer se depois da morte há ou não há vida. Se não voltar a escrever, isso quer dizer que não há. Dê um prazo longo, 7 dias pelo menos antes de apressas conclusões. Daí já saberei das normas e coisas do local onde "Pós-vivemos", se é que posso dizer assim.
O fato é que tal experiência na verdade é meio uma desculpa, assumo. O que quero mesmo é sentir o frio na barriga antes de chegar no chão. Das duas, uma: ou conto vivo, ou morto. "Das três, uma ou nada" seria a melhor expressão. Há a possibilidade de não mais existir e daí o prazer não poderá ser passado para as gerações futuras. Infelizmente terei que correr este risco. Diante dos meus anos de estudo sobre a possibilidade de existir vida no Acre, estudos que foram desbancados graças a minha falta de capital (alguns até diziam que já haviam ido para lá , ou nasceram lá... mas oras. Um outro homem disse-me outro dia que era Jesus. Sou adepto da ciência empírica) e pela falta de apoio à ciência no país, decidi que não seria mais útil provar coisas que ninguém julga importante. A bola ou a morte, todo mundo quer saber.
O outro fato é que também já estava mesmo cansado de tentar provar coisas pra todo mundo. Portanto para minha última experiência, por isso algo grandioso, que entrará, sem a menor dúvida, para os anais da ciência fisíco-teológica, escolhi tais temáticas. Aliás, pensando melhor, ainda quero provar mais algumas coisas, como quem é o verdadeiro Deus e essas coisas. Mas isso só se eu viver depois da morte. Se não deixei de existir mesmo (acho que já disse isso, né?). Termino dizendo que a bola tem uma circunferência 165,53 cm, eu acho.
Desejem-me sorte. (No céu ou no "não existir", já que já vou ter pulado.)

* Olá, me chamo Norberto e fui o homem que encontrou a carta. Ah... Também fui o homem que achou estranho a bola lá no térreo do prédio e tirou-a do caminho. Aliás, fui também o mesmo que subiu no apartamento daquele lunático e o salvou. Ele não pulou. Morreu de desgosto e ainda não voltou.
Ou seja, não existe céu.

sábado, 29 de agosto de 2009

Sobre outras coisas

Abre essa porta, por favor
Hoje eu quero mesmo é que o vento entre
Não tenho do que me esconder
E que seja assim sempre

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O vôo da vida

O que eu fiz foi pra te orgulhar
É eu sei é tão bom assim
Pai eu to com tanto medo, por favor...
Não precisa dizer pra mim
Vive assim que ao fim você
Terá o que escolheu pra ti
Eu sei mas tenho um medo imenso
De ser menos que mereço

Poxa filho eu já te falei
O amanhã é longe daqui
É eu sempre te escutei, mas onde está
O amanhã bom que não quer chegar?
Está onde ele deve estar
E não é certo se apressar
Mas pai, cê sabe, eu luto tanto
Pra ter o meu lugar

Pois é filho, eu sei
Mas não adianta só se ajoelhar
O caminho é longo e cruel
E a quase certeza é o Céu
Pai, eu não tenho medo de errar
Mas se eu erro ao me aventurar
Quem me espera e confia em mim
Quem acredita na glória no fim

Vai se frustrar por eu não chegar
Mas me diz, melhor vai ser
Pra quem, além de ti, você vai
prestar contas até morrer?

O que eu fiz foi te convencer
Que pra viver era bom ser bom
E eu sempre acreditei, mas ouça bem
Quando fui bom eu me machuquei
As feridas fecharão
E a mente vai tranquila do que plantou no chão
Mas se planto a tal bondade, faço com verdade
E me pisam na cabeça sem piedade

E você acha mesmo assim
Que a vida teve pena de mim?
Pena não, algumas eu presenciei
Em muitas delas sofri também
Pois escute o que vou dizer
Nesse ponto sou piegas
O bom tende a vencer
Ser muito bom faz do dom um defeito
Contraria a própria lógica que o destino tem feito

Filho você não me entendeu
Dor sentiu e assim cresceu
Pai, você tá certo mesmo, o que é ruim
Mas me diz, por Deus, não vai ser sempre assim?

Não tenha medo da dor que restou
Sofrer é vitória pra quem de fato amou
Pois se arriscou a ser mais ou
Abriu ao desejo o ardor

Do amor você nasceu
O amor amorteceu
O amor deixou a morte morna
O amor que é subjetivo e forma
O amor quebrou a maldição
O amor que amarga a solidão
O amor de mãe que te gerou
O amor que te concretizou

E o que é viver senão
Achar que tudo é a beleza maior
Acreditar que amanhã vai ser melhor
Mesmo que seja só esperança em pó
E vai e não vai, você vai ver
Vai sofrer todo dia até morrer
Mas terá mil amores, aprenderá
Pode ser até que algum dia possa melhorar

Não há glamour nessa vida
E mesmo assim ela é incrivelmente linda

Pai no mundo vou encontrar
Vários mestres pra me ensinar
Mas esteja sempre onde estiver, confie em mim
Vôa que eu te acompanho.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Km 169

Seria diferente se ele não tivesse ouvido a explosão. O barulho ensurdecedor de aço retorcendo. Os gritos desesperados.
Se a noite estava fria ou quente, se o vento estava aprazível, se micro-gotas tocariam seu rosto, não saberia dizer. A temperatura ambiente era de mais ou menos 19 graus, o que obrigava um casaco servindo de cobertor. O trajeto já conhecido enjova de se repetir na mesmice cíclica que são as rodovias, principalmente na claridade momentânea resultante da luz do farol. A poltrona 35, a penúltima ao lado direito, encostada à janela, era o seu lugar. Ao lado a outra cedia espaço a uma pequena mochila, que sempre carregava com ele.
Olhava ao lado de fora para saber onde estava. Kilômetro 169. Um balanço da luz do farol ao lado. Um ônibus desgovernado. O corpo não mais lhe pertence. Os pensamentos, também não. Não sabe se segura, se solta, se deita. Um caminhão parece surgir do meio da escuridão. E ele ouve o estrondo.
Seu corpo fora arremessado violentamente para a poltrona da frente, depois por cima dela, apertado entre o aço do teto e o assoalho. Ele não sabia ao certo onde começava seu corpo, o corpo do homem da poltrona da frente, aquele que incomodava a viagem inteira com a poltrona reclinada demais. Ou com o da senhora que não parara de falar no telefone na poltrona do lado. Também não sabia se a dor que sentia era suportável, se existia algum tipo de dor, se aquela perna perfurada era mesmo a sua, se conseguiria se mover. Ao contrário do restante do corpo, sua mente movia-se mais rápido do que o normal. Olhou para sua frente. Ninguém se mexia. Sabia que estava vivo. Só ele? Não sabia. Se moveu.
Aquele ônibus poderia explodir a qualquer momento. Sua mente focava na janela aberta pela pancada. Notara agora que o ônibus havia capotado, estando as rodas para o alto. Se rastejou, sentindo a dor que se assemelhava com a que acreditava que sentiria ao morrer. Aos passar pelo ferro contorcido, corpos misturados a bancos, sangue misturado ao plástico. Passava lentamente, mas não pensava nos possíveis corpos que poderiam estar abaixo dele. Segurava a algo, puxava seu corpo para a frente. A cada novo puxão, seu corpo chegava mais perto do buraco onde estava o vidro. Apoiou a mão no vão. Cortou a mão nos restos de vidro que estavam presos nas laterais da janela. Seu corpo desabou em cima dos cacos no chão. Alguns curiosos o olhavam assustados. Andou para lugar algum, sentou no chão. Pessoas vinham correndo para socorrê-lo. Tudo parecia estar mais lento. Em choque, não falava. Não lembrava de ninguém. E nem agradecia por estar vivo. Se sentou e mais nada.
E esperou...

domingo, 23 de agosto de 2009

Do autor

O meu primeiro acorde saiu meio bagunçado. Depois os dedos doídos tentavam incessantes alcançar a perfeição de cada nota. Mas isso ainda era um sonho. Daí surgiram os novos desafios. De corda a corda um novo som, de som a som uma nova canção, a voz querendo atravessar a garganta, e os dedos duros travando o desejo de se tornar melodia, que vem lá do diafragma, ecoando na garganta, decepcionado com a falta de destreza dos dedos. E vieram as palhetadas, os dedilhados, os aquecimentos, exercícios, cifras, tablaturas, músicas. Lembro sempre daquele anseio, do frio na barriga a cada acorde certo, da harmonia se tornando cada vez mais encorpada, com mais personalidade.
Haviam os ensaios com a banda, reunião diária de outros sonhadores que "malemá" conheciam de nome o instrumento em mãos. Havia um sonho maluco de conseguir executar uma única canção, nada além disso. Tinha meu pai que era o professor daqueles garotos que não sabiam ainda o poder dessa coisa inútil.
Daí pra primeira canção própria: um violão, um caderno e uns amigos. As letras de protesto, sem nem saber pelo que se podia protestar. Os festivais, as derrotas, as glórias, os shows quando, ainda crianças, cantavamos Rock'n Roll em festas com bêbados; as microfonadas na boca, gente que caía no equipamento. Daí para a vida, que vai tirando aos poucos seu instrumento.
Mas foi em uma madrugada a qual, lembro-me perfeitamente, abri minha case, que a arte voltou mesmo a fazer parte da minha vida. E lá estava ela: minha guitarra. E lá estavam eles: meus medos. E lá estava ele: meu caderno.
Meus amigos? Ocupados com as cobranças da vida. Nosso professor? No céu, ressoando outras melodias. Eu? Desesperado e só, em meio as dúvidas de um amante de arte, um sofredor tolo e exagerado (como antes dito), chorando. Uma nova canção nasce. Um sorriso vem ao rosto.
Daí, não lhe parece que agora vem o sucesso? Não é esse o final feliz que espera? Não seria, diga do fundo da alma, uma lógica correta para o fim dessa comovente história? Sinto lhe trazer à luz a decepção, mas não existe sucesso não.
Pois então, dirá sobre dificuldades, mercado da música... mas que porra! Estou feliz!
Outro dia, o menino de 14 anos de idade que tinha o sonho de tocar guitarra, agora com 23, pegou seu violão e cantou a tal música, da tal madrugada, dos tais medos. Um outro garoto, um grande músico aos 14 anos de idade, com o qual aquele havia tido contato uma única vez na vida, cantou e tocou a música inteira junto. Aprendeu em um vídeo na internet. Isso aconteceu outras vezes, com outras pessoas, de outras maneiras. Gente que sabia o refrão. Gente que até se emocionava com a música. Consegue perceber isso, amigo leitor?
E irão acontecer outras. E é com um arrepio enorme que lhe digo, seguindo a linha de raciocínio "auto-ajuda" (a qual não sou seguidor fanático, mais hora ou outra não consigo fugir, mesmo que não tente) dos últimos posts, o que escreveu no comentário do meu texto anterior a esse uma pessoa iluminadíssima: "Quanto mais a gente avisa a nossa alma que não precisamos ser Grandes, mais parece que as coisas ficam em paz dentro da gente e do tamanho certo que cada uma é." Percebe a beleza disso?
Continuarei sendo um grande artista de poucos, fazendo aquilo que, independente das críticas e daqueles que a isso odeiam, amo. Salvando a minha alma das desgraças de somente "comercializar" minhas construções sentimentalísticas-mentais.
Fazendo música, fazendo textos, fazendo graça, ainda que de graça.
Isso é um desabafo do autor do texto. Meu "eu-lírico" está doente hoje e não veio.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um dia desses

Daí de repente o tempo parou.
Foram poucos segundos, depois o mundo girou de novo. Entre tempo e espaço, espasmos me travando descontruindo-me, perdi meu medo. Desobstruindo meus traumas, meus medos, minhas barreiras, exagerando, pois sou mesmo assim.
Daí mais outros... Calar-se é virtude de poucos. Entre tanto.
Perpasando minha mente, surge um sorriso.
Sabe, caro leitor (e atualmente aviso para que não receba críticas sobre o layout "blog diarinho" de certos textos), desglamourizei realmente minha vida.
Faz o mesmo. Bebe um liquído que te faz bem, corre uma maratona, fica em casa sem fazer nada. Você vai morrer, assim como eu. Vamos, de alguma forma, deixar de existir.
E a gente aqui se importando com ego e essas coisas.
Com carros e essas coisas.
Com essas coisas.
Com coisas.
Faço o que quero, não consigo o que preciso, dou um sorriso de felicidade e conto para alguém como minha vida é boa.
Depois escrevo para me fazer bem.
E se isso não é o bastante, meu caro leitor, reveja seus conceitos limítrofes.
E me peça uma cerveja, por favor... meu copo está vazio.
E me traga um incenso, tenha a bondade... minha alma está em paz.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Obra

As asas batiam no ritmo certo
O vento soprava no ponto certo
A manobra, portanto, foi bem feita
Parou em cima de um prédio alto, digo
Um prédio bem feito, decorado
Cores espelhadas nas vidraças
Um gigante prédio, vitória humana
Um prédio comercial, decorado agora com o pássaro
Animal pomposo, com o peito aberto, cabeça erguida
Parado como uma estátua gótica
Decorando o prédio, repito, uma obra moderna
Revela a força do homem urbano
O homem que atravessa na rua apressado
Sem nem ao menos olhar pra cima
O homem que corre para chegar no trabalho
Possivelmente situado na grande obra
O homem que tem o terno mais caro
Enfeitado com uma gravata impecável
Com seu melhor sapato, a sola pouco gasta
O homem que antes de adentrar ao prédio
Recebe uma bela cagada do pássaro estátua
Que levanta vôo meio tonto, desgovernado
Mas aliviado e leve, sem dúvidas
O homem se revolta, mas não dá pra entender
Aquilo tudo sempre foi uma merda e sempre irá ser.

sábado, 15 de agosto de 2009

Provocações Artísticas

Estou chocado. Há coisas que desesperam ao se ver. Descreveria se isso me fizesse algum bem. Destacaria aqui muitas de minhas possíveis soluções.
Há coisas carregadas, experiências as quais devemos passar. No meu caso, um filme. A tensão a qual fui levado me pegou desprevenido. A arte tem mesmo dessas coisas e explêndidos os que me chocam. É capaz que um dia consiga chocar alguém com um texto meu. Mas prefiro a lágrima ao nojo, um sorriso à repulsa, uma hipocrisia à realidade nua e crua. Talvez por isso me esconda atrás da arte. A vida é a imitação do que a ela imita. Pois prefiro imitar em minhas composições aquilo que realmente queria que fosse.
Mas ser chocado por algo, além de me mostrar outros ângulos do que pretendo ser, me dá medo. Acho que é essa a sensação almejada.
Desobstruir minha mente das possibilidades ao invéz da eterna fuga. Faz sentido. Eles tem razão. Mas a minha não. Vai sempre tentar dizer o ruim da melhor forma. Já não são o bastante as diversas dificuldades que a vida nos dá, oras? Já não é demais a vida impondo à sua maneira as mais horrendas coisas? A minha arte não terá disso. Não vou esconder as sujeiras, porém tentarão sempre serem compostas por poesias. Terem um pouco de beleza. Enquanto isso vou aqui treinando e questionando até que um dia nasça minha própria forma de ser, sem nunca ter nem se quer resquícios de outras formas de vislumbrar o mundo se não a minha. Sem estar carregado de verdades impostas, palavras confortáveis, parafraseando um caro amigo e escritor, "a literatura não é lugar para conforto". O fato é que sim, fugirei do conforto. Mas sem nunca se perder de mim.
A minha arte talvez irá chocar. Mas de leve. Sem dor. Sem medo.
Até que eu descubra, afinal de contas, o que esse que vos escreve é. Um dramaturgo Hollywoodiano, um novelista da Globo, um roteirista russo ou um cordelista sarcástico. Ou simplesmente mais um ser humano invisível fazendo o que ama.
Não sei. Talvez algo infantil.
Talvez alguém infantil.
Talvez, simplesmente, eu.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Conversa a três

Do que eu me lembro havia uma sala, uma cadeira estofada e uma mesa. Do outro lado, mesa e um homem de branco. A notícia foi dada.
Do que eu me lembro me esqueci. Lágrima, confusão, medo e uma missão: Viver.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Para não parar

Pedalar para não parar
Caminhar para não parar
Sonhar para não parar
Pular para não parar
Agir para não parar
Voltar para, ainda assim, não parar

Se mover é o objetivo
Compromisso dos que se movimentam
Mas e aos que não tem tamanha sorte
a morte?
Nunca, pois mover-se pode ser algo imóvel
Sentado num móvel "móvel"
As pernas dos imóveis
Passam sem lembrar o quanto tem cérebros velozes.

Escrever para não parar
Pensar para o mesmo fim
E sim, isso não tem fim
E fim, o sim é o melhor para mim
E para
Mas nunca deixe de se mover
O tempo tá aí, de novo feito para ti
Para decisões... para a explicação

Cansa ver o mundo rodar
Cansa ver as coisas não saírem do lugar
Mas se mexa, repito
Dance, cante, se exploda
Toda a canção pode ser ruim
Toda benção pode ser ruim
Mas não parar, seguir para qualquer lado
É o pecado desejado e ponto.

A outros pontos menos importantes na vida
A outros tantos fatores pedantes
Tantas tensões tântricas
Tantas que...
pois bem,
...foda-se.

Mexa e pronto!
Como vitaminas de saquinho
Como enlatados de conserva
Como caixas de suco...
Como a maioria das pessoas em festas
Encontre seu lugar

Avançar para não parar
Retroceder para não parar
Parar para não morrer
Morrer para não parar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O dom da palavra (ou ao avesso do dom)

Se seguisse os conselhos que dou para as pessoas, seria um ser humano melhor. Acho que seria casado há pelo menos 5 anos, teria um filho e seria dono de uma multinacional. Teria conseguido viajar o mundo e estaria fazendo meu mestrado, com minha tese concorrendo a prêmios. Poderia ir a Lua, encontrar pedrinhas e trazê-las para mostrar em alguma exposição. Seria um artista famoso, teria um corpo bonito, me vestiria melhor, teria um rosto mais jovial. Seria mais feliz. Nunca iria me decepcionar com os outros e muito menos tomaria anti-depressivos. Seria um administrador explêndido, teria potencial para comandar uma nação, salvar o mundo das crises. Acho que encontraria dentro de um chapéu a cura para as complicações sentimentais, quem sabe até salvaria pessoas de abismos. Seria um aventureiro, um conhecido escritor, e não um jovem desesperado que alimenta seu blog enquanto espera.
Se eu fosse como as pessoas me enxergam então, o que seria!? Haveria filas para ter a oportunidade de uma palavra comigo, um afago meu. A televisão seria minha casa, e a rua minha passarela. Os palcos da vida iam se esbaldar do meu talento, ora cômico, ora dramático, ora poético.

Ou o contrário.
Eu queria ter o dom de dar conselhos inteligentes, e não ser uma continuação barata das coleções de Auto-ajuda.
Queria ter possibilidade de entrar em contato com forças divinas e salvar vidas.

Mas quem é esse ser, ora, que hora se esconde em baixo do céu e não ora?
Chora.
No silêncio de minhas divagações, me calei. Me selei. Me celaram.
Fui usado para me levar aonde não queria ir.
Queria mesmo ter outro dom:
o de me calar.