Finalmente o blog "Mitologia Moderna - Cantos e Contos" chega ao post "100"!
Muito obrigado a todos que passaram por aqui... E rumo aos "1000" post's!!!
"Vamô fazer arte, porra!"
domingo, 28 de junho de 2009
Sobre as coisas
A praça dividia a rua em duas mãos. O homem gesticulava ambas para conversar com a moça. O ônibus abriu suas portas para os dois. A moto freou bem em cima dele. O cachorro uivou ao ouvi-lá, e a velha em sua casa se assustou co isso. Seu filho mais novo se preocupou ao vê-la e a vela assoprou para velar com amor o sono daquela. Apagada soltou fumaça que empestiou um pequeno lugar, e o mosquito tossiu com a tal.
Ele vôou, o vôo cessou, não foi por cansar, mas por não perceber, que era vendo pra ser, um bicho vencedor, que voltou pra sua terra natal.
O mosquito está bem mais alto, na palma da mão direita, aberta, bem feita, dobraço que se estende gigante, escancarado, abraçando o Brasil. Mas sem nem perceber, tonto, caiu. Todo o resto não fez diferença, toda gente nem mesmo percebeu. Que o mosquitinho poderia ser você, ou até mesmo eu. Tudo depende de quem se compara, com que se compara. Somos ridículos em comparação ao universo, e gigantes em relação às moscas. Viemos parar nesse mundo do nada. E de tontos, caímos em si todo dia, que somos gigantes em ser nós mesmos, engrenagem do mundo, da moça do ônibus ao mosquito tonto. Criados genialmente para colorir o mundo cinza, de cristo gigante de braços abertos... Gostando do que vê.
Ele vôou, o vôo cessou, não foi por cansar, mas por não perceber, que era vendo pra ser, um bicho vencedor, que voltou pra sua terra natal.
O mosquito está bem mais alto, na palma da mão direita, aberta, bem feita, dobraço que se estende gigante, escancarado, abraçando o Brasil. Mas sem nem perceber, tonto, caiu. Todo o resto não fez diferença, toda gente nem mesmo percebeu. Que o mosquitinho poderia ser você, ou até mesmo eu. Tudo depende de quem se compara, com que se compara. Somos ridículos em comparação ao universo, e gigantes em relação às moscas. Viemos parar nesse mundo do nada. E de tontos, caímos em si todo dia, que somos gigantes em ser nós mesmos, engrenagem do mundo, da moça do ônibus ao mosquito tonto. Criados genialmente para colorir o mundo cinza, de cristo gigante de braços abertos... Gostando do que vê.
sábado, 27 de junho de 2009
A flor e a náusea - Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
* Esse é o primeiro texto que posto nesse blog que é de um autor conhecido. Na verdade um mito. O nosso grande poeta. Mas postei-o pelo simples fato que esse texto é a "musa" para mim. Não que vá fazer algo comparável. Mas me inspirar nele, sempre. Uma obra prima!
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
* Esse é o primeiro texto que posto nesse blog que é de um autor conhecido. Na verdade um mito. O nosso grande poeta. Mas postei-o pelo simples fato que esse texto é a "musa" para mim. Não que vá fazer algo comparável. Mas me inspirar nele, sempre. Uma obra prima!
sexta-feira, 26 de junho de 2009
A nossa trilha sonora
Realmente a vida pode ser comparada a um filme. Na verdade, "o filme pode ser comparado à vida" seria a melhor frase. Mas aqui não penso em trazer todas as semelhanças, em nenhum momento esse será meu intuito. Falo apenas sobre trilha sonora. Momentos onde músicas são tão ou mais importantes do que a cena em si. Ou quando elas dão cor ao ocorrido. Ao ler isso você, meu caro leitor, não fará ideia do frio na barriga que sinto agora, ao lembrar de só algumas delas. Músicas que marcam momentos familiares, que marcam beijos, promessas de amor, festas divertidas, momentos especiais da minha vida, amigos. Da infância até os dias de hoje. Sem a menor dúvida, a música é a maior ligação do homem com o divino, a melhor forma de encontrar a melhor parte da essência do ser humano. Quem não se emocionou ao menos uma vez ouvindo uma música qualquer? E não ficarei aqui no lugar comum das músicas "belas". Digo chorar ouvindo qualquer música, que nos fazem lembrar em que contexto tocava aquela trilha sonora. Esse é o poder da arte. É a soma de todas elas juntas. Um som traduz um sentimento ou uma bobagem qualquer. Eu quando muleque ouvia meu pai tocando durante horas e horas. Um pouco mais velho, comecei a tocar. Depois de um tempo meu pai se foi, e a música ainda nos ligava e nos liagará pela eternidade. E pensem em algo que pode fazer isso? Somente o amor... Ou seja. Tão forte quanto o amor, está a música. Pois em ambos o sentimento humano é exposto sem máscaras, sem vergonha, sem limites, sem medo. Nos faz gritar, pular, dormir... nos cura. Pois então, desligue a TV e vá ouvir uma música. Ou talvez compor uma. Pois até para se ficar na eternidade, melhor caminho não há. Obrigado à todos que ouviram as muitas canções do mundo comigo e obrigado aos que construíram minha trilha sonora. Sou grato por cada nota, acorde, melodia, sensação. Por cada novo dia, nova cena, onde os sons se misturam aos desejos de se chegar mais perto do divino. Que vivam, assim, a música.
(...)
Dia 25 de junho de 2009. Morreu Michael Jackson... Um dos únicos grandes artistas vivos... Perdemos mais um...
sábado, 20 de junho de 2009
No palco
A cortina se abre e os atores atuam
A cortina se fecha e a máscara atua
A cortina se abre e a Luz invade
A cortina se fecha para o sono inavadir
A cortina se abre para o banho
A cortina se fecha para o piso não molhar
A cortina se abre para ver a kilometragem
A cortina se fecha por se cansar da paisagem
A cortina se abre para colocar uma nova roupa
A cortina se fecha depois de mostrá-la
A cortina se abre e entram os espectadores
A cortina se fecha e os cobre de escuridão
A cortina se abre e o show recomeça
E no palco, um homem de cara pintada
Cabelo colorido, sapato bico largo
Roupa estranha, complicada
Cai no chão e o povo ri
Até que mais uma cortina se feche
Para outra se abrir
A cortina se fecha e a máscara atua
A cortina se abre e a Luz invade
A cortina se fecha para o sono inavadir
A cortina se abre para o banho
A cortina se fecha para o piso não molhar
A cortina se abre para ver a kilometragem
A cortina se fecha por se cansar da paisagem
A cortina se abre para colocar uma nova roupa
A cortina se fecha depois de mostrá-la
A cortina se abre e entram os espectadores
A cortina se fecha e os cobre de escuridão
A cortina se abre e o show recomeça
E no palco, um homem de cara pintada
Cabelo colorido, sapato bico largo
Roupa estranha, complicada
Cai no chão e o povo ri
Até que mais uma cortina se feche
Para outra se abrir
sexta-feira, 19 de junho de 2009
A Rua
Dá-me o devido devaneio
Distante desejo de dormir
Deitado diante das docas
Doente de deixar deduzir
Das doidices dementes, desminto
Descubro as delícias da dor
Despeço-me dos desejos distantes
Descrente, decente desamor
Dos dois desatinos dádivos
Deixei-o descanssado, e doeu
{o coração}
Decorrente do desprezo diferente
Decide deixar de deprimir-me, eu.
Distante desejo de dormir
Deitado diante das docas
Doente de deixar deduzir
Das doidices dementes, desminto
Descubro as delícias da dor
Despeço-me dos desejos distantes
Descrente, decente desamor
Dos dois desatinos dádivos
Deixei-o descanssado, e doeu
{o coração}
Decorrente do desprezo diferente
Decide deixar de deprimir-me, eu.
domingo, 14 de junho de 2009
Eu mesmo
- Quem?
- Não vi. Só sei que sofri.
- Por que?
- Não sei. Só sei que doeu.
- Muito?
- O bastante para ainda doer.
- Mas está melhor?
- Não sei. Mas chega de falar de mim.
- Mas sou você!
- Poxa.
- Não vi. Só sei que sofri.
- Por que?
- Não sei. Só sei que doeu.
- Muito?
- O bastante para ainda doer.
- Mas está melhor?
- Não sei. Mas chega de falar de mim.
- Mas sou você!
- Poxa.
domingo, 7 de junho de 2009
No quinto
Se você não se lembra, vou te contar. Eram os quatro dias do homem. E ele faleceu antes do quinto. Foi parar no quinto dos infernos. A única coisa que fazia era vomitar e ter azia. Era chorar e se debater. Gritava onomatopéias. Brigava com o cano que o fazia respirar.
O que eram aquelas pessoas? Sabe? As que estão em volta dele? De onde ele veio? Quem era aquele ser?
Conhecer a si é atingir a memória? Interpretar o sensível é entender o mundo? Calma... No resumo que crio, vai entender:
- No primeiro dia, nasce e vai brincar;
- No segundo dia, corre até se formar;
- No terceiro dia, trabalha feito uma mula sem descansar;
- No quarto dia, treme e se cansa, mas volta pra trabalhar;
Antes de chegar ao quinto, dorme.
Mas e o cano? O que te prende? O que segura sua vida? Meu Deus, e o cano? O respirador? Criador de sonhos, quem sabe, ó cano!? Gerador de ar? O que ele fazia ali? Era um simples "faz-me viver", uma ereção da vida.
Os quatro foram mais que o suficiente.
Na verdade, nunca iria se conhecer, e nem o porteiro, a garçonete, o presidente, o carpinteiro, a flor...
O quinto seria mesmo uma bosta.
O que eram aquelas pessoas? Sabe? As que estão em volta dele? De onde ele veio? Quem era aquele ser?
Conhecer a si é atingir a memória? Interpretar o sensível é entender o mundo? Calma... No resumo que crio, vai entender:
- No primeiro dia, nasce e vai brincar;
- No segundo dia, corre até se formar;
- No terceiro dia, trabalha feito uma mula sem descansar;
- No quarto dia, treme e se cansa, mas volta pra trabalhar;
Antes de chegar ao quinto, dorme.
Mas e o cano? O que te prende? O que segura sua vida? Meu Deus, e o cano? O respirador? Criador de sonhos, quem sabe, ó cano!? Gerador de ar? O que ele fazia ali? Era um simples "faz-me viver", uma ereção da vida.
Os quatro foram mais que o suficiente.
Na verdade, nunca iria se conhecer, e nem o porteiro, a garçonete, o presidente, o carpinteiro, a flor...
O quinto seria mesmo uma bosta.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Bica de sons
Despreparados tocaram ao céu um acorde de choro. A nota não pertencia ao estilo, nem às nuvens. Lagrimas cairíam se não fosse de choro. Contagiavam o povo com seus instrumentos e sons. Emocionaram a platéia com tamanha simplicidade, que já até estão dizendo pela cidade que melhor música não há.
Desassossegados tocaram ao léu belo som num banjo. Esbanjo celeste de tom e som. Causavam discórdias, cantorias, bebeção de cerveja gelada, com limão, que acompanhava a linguiça com pão e tinha até a salada no tão sonhado mês de verão. Nas mediações do boteco já dizem aos petelecos que melhor não há.
Desintoxicados tocaram o véu da moça. Cantada no choro de um homem sem fé, pé, ré ou fá-dós maiores. Não há bicas de som puro como água, nem mesmo em outro tom. Não há mais veneno, só a música que cura. Cantando desamores o homem perde seus temores, e até já estão dizendo por aí que remédio melhor não há.
Desassossegados tocaram ao léu belo som num banjo. Esbanjo celeste de tom e som. Causavam discórdias, cantorias, bebeção de cerveja gelada, com limão, que acompanhava a linguiça com pão e tinha até a salada no tão sonhado mês de verão. Nas mediações do boteco já dizem aos petelecos que melhor não há.
Desintoxicados tocaram o véu da moça. Cantada no choro de um homem sem fé, pé, ré ou fá-dós maiores. Não há bicas de som puro como água, nem mesmo em outro tom. Não há mais veneno, só a música que cura. Cantando desamores o homem perde seus temores, e até já estão dizendo por aí que remédio melhor não há.
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