quinta-feira, 26 de junho de 2008

O menino da violinha

Ele tinha apenas nove anos e já sabia cantar. Pegou um dia sua violinha e se pôs a caminhar. Entre estradas e correrias, romarias, confeitarias, mundo grande e sem porteiras ou portões que se abram todo dia, o menino conhecia os quatro cantos desse mundo não quadrado. E tonto por zanzar por todo o mundo, em rodar sem nunca parar, um dia pegou a violinha e sentou-se em Bagdá. Tirou sua nota mais triste e se pôs a cantar. A melodia ecoava em todos os cantos, até que um tiro ele pode escutar. Viu um homem disfarçado de guerra, e imaginou o que ele queria escutar. Tocou um som mais violento, e o soldado ficou emocionado com tanta violência no som daquela criança. A criança que rodara o mundo, hoje sabia canções de todo o canto, pegou o coração do guerreiro que ali estava com a mão, sem nem precisar chegar no refrão.
Continuou andando depois desse descanso e chegou ao Rio de Janeiro. No pé do morro com sua granada musical empanturrou toda aquela gente com um samba fora do normal. O menino que cantava a miséria do povo sofrido pelo mundo, voltou ao Brasil com uma missão. Mostrar pra todo mundo que a guerra que nos apavora ai fora era igual a que a gente tinha aqui dentro. Até porque, ao pé do morro também ouviu um tiro. E o tiro se aproximou do menino, chegando cada vez mais perto. A bala tinha a cor de ouro, e outrora lembrou um touro como o que vira na Espanha, e com certeza, o tiro procurava pelo menino. Sozinho viu de onde vinha a bala. De um soldado com a mesma estatura que ele tinha, uma arma que nem cabia direito na mão do menino que atirou na sua direção. Ele pegou sua violinha e rebateu a "bala touro" pra longe dele, indo parar no céu. Mas passado um tempo ele foi visitar a dona bala, que disse que suas amigas e irmãs sempre saiam desfilando suas mortes por aí saídas de armas seguradas por mãos como a do menino que segurava a violinha.
O menino assustado voltou pra terra, e lembrou da morte disfarçada de criança. Pelo menos em Bagdá não se disfarçavam os guerreiros. Aqui os guerreiros não tinham armas. E sim sonhos. Os sonhos de talvez cantar como o menino, de conhecer o mundo. Sem bala na agulha, mas sim no corpo, o menino caiu. E nunca mais cantou em nenhum canto.
Se bem que o soldado ainda sonha com o refrão que nunca chegou a ouvir, pois tiraram a música de seu ouvido com o zombido que insurdeceu a multidão. Agora junto ao menino, poderia saber de que são feitas as belas canções. Enquanto no Brasil, as balas ainda desfilam em todas as direções.
E o mundo, não tem mais o tal menino, nem suas composições.

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