O homem tinha custumes típicos de quem vive a vida simples, não-metropolitana ligado às coisas que a vida lhe proporcionava, com um jeito simples de falar mas com a complexidade profunda de quem é ligado a essa terra. Pescava, o homem para matar a fome da família e para a distração pessoal. Pescava também pelo rito que travavam a água e o remo. Duas formas diferentes , se agarrando em sintonia surreal para transformar as águas em estradas. A cada nova remada um efeito estranho saia do seu remo. Parecia que eram formadas pequenas ondas com o objeto. Mas elas eram tão pequeninas que ninguém se atentava em tentar entender, a não ser alguns cientistas doidos que o homem nem sonhava em conhecer. Mas o homem simples não tenta explicar os acontecimentos naturias, e nem conceituar nada.
Um dia ele sonhou com uma onda gigante, criada graças a soma das pequenas ondas geradas pelo seu remo, e seu corpo estremeceu. Acordou com um brilho no olho, porque ele já sabia que "Rio Tranquilo" não tem "Onda Gigante"! Mas naquele dia algo estranho ele sentiu, e saiu depressa em direção ao rio. Lá chegando pegou seu barco e pôs-se a remar. Remava com toda a sua força, mandando a onda com vontade para bem longe dali. Remava também o mais rápido que podia, pois imaginava que quanto mais ondas pequenas conseguisse, maior ficaria a sua onda gigante. Remava mais, e com mais força. Seu braço doía. E ainda remava. Naquele dia, que depois virou noite, o homem não ousou pescar , mas remava incessante em busca da tal "Onda Gigante".
E não se esqueça nunca, meu caro amigo, do que direi por agora, pois a simplicidade do homem gerou um rebuliço enorme, e um belo acontecimento. Imagine que chegando em sua casa, o homem se deparou com o seu filho molhado e assustado nos braços de sua esposa chorosa, mas com um brilho nos olhos de alguém que teve um sinal divino que se deve ter esperança.
- Fiquei sabendo da tua travessia sem sentido - gritava sua esposa - remando sem rumo, nem comida trouxe! Por causa disso, nem ficou sabendo do acontecera com teu filho, que correu hoje fugido de mim para cair nos braços do rio! Aquele rio que nos alimenta, parecia querer se alimentar de nosso filho...
Contou ainda a mulher que a correnteza puxava seu filho que se debatia por não saber lhe dar com a água. Já desesperada e triste, começou a orar para os céus para que a ajuda pudesse chegar de Deus, já que nada mais poderia fazer! E num momento sublime, a água parecia ser assoprada por um anjo milagroso. Era um sopro bem lento, que aos poucos levava seu filho de volta a margem do rio. E de novo nos braços da mãe, ela agradeceu aos céus pelo rio santo que trouxera seu filho de volta, graça ao sopro do anjo.
O homem olhou nos olhos de sua esposa e uma lágrima caiu. O sopro do anjo foi feito em um ritual simples, entre água, remo e coração. Nunca imaginou o homem que algo tão simples transformaria suas remadas na tal "Onda Gigante". Tão gigante quanto o sopro de um Deus.
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