sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Elite Intelectual

Mãe me escute, tenho boas novas. Sou agora a elite intelectual desse Brasil, viu? Sou menino sabido, estudioso. Tão dizendo até que não é que o povo que é burro não. Eu que sou a minoria inteligente desse povão. Sou agora mãe, acredite, classe média! Não importa se minha vida é mais dura do que ao outro inteligente do meu lado, coitado, já nasceu sendo a elite. Mas mãe, preste atenção. Sou agora responsável por esse país, pela linguagem padrão. O padrão tem que vir de cima, sabe? A gente até leva em conta o que pobre diz. Mas mãe. Lembra do meu sonho de tá aqui, lembra? Lembra de como eu queria ser inteligente, o quão contente fiquei, e veja agora, mãe, sou a elite inteligente no meio de tanta besta.
Mãe, não mal me entenda, interprete com carinho, as regras são feitas lá de cima. Se hoje me botaram pra ser a elite, não foi minha decisão. Falo errado, mas tá certo, faço disso expressão.
Mãe, sei que é inteligente, mas seu erro gramatical é chamado marca social. Tá mãe. Eu sei. Também já disse isso, mas duvidam. Dizem que é o dinheiro que diz se você não sabe falar. Mas veja minha mãe, agora que eu me escondo entre livros e pseudointeligentes, sou a elite pensante do país. Minha mãe, sei que fala direito, que estudou, mas você é pobre, me perdoe. Acho que sobre isso ainda vou estudar. Acontece que desde o dia que ultrapassei os portões daqui, eu sou igual, construo a verdade do povo, pesquiso como é bonitinho pobre falando. Mas tá tudo bem, tem um motivo: Pobre não estuda, e se sente a vontade de falar errado, de maneira não padrão. Não é só preguiça, sabe? É falta de oportunidade. Aqui não. Aqui eu tenho todas do mundo! Sou a elite cultural desse país.
Preconceito linguístico, não tenho não. Aprendi que não pode. O social tudo bem, é detecção. É empírico, mãe, acredite no que falo, sou a elite científica do país. Não diz que não.
Inclusive disse que a gente, povo nobre, irá encontrar por aí gente que não fala bem. De colégio ralé, gente que não faz balé, judo, karatê, tudo isso que num fiz, tudo isso. E disseram, adivinhe: que vou me surpreender. E acham até que nem vou entender! Ah mãe, viu? Eles não sabem de onde vim, mãe. Eles não sabem quem eu sou. Agora levanto a cabeça. Me olham com respeito. Sou a elite posuda, mãe, leitores profissionais, discutindo com os outros inteligentes do meu lado. Sou a elite, lembra? Que da as regras do jogo, do bom, do certo. Sou um número bom pro país. Ah mãe... como é bom ser chamado de intelectual. Agora sou eu, mãe, (e veja que coisa boa) que dita quem é ou não burro nesse país!

5 comentários:

  1. A presença da mãe na argumentação é ótima. Acho que com isso você captou algo mais profundo do que o argumetno da elite. Ele quer ser o menino de ouro pra mãe, antes do mundo. E as dúvidas, ele pedindo perdão, 'você é pobre'.
    'Acho que sobre isso ainda vou estudar.'

    Será que ele tá perdendo os valores, o chão?

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  2. Muito bom saber que de tudo que estudamos em nosso curso, ainda existem pessoas capazes de refletir alem de escutar e ler os textos que acham certo estudarmos.
    Muito bom saber que existem pessoas em nosso curso que questionam alem de responder as perguntas da prova.
    Muito bom saber que VOCÊ não decepciona!!

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  3. Muito possívelmente, sim. Aliás esse é o objetivo principal, ao que parece, de certos teóricos. Garantem assim uma hegemonia, fazem nossos corações se apertarem com as dificuldades vistas pela TV. A verdade é que a personagem tá inserida em um contexto ao qual não havia feito parte até esse momento. E ao mesmo tempo maravilhada, reproduz, pura e simplesmente, as verdades que aprendeu. Percebe isso? Uma nova verdade! Mais que uma crítica, uma constatação.
    E sobre o pensar sobre o que se estuda, muito obrigado. Mas a verdade é que não existe uma verdade, né? Existe uma teoria, que é sempre uma pergunta, que foi feita pra se questionar. Essa parte que falo no texto é uma na qual não concordo. Falo em sala e aqui. Daí me sinto melhor!

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  4. "Comente o que sente..."
    Sinto uma vontade enorme de sair de onde estou, caminhar, pensar e me perguntar algo muito difícil. O que faço nesse mundo? Só não faço isso, pois sei que vou enlouquecer. (na verdade é a desculpa do homem, determinismo biológico).
    Enfim, sei que não é psicólogo, mas tenho certeza de que entenderá o que eu quis dizer. Abraços. Saudades!

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  5. dorei, alê! tá caprichando cada vez mais. e super criativo! (a estrutura me lembra marcelino huhu)

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