quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Cinza terra

Após longos dias longe
Volto para a minha cinza terra
Monstro devorador de sonhos
Insensata e perfeita Metrópole
Na minha terra a garoa que umidece
Não padece em outras fontes
Onde só se constroem pontes
Pra cruzar favelas sujas

A cinza terra é de concreto
"Concretizando" os anseios
Tornando "concreto", possibilidades
"Concretizando" nosso coração

A minha cidade vista do alto
Parece até o céu de estrelas
Piscando suas luzes claras
Aclarando nossa escura vida
E ainda há nossas caóticas ruas
Criptonita da globalização
Que diminui a freneticidade daqui
Que mostra ali nossos caminhos loucos

E na cidade da ponte sem nexo
Nosso mundo é bem mais complexo
E divide-se em dois:
Um antes, e outro depois

De um lado dela, a burguesia bela
No outro pobres plebeus e Cinderelas
Que a ponte o coração gela
Pra aprender a portar-se como se deve (pode)
E as milícias das comunidades "carentes"
Enfrentando milicos, sem piedade
Embelezam ainda mais essa cidade
Com a cara desse mundo novo, unimultiplicidade!

Ainda assim me arrepia
Essa falta de harmonia
Dessa cidade abafada e fria
Que nunca envelheceu de verdade

E em São Paulo a vida é assim
Assaltos, mortes, desabamentos
"O céu está caindo", ouviu-se na igreja
Mas é o mundo que caiu
Caiu na desgraça de ser mundo
Caiu na desgraça do ser humano
Caiu no desgosto de ser sozinho
Caiu no moderno e grandioso, liso pano

Enquanto isso, da Praça da Sé
A qualquer outro ponto
A outro corpo, faminto, torto, morto
Na cidade que não pára

(e que não se farta do novo de novo
outra criança voa para salvar esse lugar).

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