segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre o Ensino de Língua Portuguesa no Brasil

O ensino de Língua Portuguesa ainda gera grandes discussões. A mídia, quando encontra oportunidades, tenta incriminar os cientistas da língua de serem a “Tropa de elite da gramática diferenciada, que convertem ideologia vagabunda em ciência não menos” (AZEVEDO, 2012). Nossos pais e mães escutam apavorados as novas teorias que seus filhos estudam. Além dos alunos que, mesmo quando defendem essas novidades linguísticas, o fazem ou com hipocrisia ou com um monte de preconceito escondido. Ou aberto. Quantos estudantes de Letras postam “erros” linguísticos dizendo que estão dando um “toque de linguista” em redes sociais. É difícil apostar em quantos realmente sabem do que estão falando.
Desde sempre, as teorias dependem de gente competente para saírem do discurso. A diferença é que uma teoria na área das exatas, por exemplo, depende do ser humano, mas as variáveis são detectáveis, são passíveis de erros e acertos, tentativa e erro. Tudo isso sendo reportado instantaneamente para os quatro cantos do mundo. Imagine que só o Brasil tem quase 2 milhões de docentes na educação básica. Imagine também que eles estão espalhados por toda a extensão territorial, com suas concepções, leituras, possibilidades. Cada um deles encontra uma sala diferente. Daí as teorias que estão sendo tão fortemente criticadas pela mídia brasileira, são as que são apresentadas por algumas Universidades (só algumas) e aparecem para serem empurradas por goela a baixo pelos materiais oferecidos pelo Estado, no caso de São Paulo, ou por materiais didáticos sendo feitos em escala industrial à luz dessas novas e tão controversas teorias.
A aula de Língua Portuguesa, portanto, é um complicado campo de batalha ideológico em que muitas porções da sociedade guerreiam. Uns com mais força e outros com menos, como em qualquer guerra. O professor em sala tem então duas realidades distintas, dentre outras possíveis, mas das quais  pontuo: de um lado o professor da escola particular que, na maior parte das vezes, é o que possui uma melhor formação (ou seja, as melhores Universidades formam professores para as instituições que melhor pagam, dentro da lei de oferta e procura capitalista), chega em sala e tem de se cuidar, pois os pais acompanham com tochas na mão cada nova notícia. O não ensinar gramática, ou o ensinar com um discurso contemporâneo pode representar um ataque aos defensores do gramatiques. Do outro lado está o professor da escola pública, formado na maior parte das vezes em instituições menos reconhecidas, que quase nunca toma contato intenso com essas teorias, e que, no entanto, não sofre tanta pressão dos pais e escola.  Alguns mais antenados buscam mudanças, mas os alunos assistem ao desespero do docente de camarote, sem muito se importarem, por motivos meramente culturais, além dos sociais (vale lembrar que o termo “elite intelectual” pressupõe o ato de estudar e aprender o que se ensina como elitizado, o que por muitas vezes é negado pelo aluno que, para valorizar de onde fala, nega o que não lhe pertence). Citando Soares, “(...) O aluno proveniente das classes dominadas nela (na escola) encontra padrões culturais que não são os seus e que são apresentados como ‘certos’, enquanto os seus próprios padrões são ou ignorados como inexistentes, ou desprezados como ‘errados’” (SOARES, 1986, p. 15).
Em meio a essa batalha, o professor deve se posicionar. E na busca por concepções e conceitos, não pode nunca se esquecer do aluno. Deve saber o que ensinar e se adaptar as necessidades desse aluno. É a partir da diversidade de textos apresentados, da apresentação de textos que dialoguem, buscar as relações desses textos em diversos contextos inseridos em uma linguagem. É necessário que o aluno conheça as teorias linguísticas com tamanha amplidão, que consiga explicar tudo o que se faz necessário na formação de um aluno das maneiras mais criativas e eficazes ao seu alcance. Para que o aluno que está sendo inserido em uma linguagem nova entenda esse processo. E para aquele que já tem as ferramentas por utilizar a tal variante culta, consiga enxergar o valor de outras variantes. Apresentar não apenas regras pontuais, e sim as enormes possibilidades que a língua proporciona. É um trajeto complicado, porém o professor precisa entender que “(...) antes de ser um corretor de exercícios de escrita, o professor se constitui na interlocução privilegiada de seus alunos. É apenas no momento em que se dispõe a ler o que estes escrevem que estará em condições de contribuir para a construção do conhecimento sobre a língua.” (BRITO, 1997) Mas há de se salientar que esses textos não são só os escritos: há muito na fala desses alunos que poderá ser valiosa ferramenta na tal construção desse conhecimento.
O professor de Língua Portuguesa deve se posicionar na construção de um cidadão. Um cidadão que saiba quem ele é, em que lugar social ele fala, qual a função que ele tem, seus limites, suas possibilidades. E essas possibilidades se encontram nessas novas teorias Linguísticas, espalhadas por todas. Mas dizer que o professor deve usar certas teorias, em uma realidade que não existe certeza de que se ele está preparado para aplica-las não é o caminho correto. Ou adotamos uma prova como a da OAB, por exemplo, para ditar o que queremos do nosso professor, fazendo ações de Marketing e Publicidade em favor das novas teorias, para fazer com que a sociedade as entenda como nós, ou deixemos que o professor na sua solidão da sala de aula tente fazer o melhor. Por que desde que o mundo pensa em educação e teorias, sempre dependemos de boas pessoas para executar, muito mais do que para pensar sobre.


Referências
BRITTO, L. P. L. de. A sombra do Caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas: ALB, 1997;
SOARES, M.B. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo. Ed. Ática, 1986.




2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Assunto complexo,né?
    Como você disse,são tantos professores espalhados por um país tão grande e com cenários tão diversificados.
    Nunca me dei bem com a gramática na escola,odiava português com suas classificações de frases que nunca entendi e também não sabia por que tinha que aprender.Mas me formei e tento me expressar com a palavra escrita da melhor forma que conseguir.Ás vezes a ideia é ser entendida,outras é justamente não me fazer entender.

    ResponderExcluir