O ensino de Língua
Portuguesa ainda gera grandes discussões. A mídia, quando encontra
oportunidades, tenta incriminar os cientistas da língua de serem a “Tropa de
elite da gramática diferenciada, que convertem ideologia vagabunda em ciência
não menos” (AZEVEDO, 2012). Nossos pais e mães escutam apavorados as novas
teorias que seus filhos estudam. Além dos alunos que, mesmo quando defendem
essas novidades linguísticas, o fazem ou com hipocrisia ou com um monte de
preconceito escondido. Ou aberto. Quantos estudantes de Letras postam “erros”
linguísticos dizendo que estão dando um “toque de linguista” em redes sociais.
É difícil apostar em quantos realmente sabem do que estão falando.
Desde sempre, as teorias
dependem de gente competente para saírem do discurso. A diferença é que uma
teoria na área das exatas, por exemplo, depende do ser humano, mas as variáveis
são detectáveis, são passíveis de erros e acertos, tentativa e erro. Tudo isso
sendo reportado instantaneamente para os quatro cantos do mundo. Imagine que só
o Brasil tem quase 2 milhões de docentes na educação básica. Imagine também que
eles estão espalhados por toda a extensão territorial, com suas concepções,
leituras, possibilidades. Cada um deles encontra uma sala diferente. Daí as
teorias que estão sendo tão fortemente criticadas pela mídia brasileira, são as
que são apresentadas por algumas Universidades (só algumas) e aparecem para
serem empurradas por goela a baixo pelos materiais oferecidos pelo Estado, no
caso de São Paulo, ou por materiais didáticos sendo feitos em escala industrial
à luz dessas novas e tão controversas teorias.
A aula de Língua Portuguesa,
portanto, é um complicado campo de batalha ideológico em que muitas porções da
sociedade guerreiam. Uns com mais força e outros com menos, como em qualquer
guerra. O professor em sala tem então duas realidades distintas, dentre outras possíveis,
mas das quais pontuo: de um lado o
professor da escola particular que, na maior parte das vezes, é o que possui
uma melhor formação (ou seja, as melhores Universidades formam professores para
as instituições que melhor pagam, dentro da lei de oferta e procura
capitalista), chega em sala e tem de se cuidar, pois os pais acompanham com
tochas na mão cada nova notícia. O não ensinar gramática, ou o ensinar com um
discurso contemporâneo pode representar um ataque aos defensores do
gramatiques. Do outro lado está o professor da escola pública, formado na maior
parte das vezes em instituições menos reconhecidas, que quase nunca toma
contato intenso com essas teorias, e que, no entanto, não sofre tanta pressão
dos pais e escola. Alguns mais antenados
buscam mudanças, mas os alunos assistem ao desespero do docente de camarote,
sem muito se importarem, por motivos meramente culturais, além dos sociais
(vale lembrar que o termo “elite intelectual” pressupõe o ato de estudar e aprender
o que se ensina como elitizado, o que por muitas vezes é negado pelo aluno que,
para valorizar de onde fala, nega o que não lhe pertence). Citando Soares,
“(...) O aluno proveniente das classes dominadas nela (na escola) encontra
padrões culturais que não são os seus e que são apresentados como ‘certos’,
enquanto os seus próprios padrões são ou ignorados como inexistentes, ou
desprezados como ‘errados’” (SOARES, 1986, p. 15).
Em meio a essa batalha, o
professor deve se posicionar. E na busca por concepções e conceitos, não pode
nunca se esquecer do aluno. Deve saber o que ensinar e se adaptar as necessidades
desse aluno. É a partir da diversidade de textos apresentados, da apresentação
de textos que dialoguem, buscar as relações desses textos em diversos contextos
inseridos em uma linguagem. É necessário que o aluno conheça as teorias
linguísticas com tamanha amplidão, que consiga explicar tudo o que se faz
necessário na formação de um aluno das maneiras mais criativas e eficazes ao
seu alcance. Para que o aluno que está sendo inserido em uma linguagem nova
entenda esse processo. E para aquele que já tem as ferramentas por utilizar a
tal variante culta, consiga enxergar o valor de outras variantes. Apresentar
não apenas regras pontuais, e sim as enormes possibilidades que a língua
proporciona. É um trajeto complicado, porém o professor precisa entender que
“(...) antes de ser um corretor de exercícios de escrita, o professor se
constitui na interlocução privilegiada de seus alunos. É apenas no momento em
que se dispõe a ler o que estes escrevem que estará em condições de contribuir
para a construção do conhecimento sobre a língua.” (BRITO, 1997) Mas há de se
salientar que esses textos não são só os escritos: há muito na fala desses alunos
que poderá ser valiosa ferramenta na tal construção desse conhecimento.
O professor de Língua Portuguesa
deve se posicionar na construção de um cidadão. Um cidadão que saiba quem ele
é, em que lugar social ele fala, qual a função que ele tem, seus limites, suas
possibilidades. E essas possibilidades se encontram nessas novas teorias
Linguísticas, espalhadas por todas. Mas dizer que o professor deve usar certas
teorias, em uma realidade que não existe certeza de que se ele está preparado
para aplica-las não é o caminho correto. Ou adotamos uma prova como a da OAB,
por exemplo, para ditar o que queremos do nosso professor, fazendo ações de
Marketing e Publicidade em favor das novas teorias, para fazer com que a
sociedade as entenda como nós, ou deixemos que o professor na sua solidão da
sala de aula tente fazer o melhor. Por que desde que o mundo pensa em educação
e teorias, sempre dependemos de boas pessoas para executar, muito mais do que
para pensar sobre.
Referências
AZEVEDO, Reinaldo. A
tropa de choque da “gramática diferenciada” pode botar o burro na sombra; não
me assusto com a gritaria dos jihadistas lingüísticos deste aiatolá.
Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/este-e-o-sacerdote-do-erro-e-ele-o-burgues-do-socialismo-na-lingua-portuguesa-e-ele-quem-faz-de-lula-uma-teoria-de-resistencia-linguistica/.
Acesso em: 05 de junho de 2012
BRITTO, L. P. L. de. A sombra do Caos: ensino de língua x
tradição gramatical. Campinas: ALB, 1997;
SOARES, M.B. Linguagem e escola: uma perspectiva social.
São Paulo. Ed. Ática, 1986.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAssunto complexo,né?
ResponderExcluirComo você disse,são tantos professores espalhados por um país tão grande e com cenários tão diversificados.
Nunca me dei bem com a gramática na escola,odiava português com suas classificações de frases que nunca entendi e também não sabia por que tinha que aprender.Mas me formei e tento me expressar com a palavra escrita da melhor forma que conseguir.Ás vezes a ideia é ser entendida,outras é justamente não me fazer entender.