quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Setembro

Travesseiro. Edredon. Parede branca, meio suja. Relógio. 10:35. Calendário. Último dia do mês. Pé descalço. Chão Sujo. Passos e passo. A porta. Rabiscos. Piso desenhado. Mãos na parede. Marcas no chão. Meu pé preto. Meu corpo. Leve. Levado fui. Cozinha. "Bom dia", diz o rapaz. Sala. Televisão. Luz do Sol na janela. Sofá duro. Sento-me. Não penso. Ando. Ando mais. Casa. Longe. Rua. Carros. Sensações. Corro. Volto. Leio. Aprendo. Apreensivo, sento. Música. Ouço. Toco. Canto. Toco cada nota. Sinto cada canto. Emana-se cada sensação. As frases aumentam. Os pensamentos se tornam mais complexos. Os sons se tornam mais compostos. As luzes se tornam mais pomposas. A sala já não é mais a mesma. Tem gente nela e gente sorrindo. Tem gente na cozinha lavando louça. Tem gente no quarto rindo de piadas. Tem gente na edícula tocando pandeiro e batucando panela. Tem gente nos corredores com uma cerveja na mão cantando alto. Tem gente fazendo do papel higiênico serpentina. Tem gente acordando a gente com gritos de felicidade. Tem gente olhando no meu olho na garagem, ou na rua sentado no chão, ou com um monte de gente passando, ou dentro do carro parado, dizendo que gosta de mim. Tem gente tomando cerveja ao som do violão em roda. Tem gente fugindo da aula pra ficar dando risada. Tem gente diferente em todo canto fazendo coisa de gente. E eu me lembrando. Dos meus dias do mês. Do mês de setembro. Do mês inesquecível. O mês de festa. De alegria. Sensações. Um frio na barriga. Uma cadeira. Uma lágrima. Computador. Teclado. Ideias. Dedos. Só.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dias incríveis

O rumo incerto da vida é causado, muitas vezes
Por atitudes incertas da gente
As atitudes estranhas da gente são causadas, em alguns casos
Por acaso e pra nos ensinar alguma coisa
Há casos em que o destino se prova
E se prova um gosto meio amargo, gosto estranho
Tudo para elevar a vida ao status merecido
De confusa, tempetuosa, desesperadora e divertida
"Afinal o final é a soma de outras orações"
(Parafraseando a mim mesmo)
Subordinadas, religiosas, emocionadas
Frase a frase, ponto a ponto
Nos leva sem nem perceber a um outro ponto
Depois nos arremessa pra qualquer canto

E você que achou que de novo o destino
(Lembra o destino?)
Tinha te levado com erros pra acertos
Te faz perceber que seus acertos estão sendo erros
(E isso não é exatamente uma certeza)
Daí tudo isso te dá muito medo
Daí tudo isso te deixa maluco
Daí você acaba errando de novo
E quando vê já não sabe mas nem onde foi
Que começou o erro que te fez acertar
E onde você fez aquela merda que achou que era acertar
O que importa no final das contas
É acordar no dia seguinte e fazer coisas
E esperar outro dia e fazer outras coisas
E encontrar algumas coisas que te façam bem
Mas principalmente, a coisa mais importante
É fazer com que as coisas fiquem no mínimo boas...
(Felicidade é exagero)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sem ritmo, rima e fim

Havia tanta coisa que eu precisava lembrar...

Era o aniversário de dois anos da minha irmã, era o presente dela
Era a corda para amarrar a cadela, era a corda do balanço
Era aparar a grama, o ganso e era desenhar umas coisas
E de vez em quando, ainda me lembrar do horário do desenho animado

Era a redação da escola e jogar bola
Era fazer fogueira (pra ver se cola) e beijar na boca
Era comer bobagem e levar uma bronca ou outra
E de vez em quando, me preocupar em passar pra uma próxima fase de um jogo complicado

Era uma nova lição e era uma prova
Era uma ova e uma briga com a professora
Era meio rebeldia, era lutar contra a fonte repressora
E de vez em quando, uma letra de protesto a favor de um qualquer coitado

Era o conhecimento da sorte, era também a morte
Era ter que provar que era forte e era o trabalho
Era um chocalho velho e uma banda e era um sonho distante de entrar na faculdade
E de vez em quando fazer sexo pra aprender, sem estar preocupado

E era o trabalho, era um pouco de reconhecimento
E era o conhecimento, era estar na faculdade
Era largar um curso (tudo bem nessa idade), e era ir em festas e mais festas
E de vez em quando, uma briga com a namorada e ficar sofrendo sozinho, calado

E era morar sozinho e era ficar entre amigos
Era a falta de rima, era o cansaço
Era a correria, era um pedaço
E de vez em quando escrever um bocado

Há tanta coisa que eu preciso fazer...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Elite Intelectual

Mãe me escute, tenho boas novas. Sou agora a elite intelectual desse Brasil, viu? Sou menino sabido, estudioso. Tão dizendo até que não é que o povo que é burro não. Eu que sou a minoria inteligente desse povão. Sou agora mãe, acredite, classe média! Não importa se minha vida é mais dura do que ao outro inteligente do meu lado, coitado, já nasceu sendo a elite. Mas mãe, preste atenção. Sou agora responsável por esse país, pela linguagem padrão. O padrão tem que vir de cima, sabe? A gente até leva em conta o que pobre diz. Mas mãe. Lembra do meu sonho de tá aqui, lembra? Lembra de como eu queria ser inteligente, o quão contente fiquei, e veja agora, mãe, sou a elite inteligente no meio de tanta besta.
Mãe, não mal me entenda, interprete com carinho, as regras são feitas lá de cima. Se hoje me botaram pra ser a elite, não foi minha decisão. Falo errado, mas tá certo, faço disso expressão.
Mãe, sei que é inteligente, mas seu erro gramatical é chamado marca social. Tá mãe. Eu sei. Também já disse isso, mas duvidam. Dizem que é o dinheiro que diz se você não sabe falar. Mas veja minha mãe, agora que eu me escondo entre livros e pseudointeligentes, sou a elite pensante do país. Minha mãe, sei que fala direito, que estudou, mas você é pobre, me perdoe. Acho que sobre isso ainda vou estudar. Acontece que desde o dia que ultrapassei os portões daqui, eu sou igual, construo a verdade do povo, pesquiso como é bonitinho pobre falando. Mas tá tudo bem, tem um motivo: Pobre não estuda, e se sente a vontade de falar errado, de maneira não padrão. Não é só preguiça, sabe? É falta de oportunidade. Aqui não. Aqui eu tenho todas do mundo! Sou a elite cultural desse país.
Preconceito linguístico, não tenho não. Aprendi que não pode. O social tudo bem, é detecção. É empírico, mãe, acredite no que falo, sou a elite científica do país. Não diz que não.
Inclusive disse que a gente, povo nobre, irá encontrar por aí gente que não fala bem. De colégio ralé, gente que não faz balé, judo, karatê, tudo isso que num fiz, tudo isso. E disseram, adivinhe: que vou me surpreender. E acham até que nem vou entender! Ah mãe, viu? Eles não sabem de onde vim, mãe. Eles não sabem quem eu sou. Agora levanto a cabeça. Me olham com respeito. Sou a elite posuda, mãe, leitores profissionais, discutindo com os outros inteligentes do meu lado. Sou a elite, lembra? Que da as regras do jogo, do bom, do certo. Sou um número bom pro país. Ah mãe... como é bom ser chamado de intelectual. Agora sou eu, mãe, (e veja que coisa boa) que dita quem é ou não burro nesse país!

domingo, 6 de setembro de 2009

Sobre o giro da Terra

Se consegue modelar as palavras
Se as pega e as transforma em uma obra
Se cria com elas tantas formas
As utiliza inclusive (de forma brilhante) em uma retórica morna
Se consegue manipular tal processo
Escreva-as nunca em excesso
Pois escrever pode trazer o sucesso, o acesso
Ou o desespero aos que talvez precisacem, uso perverso
Concorde que há muita coisa, e espero que entenda o que digo
Que não é necessário falar, e tal raciocínio sigo
Pra poder tentar esconder o que, na verdade, minto

Pare de dizer tantas coisas, pois palavras são só isso
Morfeminhas medíocres, se escritos
Fonemas sonoros, gritados, escrotos, se ditos
Usa com calma a palavra, mas sem pena
Escreve no que acredita, convence seu "eu-lírico"
Não deixa ele fazer o que quiser e se vier
A ocorrer tal fato, não se esqueça
Não a dia que anoiteça sem motivo
Não a dia que sorria na neblina espessa.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Plano

Repassaram mentalmente.
Era simples.
Era rápido.
Não havia formas para errar.
Era entrar, roubar, torturar, foder, matar... e depois de 4 anos, vazar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Meta

Não escrevo para os críticos de literatura
E nem aos resenhistas frutrados de internet
Nem escrevo aos alunos universitários ultra críticos
E nem aos oficineiros que ensinam a literatura moderna
E nem aos que seguem a métrica
Aos que posam de inteligentes, cultos
Muito menos a elite pensante, proprietária dos meios
Nem escrevo para o não escolarizado tapado
Nem para o analfabeto funcional
Nem ao que se utiliza da liguagem padrão
E nem ao raso caipira carpintador
Não me preocupo aqui em escrever sendo político
Nem diplomático, com eufemismos
E principalmente, não escrevo para os meus familiares
Amigos que acham tudo lindo, namoradas
Não escrevo pra ficar rico, comprar mansões, carros
Nem escrevo para parecer mais inteligente
Muito menos para usar de artifício em conquistas
Não escrevo pra mim
Não escrevo pra ninguém
Eu sento na cadeira, pego meu caderno (ou teclado)
Escrevo o que me der na telha por motivo nenhum
O depois é depois...
Que cada um faça do texto o que lhe convém.