Era uma vez, um rato. Ele se alimentava de lixo. Ele vivia no lixo. Um dia, uma criança cega pegou o tal rato para cuidar dele. Tratou-o como Hamster, deu ração de Hamster. Deu o nome de Bolinha. Deu uma casinha pra ele. Deu tudo que ele podia querer. A mãe do menino viu o rato. Ficou brava, mas não contou a verdade. O menino sonhava com a imagem de um lindo Hamster. O rato era feio. Mais feio que todos os outros. O rato era podre. Mas o menino cego queria fazer do ratinho o mais feliz. Um dia a noite veio. O rato fugiu. O menino chorou. O rato voltou. E trouxe com ele milhares de ratos. A mãe desesperada, espantou os ratos. Eles levaram tudo. A mãe ficou firme. Outras coisas ganhariam.
O menino cego aprendeu.
Era outra vez um gato. Ele cantava nos muros. Ele vivia nos latões de lixo, assim como o rato. Ele se alimentava de ratos. O menino pegou o gato pra cuidar da casa. Imaginou um lindo gato, um persa. Era um velho e doente gato. O gato comia ratos. Defendia a casa. Tinha tudo do bom e do melhor. A mãe ficou assustada com o "Monstrogato", mas não disse nada. Um dia o gato foi embora. Ao voltar, tinha milhares de amigos. O menino tinha aprendido. Tinham milhares de cachorros esperando na porta da casa. Cachoros e gatos invadiram juntos a casa do menino. Até os ratinhos aproveitaram a situação. A casa do menino estava mais vazia do que nunca.
O menino cego aprendeu de novo.
Era a vez da vez. Às vezes o menino chorava. Cego, tateava na escuridão em que vivia uma solução. Não teria mais animais. Arrumou um amigo cego. Ambos brincavam felizes. Ambos se divertiam muito. Eles faziam tudo juntos. Até que um dia na escola, conheceram uma linda menina. Meu Deus, e como era linda! Até a mãe do menino se impressionou. O menino cego era bonito. Seu amigo não. A menina gostou do menino. De seu amigo também. A menina ficou com o amigo. Que sorrindo tomou do menino o que foi seu amor. O seu único. O menino chorou. Os ratos levaram ainda mais, os cachorros uivavam feito lobos, e os gatos comiam as borboletas. Os passarinhos jogavam fezes na casa do menino. A mãe olhava. O menino imaginava. A mãe descrevia a situação. O menino sorriu. Só devia ser uma brincadeira do mundo. Não era.
O menino cego cansou de aprender.
Era vez do menino. Ele se cansou. Mudou de casa, mudou de vida. Enchergava a alma que ele tinha. Era bom, o menino. Era o menino, o bom. Era, e era. Sem espera, foi viver longe. De si mesmo. Perto da sua escuridão. De suas vontades, De suas inverdades. De sua solidão. Perto de si, fora de órbita, longe da sujeira do mundo real.
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