segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Redundância

Medo. Uma das minhas temáticas preferidas. Prefiro outras, de fato, mas não há porque fugir. Ou há? Fugir do medo não é ser corajoso, né? Ele fica lá, esperando a oportunidade de aparecer. De tudo se foge. Dele não. Ele é traiçoeiro. Fica na espera de alguma situação repetida, só pra poder florescer. Ah! se todo sentimento humano tivesse tamanha destreza. Como amaríamos? Como seríamos felizes... 
No alto de uma longa montanha, sem cordas e sem segurança, você pode se sentir calmo e seguro, se assim o medo quiser. Na solidão de uma casa, te fazer imaginar as coisas mais terríveis. Não dá pra parar? 
Derreto o cérebro sem precisar pensar muito. É a única fuga. Mas já fugiu de alguém ou de algo? Chega hora que cansa. E a gente já anda tão cansado, né? Se ele te encontra cansado é prato cheio. É como se fossemos ladrões sedentários contra policiais atléticos. Nós nos cansamos e deitamos. E ele chega intacto. Que fôlego tem o medo!
E daí que sentado, em pânico, esvazia o cérebro. No fundo ele te treina. E faz isso porque o mundo é isso aí mesmo. Ora se ama, ora se sofre, tem gente doente, tem probleminha todo dia, problemão de vez em quando, tem perda, tem ganhos, tem sofrimento, tem incerteza, tem dúvida, tem dor de cabeça, tem doença imaginária, tem sorriso, tem perigo, tem falta de ar, tem picos de encantamento. 
E é tipo tudo de uma vez. Me parece que há mesmo algo maior regendo tudo isso. É como se existisse um maestro e o medo fosse o tutor. É como se ele te preparasse para um concerto especial, do dia-a-dia. Creio que Machado de Assis, quando compara a vida à uma ópera foi um dos que mais se aproximou do que eu considero como uma metáfora perfeita. Mas saber se você é o músico ou o instrumento é questão de ponto de vista. Talvez funcionemos ora de um jeito, ora de outro. E há pausas. E o medo vem, te pega na mão e judia. Te faz ver onde errou, te faz reanalisar-se e buscar saída. Respiração 7 por 14, com calma. Desabafa. Transmuta o pensamento, o materialize em palavra. Descarregue que, ao estar na folha de papel, as coisas fazem mais sentido. Depois mostre para seus amigos. É bom.
O medo não é bom nem mal. Não é mocinho nem vilão. Ele é vital. 
Remédio amargo que vai te preparando. As vezes te tira a calma. Mas quero acreditar que é por um bem maior. A busca da paz interior. A calma que a gente tanto precisa. 
É um jeito de te fazer lembrar que de baixo de todas as camadas sociais que te cobrem, existe um frágil e lindo ser humano. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sem título (acredita?)

Existe um lugar entre a zona de conforto e a zona. Esse lugar é vazio e frustrante. É quando nada te anima muito pra te tirar do sofá, ao mesmo tempo em que nada te garante a estabilidade de se poder ficar deitado. Nesse lugar o corpo dói, há desespero de se ter chegado a algum lugar e a certa loucura em não se saber se chegará a lugar algum. Nesse lugar, medianidade e mediocridade e hipocrisia e preguiça, dividem espaço com espasmos de rebeldia e raça. É como se o corpo quisesse se entregar e a mente quisesse se libertar, precisasse mais de cachaça. É um vagar sozinho, sem muitas esperanças e medos. Parece que tudo vai dar certo, mas parece que dar certo não é o bastante. Nesse lugar você não se preocupa se está feliz, se está comendo direito, se está dormindo bem ou com o quanto está bebendo. Nesse lugar você se fere ao fazer coisas que nunca imaginou que faria ou que poderia fazer. Se fere traindo ideais e ideias, traindo quem você pensa em ser ou pensava em parecer. Você segue meio desligado, e é perigoso, te alertam. É uma pré-depressão, uma mea-culpa intrínseca, um deixar-se sozinho enquanto rodeado, ou o contrário.
Nesse lugar, acredite, você pode repousar tranquilamente para acumular energias. A energia da preguiça, para depois destruí-la. A energia da dor, para curá-la. Palmas ao meu positivismo corajoso que da ar de medroso ao que escrevo. Depois me embelezo com meu melhor sorriso e minha melhor melodia, e o mundo aplaudirá a felicidade inesgotável daquele menino. ¡Qué Va! 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Leads

Sim, claro que eu me lembro de sorrir as vezes. 

É divertido, garanto. É que a gente fica indo e indo. Queria ter mais tempo, pra não ter que sempre ir. Parar e deitar ou correr sem lugar, uns dias, só pra variar. Não ter que ficar olhando a estrada e a balança. Seus buracos, suas pedras e meus e-mails. E se tem lombadas, se é mão dupla ou se o sapato combina com o Chapéu. Se a velocidade está adequada e se estou infartando. Queria poder, lentamente, olhar pela janela e ver um astronauta na nuvem ou um buraco de cobra ou que fosse uma formiga carregando pedras, tanto faz. Por que não? No fim dessa estrada cheia de paradas e parábolas, pirambolas e prostitutas, está, acredite, o fim. 
Para que somos viciados em Prosperar? Mas isso pode esperar? Pode? Tenho inveja daqueles que abandonam aquilo que lhes dá segurança. Talvez eles estejam "piores", ganhem menos dinheiro. Mas eles vão e torram toda essa grana, toda essa gana. E eu ali, mentindo e criando inimigos, e brigando e ouvindo intrigas, e lutando contra monstros imunes, gente poderosa e burra. Nada mais poderoso que poder e burrice. É mais perigoso que poder e inteligência. É mais perigoso que poder e qualquer coisa. No fim a gente fica fingindo e todo mundo finge e é assim. Fico me mordendo pra ver o mundo, mas a dor do peso da responsabilidade cada vez maior imposta por ninguém além de mim, nada além das minhas escolhas, me trava. E daí que vou me doutrinando para ser mais paciente, sendo doutrinado para ser menos ansioso. 

Quando foi que meu frio na barriga virou uma Gastrite? Quando que aquela vontade de fazer tudo de uma vez me deu vertigem e falta de ar? 

Ar, penoso ar. Dificultado, pesado. Aperta o peito burro que sustenta essa máquina frágil. Ah, por que a gente não pensa e ponto? Por que sente? Tem dó! Sem som, o ruído é detectável por exames, oras. Tem estado bem e buscado o mal. Por que destruir-se? Não gosta da vida? Não entendeu o que ela representa? Pode ficar triste de vez em quando, mas daí ferir-se? Como ainda faz isso? Não percebeu que ao enfraquecer-se torna-se fraco? Não notou em nenhum minuto o quanto isso é burro? Sofre um monte, se irrita, faz parte. Mas é só. é A sua mania de ser novelístico. Busca Drama na vida e quer ser realístico no que cria. Nisso tudo se esquece que você não é, acredite, o centro do mundo. Não está em um palco sendo aplaudido. Nem estará quando estiver. "Divirta-me e vá embora. Pro inferno você e essas bobagens". 

Quando foi que aquela vontade boa de chegar aquele dia, aquela insônia boa onde de noite se pisca e acorda, pois sabe que amanhã é dia de Zoológico, virou uma pílula dentro de uma caixa controlada e sua faixa preta? 
Eu não sei. E eu sei que não sei. Daí que vem aquela vontade de ir se tornando cada dia mais jovem. Mas além de impossível, se corre o risco de ir se tornando ridículo. "Você não será bonito por muito mais tempo". 

E precisamos nos preocupar com isso? Com que se preocupar então? Pra que se pré com qualquer coisa se já ando tão ocupado?

E me policio e me policiam. E que droga! Que droga? E eu tentando me lembrar de sorrir, mesmo sem ser de propósito ou com propósito. Eu te garanto, mesmo sem ter muita certeza, que isso sempre pode, quando dá, fazer bem pra alguém. Não que isso importe tanto, ou que algo precise ser importante. Mas logo mais é pegar o canudo, jogar ele pro alto e ver se ele te puxa em direção à Lua. Há dias que a noite sorri pra mim e eu não sorrio de volta pra noite. 

E isso deve ser um problema. Afinal, quando a gente é adulto, tudo meio que é um problema, né?

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Enquanto tenta arrumar desculpas auto-destrutivas, luta incessante para ser alguém. Escolhe aí. Tá na tua mão ir em frente ou desistir de se enfrentar. É bom vitória? Gostou tanto que parou de andar. Daí que dava desculpas tantas que, descuidado e despreocupado que era, já estava meio atrofiado. Começa assim: hoje não, talvez amanhã. Mas aqui tá tão bom. Mas precisa mesmo? Com sorte, a gente vai pra frente. Mas pra isso, aquele movimento de por a perna pra frente e depois a outra, aquele mesmo que a gente faz sem nem pensar, é necessário, meu caro.São as escolhas? É assim. Vive aí.  Já conhece o mundo, já sabe das dores. Dói porra, tudo dói um pouco. Dói e passa. Dói e consome, daí que você vai rir logo, logo. Nada foi fácil, não ia ser agora. Não ia mesmo. Mas vai ser mais uma fase e amanhã ou depois ou logo mais vai tá tudo bem. Dói e muito. Mas a gente já sabe da dor. A felicidade vem de novo. Você vai ver. Bate na porta e a gente nem repara. Quando vê tá lá, com aquele sorriso cínico como se nunca tivesse saído. Ela é assim, sempre foi. Daí dizer "Ah, que sempre foi assim". Sempre foi e nunca mais será. E se for, é pra crescer, porra. Crescer é tarefa que ultrapassa essa caralhada cronológica. Crescer é crescer, você sabe como é. A vida vai te dar porrada porque ela tem que dar. Só coisa boa? Onde lá se viu? Que venha agora e que a fase seja boa. Nam myoho rengue kyo.

sábado, 10 de agosto de 2013

No inverso

E se toda força fosse farsa?
E se toda a verdade fosse inútil?
E se toda canção dissonante?
Se tudo isso fosse carma?

E se não fosse necessária a calma?
E se não tivéssemos opções?
E se não tivéssemos alma?
Se na vida não fossem importantes orações?

E se não houvesse rima pobre?
E se toda palavra fosse rica?
E se falar bonito fosse brega?
Se falar sobre filosofia não fosse piega?

E se arrancássemos nossas máscaras?
E se Carnaval fosse a vida toda?
E se dinheiro não fosse tudo?
Se o jogo da vida não fosse desse mundo?

E se o dólar subisse de novo?
E se os empregos sumissem outra vez?
E se o governo roubasse ainda mais?
Se ninguém se importasse com vocês?

E se o Papa usasse drogas?
E se a bondade usasse cores escuras?
E se o Diabo fosse Buda?
Se as religiões fossem as ruas?

E se o fim fosse o fim mesmo?
E se fechar os olhos fosse eterno?
E se aquele for o último terno?
Se acabar fosse só aquele instante?

E se as coisas não fossem misteriosas?
E se tivéssemos todas as respostas?
E se tivéssemos todas as perguntas?
Se a vida de ninguém fosse torta?

E se não fosse necessário trancar a porta?
E se embaixo do cobertor fosse lugar seguro?
E se fechar os olhos nos tornasse invisíveis?
Se as crianças estivessem todas certas?

E se a luz de um dia te mostrasse as janelas abertas?
E se a noite iluminasse?
E se a pedra fosse poesia?
Se a pétala quebrasse rochas?

E se o fogo só fosse bonito?
E se água só fizesse bem?
E se pneu molhado não trouxesse mosquito?
Se ninguém fosse maltratado por ninguém?

E se gente pobre não fosse doente?
E se gay não fosse doente?
E se quem fala diferente não fosse doente?
Se a doença não fosse o medo burguês?

E se a Tv fosse confiável?
E se os blogs fossem honestos?
E se as pessoas todas fossem imparciais?
Se falar mentira fosse igual falar verdade?

E se virtude fosse honestidade?
E se tudo isso não fosse por interesse?
E se ninguém mais fosse tão burro?
Se a burrice fosse raridade de uns poucos?

E se toda força fosse farsa.
Eu saberia escrever em rima rica.
Eu me esforçaria em ser poeta.
Tentaria arrancar mais poesia do dia.

Mas aí vem as dúvidas.
E deixam o trabalho divertido.
E eu pontuo cada verso.
Procuro na interrogação um amigo.

E no ponto final um bandido.
E a esperança no inverso.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Primavera Brasileira

O dia de ontem acabou. 17 de junho de 2013. E como em toda a Primavera, "uma flor nasceu" nas ruas. 
Há esperança.
O que se conseguiu? Mudar o Brasil?
Mostramos que a gente é que nem bicho parado do lado do osso. Não mexe no meu. Nem no do meu irmão. Quero ir pra rua lutar pelos R$ 0,20, mesmo que não sejam significantes. É o preço do justo, da justiça.
Pouco importa quanto se gasta no tênis que se usa, como pobres babacas andaram dizendo por aí.
Aliás, pouco importa os pobres babacas.
O mundo olhou, aplaudiu. E as pessoas cantaram o Hino. 
Velhinhas contavam os motivos de estarem lá, fazerem parte disso.
A luta não acabou.
Mas aquele papo de "O sonho acabou" pro Brasil não tem mais sentido.
A gente acordou. 
Sacudindo devagar, que nem num samba antigo.
Cuidado: 

Sinto cheiro de espírito jovem.

sábado, 25 de maio de 2013

Neblina

Enquanto estiverem molhados, marejados  esses olhos, há algo vivo que espera aí dentro. Essa vontade que te levanta numa madrugada fria, ela não pode ser apenas necessidade: ter que lavar o rosto numa pia suja ou numa pia de ouro, te avisam a mesma coisa. Há de se repensar enquanto ser. Motivo pra levantar, motivo. Viver é tarefa diária de autoconvencimento. Viver é tarefa sem sentido, de buscar recompensas. Um reforço positivo. Um pouco de ração pro espírito a cada choque. Daí que a gente vai sendo levado pela noção de qualquer coisa, e depois é cada um por si tendo pesadelo e imaginando a vida como algo significativo. Daí que a gente vive é pra acumular. Sozinho. Você e mais ninguém. Aproprio-me do que não pertence a ninguém, só pra dizer que tenho mais do que somente a mim. Bato, apanho. Viver é tarefa doída. Doida. Dormir 3 horas por dia, motivado pelo que? Ler um bom livro? Comer em um Restaurante mais caro? E o arroz? E a carne moída? E quando você, criança, chorava por que você queria um Yakult? Hoje ele tá ali, na altura das suas mãos. Seu dinheiro compra cada vez mais coisa. O que te dói? Por que você tem medo? Agora sozinho, você ensina. Daí que você vai ganhando gosto pela coisa, não é? Deixa esse brilho se manter, essa vivacidade, que a Neblina espessa que cobre o vale da janela do ônibus, você que veio da cidade grande, vai te molhar os olhos. Você entende uma nova língua? Que mundo é esse que te faz querer acordar? O que ele tem de diferente de outros Mundos? Eu era uma criança preocupada com o mundo. Quando eu descobri que o dinheiro ia perder zeros, chorei. No fundo sempre tive medo do Real. Daí que a gente saiu com o coração partido, com gente te contando que o mundo era grande. Você, patético, acreditou. E agora, não consegue mais parar. Aquele diploma, aquela viagem. No fundo, molhar o rosto e olhar pro espelho não pode ser deixado de lado, como lição automatizada, stand by cerebral. Eu sempre me olho no espelho enxergando cada camada, até desaparecer. Vou olhando mais fundo e mais fundo pra me ver. Aquele menino imaginativo que foi indo pro mundo, hoje chora por poder ensinar. Ele encontrou seu motivo. Ele acorda com dificuldade, como todo mundo que quer continuar na cama. Daí que ele vai despertando e 5 minutos depois ele já pensou em umas 20 coisas que o deixam feliz. A gente mente tanto pra gente que chega a se convencer! Eu, o menino, você, levantamos e colocamos nossa máscara mais bonita, só pra deixar o teatro do dia mais gracioso. Em cena, com os textos decorados, vamos encenando. E aí, quando a luz apaga, é triste. Eu não me lembro da última vez que eu fiz uma coisa própria da minha personalidade. Mas eu posso ensinar alguém. Se eu te contar como o mundo é grande, você jura que olha pela janela pra conhecê-lo? Promete pra mim que põe a cara pra fora, só pra sentir essa brisa? Não deixa essas bobagens te deixarem pra baixo? É pra ter lógica mesmo não. Deixa que o matemático acredite nisso. Você pode saber a verdade. Ela é única e ninguém a conhece e é aí que está a beleza. Mas você só a merece olhando pra fora, levando o cachorro pra passear. Aquele menino viu e se assustou. Mãe, me espera? Quando eu voltar eu vou ser um homem. Você espera? Eu espero. Enquanto meus olhos brilhosos enxergarem, mesmo que embaçada, essa luz por dentre a neblina da alma. 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Que se quis ser crônica

Eu tenho quatro ou cinco coisas pra dizer agora. Vou falando lentamente e se eu passar do ponto, me avise, me aponte. Queria ter ânimo e vontade para falar de política como falam os cronistas. Ser crítico,  pessimista. Eu não: sempre ao contrário do discurso comum, anunciava aos quatro ventos que nosso país seria grandioso, uma economia forte. Acertei. Mas daí que continuamos sendo feitos de palhaços. É como se aquela empresa que a gente trabalha nos motivasse mostrando o quanto lucrou ou anda lucrando. A gente só queria mais comida no prato. Queria sobremesa. 
Queria falar desse revoltante momento, mas seria só mais um. Dia desses a UNICEF mandou avisar que "likes don't save lives". Meus textos também não, nem os de ninguém. Concordo com a UNICEF, concordo com quem reclama da política, concordo com quem se expõe no conforto da sua casa: dos que apontam o dedo na sua cara aos que não fazem ao menos isso, somos todos alguém querendo algo para nos tornamos maiores. Ponto. A UNICEF mandou bem e encontrou uma frase de efeito para conseguir mais doações. Tomará que lá "Money save lives". Aqui não acreditaria tanto não.
Daí que a gente vai envelhecendo e o tom vai mudando: ainda sou jovem, eu sei. Ainda vou mudar muito, ao que parece. Mas no desconforto do que vivo hoje, assumo que o discurso não se torna mais alienado, decepcionado. Ele só ganha em possibilidade de realização. Foge do âmbito do sonho, pairando pelos campos do possível. Ou seja, se você não tem coragem de pegar em armas, pegue a pena. Pegue o mouse. Pegue a criança. Pegue o vizinho. E faça alguém ter dor de cabeça com tanta minhoca que você coloca lá dentro. Sacuda esses pensamentos e os torne tão densos, que pensar será tarefa dolorida como deve ser. Confunda-os. Trame. Quem sabe assim, todo mundo com a cabeça bagunçada, a gente não consiga mudar as próximas gerações. É menos difícil que pegar em armas e mais possível que puros idealismos imediatistas, né? Mudar as próximas gerações, esse é um sonho mais possível.
Dessa não há esperança. Estava vendo, dia desses, a entrevista do Geraldo Vandré. Ele não dizia nada de novo. Mas era triste com essa situação (essa que a gente tá vivendo). A gente batendo a cabeça esperando aplausos, enquanto alguém que paga alguém, te apresenta esse alguém e lá está você, aplaudindo de pé. Pois, a tristeza dele, que se escondeu durante muito tempo, é a dos que batem a cabeça. 
Já disse que os médicos deveriam receitar novas dietas, que incluíssem mais música, menos produtos artificiais. Mais arte e menos transgênicos. Mais poesia e menos antidepressivos. Mais dor de cabeça e menos Novalgina. 
A gente deveria fazer manifestações pela arte. Deveria, aos poucos, ir fazendo a nossa parte. Mas o nosso umbigo... ele é tão grande e o mundo tão insignificante. 
Queria saber usar ponto e vírgula. Queria que a gente saísse da ignorância, empunhássemos armas (as que tivéssemos) e saíssemos pelas ruas em busca de justiça. E que as pessoas fossem juntas, de mãos dadas, pelas ruas e pelas avenidas e pelas cidades. Que não fossem apenas meia dúzia com outros se rindo: queria que a empregada doméstica, o pintor, o funkeiro, o ceo, o atendente, a telefonista, a dona de casa, o gerente, o caseiro, o vereador, o padre, o buda, o carpinteiro, todos soubessem por que estariam andando. Queria que a motivação não fosse a revolta e nem a justiça: fosse a melhora. Uma caminhada que aos poucos iria ganhando força e ligaria cidades e estados. Que esvaziassem os edifícios, que pisoteassem o barro os sapatos caros e os pés descalços, lado a lado. E ao chegar em Brasília, envergonhados, viessem ministros e deputados e a gente toda dessem as mãos, de bochechas vermelhas sem darem explicações ou se defenderem. Daí juntos, no abraçaríamos, pediríamos desculpas e iríamos para nossas casas, em caminhadas que demorariam meses. Mas nada importaria: com as almas lavadas, recomeçaríamos fazendo tudo direito. Com cada um exercendo o papel que deveria sempre ter exercido. Daí que os ricos continuariam ricos, os pobres continuariam pobres, mas a gente não teria mais que ser obrigado a aturar um montão de coisas. Pensar, daí, ia ser coisa boa. A gente ia olhar pro lado e ver outra pessoa e ia ficar com vergonha de pisar nela. Com o tempo, a gente ia crescendo e o país virando um exemplo. 
Mas como disse, não sei usar ponto e vírgula. Não sei escrever textos sólidos, crônicas verdadeiras. No fim, sou ainda jovem demais pra perder a esperança. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Estrada

Veja bem. Você cansa seu cérebro. Seu corpo. A festa é vazia. A festa esvazia. Daí que corro, longe. Me vou como que tropicando em cada sílaba pensada. Cada ideia é dolorida como um enforcamento. Por que nesse momento? Atordoado e zonzo só enxergo um relógio que, em luzes vermelhas, me mostra que já é tarde. Enquanto silhuetas se movimentam pela janela, todo mundo dorme. Por que eu não durmo? Quero dormir também. E emagrecer. E ser feliz. De tão feliz, quero que a vida se torne ridícula. Aquele marasmo e que dure, pelo menos, 1 mês. Não quero uma comemoração. A Lua que festeje. Eu quero fazer isso ao som de uma boa música, sem boas companhias: pouco me importará o Senado, Deputados enrustidos, as Igrejas, a Moral, minhas Dívidas, minhas Dúvidas. Queria mesmo que o relógio parasse de piscar. Gostaria de enxergar mais que silhuetas, exagerar menos. Luzes. Mesmo que longe, elas sempre estão em algum lugar. E pra onde eu vou mesmo? Pro Lar? É por ali? Aí, temos uma contradição. Vejo mais que silhuetas. Já abro a boca de sono, enquanto me esqueço que o rádio queimou, que a nota desceu, que todo mundo atrasou, que eu estava correndo até minutos atrás. O corpo vai calmamente amolecendo. Bocejo. Me acompanha nesse bocejo? E as pessoas em volta nem imaginam que estou ouvindo música em hebraico, que não estou entendendo uma palavra, quem sou. Elas não pensam se tenho boas ideias. Umas até são curiosas em perguntar, mas morrem de vergonha. É a vida, ela é divertida. Encaro a vida com paixão. Ela merece respeito. Eu dou esse devido respeito. Mas preciso emagrecer, consertar o rádio e aprender inglês. Ah, meu nome. Tem meu nome. Algumas dívidas. Queria que elas caducassem. Será que as dúvidas caducam? O piano está afinado, mas eu não ligo, pois sei que você dificilmente chegará até aqui. Mas acho que ainda te amo. Daí que a gente ficou tão bravo com a notícia daquele rapaz daquela comissão, que chegamos a pensar em... Lembra? Diz que lembra... Essas pequenices são tão importantes pra mim. Como cheguei nisso? No assunto. O ponto é que o sono passou do bocejo. O olho já está embassando. Espero que, quando eu acordar, as pessoas continuem me olhado. Que não haja ninguém ao seu lado. Mas que muita gente esteja por perto. Não sei como cheguei nisso. Nesse nosso nisso. Veja bem. Não deixe de ser. Não deixo se estar aqui. E o resto? É o que a gente escolher. E a viagem, essa que é também a vida e que dela faz parte, continua hoje e sempre. Te espero na estrada, no meio caminho. Entre lá e aqui, seu mundo e o meu.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Domingo

Entre as parede daquela casa, tinham tantas cores, um mural-mosaico. Pirambola de gigantes deteriorando. Fuga. Na mesmice, colore a ficção. Sou personagem criado por mim. Não existem fatos se alguém os descreve. Discussão antiga essa. Pulo trechos, linhas, deconverso, busco razões para escrever, mas hoje é domingo, pede cachimbo. Anoto num canto as frases soltas que me querem dizer alguma coisa. Palavra sempre tem o que dizer. No fatídico dia em que a palavra deixar de se resignificar, nosso verbo não mais se conjugará na palpitação latente que se chama língua. As pessoas julgam dom juntar palavra com palavra. Não sei se estão certas. Aliás, sei. E não estão. Cada tijolo significa. Na construção de uma casa, quem os usa os resignifica. O tijolo da mansão e do barraco são bem parecidos, quando não iguais. Mas daí garantir que a estética arquitetônica provida de um cérebro consciente, mente artística e acadêmica, gente que estuda pra criar casas fabulosas, garante um lar, daí é confundir alhos com caralhos. Talvez o dom seja esse aspecto: o lar. As paredes quase caídas, donde aparece o tijolo mal revestido, o vermelhão que esconde o cimento que resseca e sai com o pé, piso torto, podem esconder uma grande família, pode ser o habitat de alguém especial. Na unidade da obra que busco, vou me resignificando pra ver se algo muda. Vou estagiando no mundo meio invisível, de propósito. Vou cativando um por um, pra tentar provar pras pessoas que eu tenho coração. Já pensou? O dia em que o amor voltar? Como estarei eu? De porta aberta, pois sempre cri. As janelas donde imagens passam rapidamente te provam que você está saindo de um lugar e indo para outro. Quero ver enxergar isso parado, na mesmice de um dia frio, num domingo mesmo, onde o que se repete é a ordem, os programas. Domingo é dia de macarronada e família? É dia de andar pra frente. É dia de dar cambalhota pra ver o mundo de outros ângulos.