A noite, sozinha. A menina que gostava de estrelas e cigarros. Cigarras e bebedeiras. A menina descontente e dada, sozinha, a menina. A menina que vende o corpo e amores. Numa sala sem móveis, muita gente, sozinha. Num canto, falada, sorrindo. Tinha seios pequenos de criança, mas não era. Falo de menina mulher, moça vivida. Vívida. Lívida. Sofrida desde o momento em que nasceu, por piras próprias. Descontente com a vida, a menina chora sozinha quando a dor aumenta. Sozinha. Pobrezinha. Em uma conversa rápida um homem a leva a um canto. Mal ele sabe. Ah... histórias. Para que contá-las? Uma conquista rápida faz bem a qualquer homem. Cara bonito, vida fácil. Uma conversa franca. "Você é a amiga do João?" que era o dono da festa. Homens ricos tem amigas influentes sexualmente. Se era, R$ 300,00 daria alguns minutos de prazer. E a menina, sozinha. Vai e volta com cara de nojo, amigo bonito e bruto, cara escroto.
Conversa franca. "Quem é você?" era outro que perguntava. A menina olhava para um olho claro e pensava. Mas não importa pensamento de puta, não importa. Moça com cara de rica, nascida a vinho e pão de ló, cachaça na mamadeira e gotas de um padrasto escroto. Puro clichê da vida. Mas meia hora e a festa ia dando lucro e a menina sem rugas, maquiagem impecável. Malhava para não ter que ficar em casa vendo nada. Tinha aula no dia seguinte. Pagava as contas de casa. Da sua casa linda, sem móveis. João, amigo franco que morava perto, fazia festas e convidava amigos ricos e amigas putas.
"Você já foi à igreja?". Seus olhos murcharam, perdeu o tesão. Igreja é pergunta que se faça a puta? Claro que foi. Foi ver se tinha público. E tinha! Oh, se tinha. Público cativo, contra castidade, pela perversão. Gosta dessas coisas, a menina. De boba não tem nada. "Sou evangélico e tenho medo de um castigo divino", diz o chato. Não aguentou cinco minutos e ficou no canto com cara de bobo, rezando por dentro, se sentindo um nojento escroto. Aquela merdinha nem era traição e a puta, a tal menina sozinha se ria por dentro, pensando em segredo das bobagens que passavam na cabeça do babaca. Não sabiam dividir aquela fodinha rápida, mas pensamento de puta não importa.
Vai embora, a menina, sozinha. Meteu mais que qualquer outra naquela noite. De sozinha não tem nada. Quase R$ 1,000,00 no bolso, pouco se fudendo para os que olham atravessado. Amanhã tem festa no shopping. Bêbada, trôpega, sai sorrindo. Vai seguir uma carreira eterna e dormir. Pobre menina sozinha. Indefesa. Coitada.
Sua mãe ora por ela, de algum lugar. O homem evangélico chora enquanto ora por ela, em algum lugar da cama do lado da esposa. O rapaz que nunca saberá quem é a moça ora por ela em algum canto, sente dó da puta. O boyzinho escroto espalha aos amigos como foi o fodão com a menina, depois volta e se sente nojento. A menina, sozinha, sorri.
Nunca fora a igreja. Mas pelas muitas orações de culpa que recebe, Deus com certeza olha por ela. Para a menina, sozinha.
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