domingo, 6 de janeiro de 2013

Domingo

Entre as parede daquela casa, tinham tantas cores, um mural-mosaico. Pirambola de gigantes deteriorando. Fuga. Na mesmice, colore a ficção. Sou personagem criado por mim. Não existem fatos se alguém os descreve. Discussão antiga essa. Pulo trechos, linhas, deconverso, busco razões para escrever, mas hoje é domingo, pede cachimbo. Anoto num canto as frases soltas que me querem dizer alguma coisa. Palavra sempre tem o que dizer. No fatídico dia em que a palavra deixar de se resignificar, nosso verbo não mais se conjugará na palpitação latente que se chama língua. As pessoas julgam dom juntar palavra com palavra. Não sei se estão certas. Aliás, sei. E não estão. Cada tijolo significa. Na construção de uma casa, quem os usa os resignifica. O tijolo da mansão e do barraco são bem parecidos, quando não iguais. Mas daí garantir que a estética arquitetônica provida de um cérebro consciente, mente artística e acadêmica, gente que estuda pra criar casas fabulosas, garante um lar, daí é confundir alhos com caralhos. Talvez o dom seja esse aspecto: o lar. As paredes quase caídas, donde aparece o tijolo mal revestido, o vermelhão que esconde o cimento que resseca e sai com o pé, piso torto, podem esconder uma grande família, pode ser o habitat de alguém especial. Na unidade da obra que busco, vou me resignificando pra ver se algo muda. Vou estagiando no mundo meio invisível, de propósito. Vou cativando um por um, pra tentar provar pras pessoas que eu tenho coração. Já pensou? O dia em que o amor voltar? Como estarei eu? De porta aberta, pois sempre cri. As janelas donde imagens passam rapidamente te provam que você está saindo de um lugar e indo para outro. Quero ver enxergar isso parado, na mesmice de um dia frio, num domingo mesmo, onde o que se repete é a ordem, os programas. Domingo é dia de macarronada e família? É dia de andar pra frente. É dia de dar cambalhota pra ver o mundo de outros ângulos.